2012/02/10

Honradez: parolice ou má fé

O grande argumento usado pela "laranjada", apêndices e demais apaniguados para o cumprimento dos acordos com a troika e para apertar o garrote ao povo português é o da honradez. "Assinámos" o acordo, dizem eles, os prestamistas estão a fazer o favor de nos "ajudar", argumentam, portanto, o que "Portugal" tem de fazer é submeter-se aos ditames deles, "cumprir" o acordo e mais nada. Honradez! O argumento é instalado, de forma mais ou menos subtil, no inconsciente dos portugueses, tentando dar uma patina moral a um problema imoral.
Sim, honradez, na nossa vida privada, no cumprimento das regras a que nos submetemos voluntariamente ou que, por via dos compromissos que assumimos de boa fé, nos cabe honrar.
Mas, o que devemos nós pensar deste argumento da honradez colectiva quando é justamente este pequeno grupo de vigaristas que nos conduziu a este lamentável estado de coisas, que o justifica por necessidade de obediência a princípios que nos implicam a todos? O que pensar deste grupo de vigaristas que aperta o garrote à generalidade do povo português, em nome de princípios falaciosos, repetidos até à exaustão, mas que passa impune às suas responsabilidades sobre aquilo que agora tentam corrigir e escapa aos efeitos da suas próprias medidas? O que devemos nós pensar dos que estabeleceram esses princípios sem legitimidade inequívoca para o fazer, mentindo ou iludindo os portugueses sobre os seus propósitos quando se apresentaram a sufrágio? O que devemos nós pensar dos que dizem que têm de os cumprir, mas que, para se furtarem à legítima ira dos que têm de sofrer os seus injustos efeitos, dizem não estar de acordo com eles? E o que devemos nós fazer quando se mete pelos olhos dentro que a aplicação destes princípios coloca em perigo, justamente, o seu próprio cumprimento ao impedirem a única solução que este problema tem, i.e., impedirem os geradores de riqueza –os únicos capazes de resolver o problema que o Estado criou– de cumprir o seu papel? O que buscam? O incumprimento, para assim melhor exercerem o seu livre arbítrio? Quase que somos então levados a concluir que o acordo foi estabelecido de má fé logo para começar, para melhor suscitar o seu incumprimeto e justificar a continuação do garrote...
Que raio de estúpido argumento é este da honradez colectiva?
O argumento é duplamente inaceitável. Se usado no pressuposto de que há má fé, os seus proponentes devem simplesmente ser levados à Justiça pelo mal que estão a causar. Se os seus proponentes o estão a fazer de boa fé, o argumento revela então uma mesquinhez indigna de quem é responsável pela governação de um país. É, digamos, um argumento piegas...
O sentido da honradez não pode ser aplicado a um povo. É pequenino demais e, dir-se-ia, meio parolo,  aplicar este conceito a um fenómeno desta escala. Um estado não é um indivíduo. Os conflitos, dilemas e contradições individuais são resolvidos pelo indivíduo, com implicações para ele e para o círculo restrito de indivíduos com quem mantem relações. Um estado é uma entidade complexa, cujos conflitos, dilemas e contradições, por transcenderem os indivíduos no espaço e no tempo, têm de ser resolvidos por estruturas supra individuais. É para isso que existe a Justiça, é para isso que existe o Estado, garante da aplicação da Justiça. O conceito da honradez aplicado a um povo é um absurdo tão grande como tentar curar um cancro transformando todas as céluas do corpo em células malignas. Ou, vendo a metáfora por outro lado, impedindo os sistemas de defesa do corpo de exercerem o seu papel de modo a preservar o cancro, custe o que custar...
A Islândia é um exemplo que ilustra de forma excelente o modo correcto de lidar com estas questões. E ninguém pode acusar o Povo Islandês de falta de honradez.
Portugal está a ser um mau exemplo.

2012/02/07

De que é que te queixas, pá?

Baixaram-te o salário? Tiraram-te metade dos subsídios? Perdeste metade da reforma? Pagas mais taxas nos hospitais? Foste despedido? Acabou o teu subsídio de desemprego? Diminuiram o teu Rendimento Social de Inserção? Deixaste de poder pagar a prestação da casa? Dependes do Banco Alimentar para comer? Já dormes na rua? A tua empresa foi à falência? Não arranjas emprego? Vais emigrar? Vão tirar-te os feriados?...
Não vês que é tudo para teu bem? Não sejas piegas, pá!