2009/05/08

Lealdade e apoio

Basílio Horta, o circunspecto e respeitável presidente da API e o homem a cujos calcanhares Paulo Rangel não chega --a não ser que se deixe seduzir pela campanha de promoção do produto que a Maizena entendeu aproveitar para fazer-- já veio agradecer a "lealdade e o apoio" dados pelo ministro Pinho.
A Maizena, segundo se diz, pensa já lançar dois novos produtos no mercado: a Maizena Lealdade, para crianças difíceis, e a Maizena Apoio para crianças carenciadas...
Entretanto, a famosa marca Dr. Scholl's vai lançar uma linha de produtos para calcanhares, em complemento dos conhecidos produtos para o cuidado dos pés... Aguarda-se com ansiedade um produto desta nova linha, feito a partir de chá mexido com colher de prata...
É o regresso do comércio tradicional & dos produtos da nossa infância!

2009/05/07

A CIP quer-se fazer ouvir

O presidente da CIP defende uma coligação. É uma das "medidas" preconizadas para vencer a "crise" e faz parte de um conjunto que consta de um documento apresentado publicamente hoje que vai ser posteriormente entregue ao governo.
Para justificar a coligação, Van Zeller diz estarmos perante uma posição de "abuso de posição dominante" por parte do governo da maioria. Bloco central, ou outra qualquer solução, apressa-se a esclarecer, para dissipar dúvidas osbre se está ou não a fazer política. Porque a CIP, alerta, não é um orgão político... Sabendo que defendeu recentemente uma solução de bloco central e tendo em conta que, como ele diz, "talvez uma coligação transmitisse melhor as nossas preocupações e talvez nos fizéssemos ouvir melhor", é fácil perceber que tipo de coligação o presidente da CIP tem em mente.
Não está certamente a defender uma coligação PS-Verdes...
Ou seja, contra uma solução governativa a solo, prepotente, a CIP vê com bons olhos uma outra solução governativa baseada na mesma maioria abusadora, que agora nos governa, retocada por uma minoria totalmente incompetente, inoperante, que falhou totalmente o simples exercício do seu papel como oposição.
Aqui está o melhor que os capitães da indústria portuguesa conseguem produzir para melhor se fazerem ouvir. É aliás um belo enquadramento para o resto das sessenta propostas da CIP e revela a sua visão e noção de responsabilidade social.
E a avaliar pelo ar solene e pomposo da apresentação, pretendem ser levados a sério...

2009/05/06

Duas Cruzes

Dias Loureiro, esse grande amnésico compulsivo, acaba de acrescentar mais uma metáfora ao seu discurso hiperbólico. Já era dele o célebre "pai, sou ministro!"; mas recentemente tornou-se célebre por ter declarado que "não se lembrava do que assinava". Ontem, acrescentou que assinava de "cruz" os negócios do BPN. Lê-se e não se acredita!
Com tantas "one-liners" arrrisca-se mesmo a tornar-se um clássico e, pior do que isso, criar jurisprudência: a partir de agora, todo o alegado criminoso (independentemente da cor do colarinho) pode dizer que não se lembra. Quem é que vai condenar um amnésico?
Quando o oiço falar lembra-me sempre uma história que me contaram em Itália: certo dia um siciliano dirige-se ao notário para fazer uma escritura e, quando chega a hora de assinar, declara que não sabe escrever. O notário sossega-o e diz-lhe para fazer uma "cruz", que é suficiente. O homem concorda e faz duas "cruzes". Mas, porquê duas, pergunta o notário? O homem sorri e diz: "dottore!...".

2009/05/05

Chá, Maizena e calcanhares

Alguém deveria explicar ao dr. Manuel Pinho que não fica bem a um Ministro da República dizer de um deputado da Assembleia da República que este tem de comer "muita papa Maizena" para chegar aos calcanhares de um alto funcionário do Estado Português. A papa Maizena não será bitola apropriada para ser usada em comparações entre figuras de Estado, por uma outra alta figura do Estado.
O chá sim! O chá é um instrumento legítimo para estabelecer comparações. É perfeitamente possível, por exemplo, detectar a presença ou ausência desta substância numa tentativa de escalada rumo ao cume do calcanhar alheio.
No caso vertente verifica-se que, em matéria de chá, os calcanhares do ministro Pinho são de Aquiles...

O Bloco Central de Interesses

Anda para aí uma grande excitação a propósito das últimas declarações de Jorge Sampaio por este ter sugerido a criação de uma coligação dos partidos do "centro", única forma (segundo ele) de garantir alguma estabilidade governamental e para ver se "saimos disto" - sendo "isto" a situação a que Portugal chegou, depois de anos de desgoverno dos partidos que governaram ao "centro".
A mensagem (subliminar) de Sampaio vem no seguimento de outras opiniões no mesmo sentido (Van Zeller, Belmiro de Azevedo, António Mexia, Mário Soares) e circula entre diversos "capitães da industria" e banqueiros falidos do "sistema".
Curiosamente, ou talvez não, quem de imediato recusou tal coligação (o chamado "bloco central") foram os partidos do "centro", pondo de parte a ideia, remota que fosse, de alianças interpartidárias.
Compreende-se: para o PS, só interessa a maioria absoluta, única forma de continuar a legislatura vigente; para o PSD, só interessa opôr-se ao actual governo, única forma de capitalizar a insatisfação crescente na sociedade portuguesa.
Não será, pois, de esperar qualquer modificação nas estratégias de ambos os partidos até às eleições.
Acontece que entre as estratégias partidárias e a realidade eleitoral, vai uma grande distância. A acreditar nas sondagens que de há um ano a esta parte têm vindo a ser publicadas (nomeadamente as da Universidade Católica, tidas como as mais fiáveis) tudo aponta para uma vitória do PS, mas sem maioria absoluta. Neste cenário, resta ao PS governar em minoria (a exemplo do que fez Guterres entre 1995 e 1999), governar através de acordos pontuais (como tentou Guterres entre 1999 e 2001) ou coligar-se à esquerda (com o BE, por exemplo), cenário que está longe de ser consensual.
Numa situação de maioria relativa do Partido Socialista e uma subida acentuada do PCP e do BE, não faltará quem advoge um governo abrangente de esquerda. Isso seria natural se o PS fosse de esquerda o que, manifestamente com Sócrates, há muito deixou de ser. Não é de excluir a ideia de um afastamento de Sócrates (por iniciativa própria, ou por pressão interna) para facilitar uma maior convergência à esquerda. Mas, o mais natural é - com Sócrates ou sem ele - que o PS seja pressionado pelo Presidente da República a coligar-se à direita. Nessa altura, o parceiro menos natural será o CDS-PP, aparentemente em queda eleitoral. Resta, pois, o PSD, eventualmente com melhor votação do que hoje muitos vaticinam.
É aqui que as declarações de Sampaio, podem ganhar actualidade. Apesar de todos dizerem que não desejam o "bloco central", os interesses do "sistema" acabarão por prevalecer numa sociedade pouca dada a mudanças e conservadora por natureza. É um pouco como a história do lobo: de tanto gritar por ele, quando vier ninguém acreditará...