2014/10/31

De que é que está tudo à espera?

Estou 100% de acordo com este texto do Sérgio Lavos. Ocorrem-me várias perguntas, contudo. Em primeiro lugar, o que raio aconteceu para este Passos Coelho ter ganho o poder que ganhou? Qual foi, de facto, a causa do aparecimento e do protagonismo que ganharam estes "Passos Coelhos" todos? O que segura a tribo dos "Passos Coelhos"? Quem foi, ou melhor, quem foram os dr. Jekills que criaram estes mr. Hydes? Como exterminá-los a todos? Quem está, de facto, de acordo em exterminá-los e quem é que afinal gosta e a quem é que dá jeito a indigência mental de Passos Coelho? Será assim tão difícil remeter este bandalho e os seus apaniguados para a sua verdadeira dimensão? De que é que está tudo verdadeiramente à espera?

2014/10/27

WOMEX 2014: os caminhos de Santiago


Realizou-se, no passado fim-de-semana, mais uma edição da WOMEX (World Music Expo), por muitos considerada a maior feira de "Músicas do Mundo" do planeta e, certamente, a maior a nível europeu. Lá fomos, a "tribo womexiana", como é habitual em Outubro, desta vez em peregrinação a Santiago de Compostela, lugar mítico por excelência, onde todos os homens e mulheres de boa vontade devem ir, pelo menos uma vez na vida, expiar os seus pecados. Este ano, para além da catedral, a cidade de Santiago tinha ainda para oferecer quatro dias de feira, música, conferências, debates e filmes do Mundo, o que para um melómano nunca é coisa pouca. 
A acreditar no press-release oficial, teriam estado nesta 20ª edição da Feira, mais de 2400 delegados, entre empresários, agentes, produtores, editores, programadores e artistas, distribuidos por cerca de de 300 "stands",  22 conferências e 60 "showcases", para além das inúmeras actividades paralelas organizadas pela Nordesia e pelas Municipalidade de Santiago e Xunta da Galiza, em diversos lugares da cidade. Uma festa, desta vez galega, onde a organização e a hospitalidade local estiveram de mãos dadas para pôr de pé este evento que, pela quinta vez, chega a Espanha.
Dado ser a música a razão maior destes encontros, é nos "showcases" nocturnos que, após um dia de exaustivos contactos e negócios, os delegados se sentam para ajuizar dos nomes seleccionados por um júri de sete membros (os "7 samurais") que este ano receberam 900 candidaturas, donde sairiam os 60 "acts" finais.
Porque se tornaria exaustivo falar das dezenas bandas e solistas escutadas, escolhemos aqueles que, em nossa opinião, foram os melhores "showcases" da Feira. Em lugar de destaque, o projecto que dá pelo nome de Maru Tarang, um quarteto composto pelos australianos Jeff Lang (slide guitar, voz),  Bobby Singh (tabla) e pelos hindus Asin Langa (sarangi, voz) e Bhungar Manganiyar (khartal), que incendiou literalmente o Auditório Abanca, onde actuaram na sexta-feira de madrugada. Música de fusão, alternando entre os "desert blues" e a música cigana do Rajasthan, interpretada por quatro virtuosos nos respectivos instrumentos. Uma revelação, unanimemente aclamada pelos presentes.
Depois e num registro completamente diferente, o grupo coreano Noreum Machi, onde os seus elementos conjugaram uma alucinante técnica de percussão de tambores, com danças e expressões mais teatrais, na velha  tradição asiática. Excelentes, a merecerem os aplausos finais.
Se tivéssemos de escolher a banda de maior impacto desta feira, seria sem dúvida a Dzambo Agusêvi Orchestra, uma Brass-Band da Macedónia, composta por uma dúzia de trompetes e tubas que arrasaram literalmente Santiago. Violência musical e sonora em estado puro, de fazer ressuscitar um morto dos filmes de Kusturica. 
Finalmente, destaque para o excelente grupo húngaro "Sondorgó", um quinteto na melhor tradição musical eslava, com reportório de influências sérvia e croata, duas das maiores comunidades estrangeiras na Hungria. Todos multi-instrumentistas exímios, com destaque para os tocadores de violino e viola, para além da tambura, trompete, clarinete e acordeão, numa simbiose de sons inesquecíveis. A aguçar o apetite para Budapeste, cidade da próxima WOMEX.
Num plano muito bom, deve ser ainda referido o guitarrista Custódio Castelo, a merecer elogios e entrevistas para a rádio e televisão galega; a incontornável Uxia, nome maior da canção da Galiza; Cesária Évora Project, o colectivo  liderado por Nancy Vieira e Jenifer Solidade, formado na cidade da Praia para celebrar as canções da "diva" de pés descalços; "Spiro", um quarteto inglês de folk minimalista; Baloji, grupo de Rap e Hip-Pop de origem congolesa e belga, liderado pelo expressivo vocalista Baloji; Kareyce Fosto, jovem actriz e cantora camaronesa, de forte presença em palco, onde uma simples guitarra fez a diferença. Folk e blues africanos ao melhor nível. 
Porque a representação portuguesa, dada a vizinhança regional, desta vez esteve em peso, não podemos deixar de referir a "showcase" de Lula Pena (dentro do seu registo habitual) e o de Mariza, homenageada este ano com o prémio Womex 2014. Nas conferências, a presença do cantor Vitorino, que faria uma pequena comunicação sobre a canção revolucionária portuguesa através dos últimos dois séculos e os cantores António Zambujo e Ricardo Ribeiro, o primeiro integrado num programa Off-Womex dedicado à música Ibérica e o segundo convidado para falar sobre Fado.
Resta falar dos delegados de Portugal, mais de 30 este ano que, com ou sem "stands", confirmaram uma presença, cada vez mais visível neste importante circuito musical europeu. Para o ano há mais. Esperamos poder lá estar.
Adeus Santiago. Olá Budapeste!