2010/03/19

Desculpem o atraso...

Foi anteontem lançado o Sidereus Nuncius, O Mensageiro das Estrelas, o clássico livro onde de Galileu dá conta das suas observações astronómicas, publicado há 400 anos. Uma edição magnífica da Fundação Calouste Gulbenkian.
A tradução portuguesa demorou 400 anos... Mais ainda do que o tempo que levou à Igreja Católica a pedir desculpa pelo tratamento miserável que deu ao ilustre e, seguramente, mais inovador representante da Revolução Científica dos séculos XVI-XVII.
Este atraso de 400 anos explicará, quiçá, o nosso estado actual e a dificuldade com que se debatem as nossas tentativas de recuperação, quase sempre baseadas em pressupostos obsoletos e ideias tacanhas.
Já agora, para quem gosta da figura, recomendo a leitura de um livro chamado Galileo's Dream de Kim Stanley Robinson. Ficção à volta da figura de Galileo.
O que não é ficção é o Sidereus Nuncius. O centro do Universo não é afinal a Terra... Quem havia de dizer, ao fim de todo este tempo!? Eppur si muove...

2010/03/18

Rolhas, Tenazes, Purgas e Exclusões

Desde o passado domingo que a célebre "lei da rolha" vem animando os espaços de opinião daqueles que defendem a plena liberdade de expressão. Como não podia deixar de ser, o PS julgou ver aqui uma oportunidade para desviar as atenções das acusações que são feitas ao governo neste capítulo, acusando o PSD de falta de espírito democrático. Acontece que estes partidos - todos - têm telhados de vidro e, ainda mal os "campeões da democracia" tinham começado os ataques, já um excluido autarca de Matosinhos vinha denunciar práticas internas que tão bem conhece. No PS, a "Lei da Rolha" chama-se "Tenaz" e os militantes críticos são purgados à boa maneira estalinista. Narciso Miranda, pois é dele que se trata, prometeu mais revelações e a coisa promete não ficar por aqui. Pelos vistos, ele não foi a única vítima e a lista de "purgados" é extensa.
Já tinhamos as vítimas do fascismo e do comunismo. Temos agora os "excluídos" dos partidos do centrão, "impolutos" campeões da liberdade e da democracia. Desta forma, ficam todos na mesma fotografia. A fotografia da "rolha" e da "tenaz", da "purga" e da "exclusão", da intolerância e da censura, da hipocrisia e da mentalidade fascista e totalitária que sempre os caracterizou. Todos diferentes, mas todos iguais, afinal.

2010/03/17

Plano de Empobrecimento Colectivo

Ouvir Pedro Adão e Silva dizer que o actual PEC é um documento alheio ao ADN do Partido Socialista, diz mais sobre a deriva ideológica que grassa actualmente no partido do governo de que todas as críticas que os partidos da oposição possam vir a fazer ao programa de estabilidade e crescimento anunciado. O jovem turco do PS não podia ser mais claro: o documento não só contradiz as promessas eleitorais do PS (não aumentar impostos, aumentar o investimento público e reduzir despesas) como - mais uma vez - vai sacrificar a larga maioria do assalariados portugueses, agora eufemisticamente denominados de "classe média", e que são quem vai pagar uma crise da qual não têm culpa alguma. Pior, as deduções fiscais anunciadas, vão atingir principalmente os grupos mais desfavorecidos da sociedade portuguesa: desempregados, reformados com pensões baixas e dependentes do subsídio de inserção social, para não falar dos desempregados de longa duração, os quais não têm qualquer espécie de apoio após os meses de subsídio a que têm direito. Qualquer coisa como dois milhões de pessoas.
"Medidas de direita que o CDS subscreveria", as palavras são de Adão e Silva e, a avaliar por outras vozes dissonantes dentro do seu partido (Paulo Pedroso, João Cravinho, Maria de Belém), uma prova de que o socratismo já nem os seus soldados consegue motivar. Resta saber se, no PS, há gente suficiente que se reconheça nestas palavras, ou se o partido vai prosseguir no caminho autista que vem trilhando de há cinco anos a esta parte. Para já, as notícias não são animadoras e não parece existir plano que melhore as projecções conhecidas. O único plano conhecido é mesmo o do empobrecimento nacional.