2020/06/09

Doze semanas noutra cidade: Espanha a desconfinar com ajudas a aumentar


A transição espanhola para o desconfinamento total continua a bom ritmo, ainda que nem todas as regiões do país estejam na mesma fase.
Globalmente, passaram à fase 3 (a mais adiantada) as ilhas, as regiões do Sudoeste, do Norte e do Nordeste do país, enquanto na fase 2, permanecem as regiões da Catalunha, Valência, Madrid, Castilla-Léon e Castilla-La Mancha, onde, apesar da diminuição do número de infectados, continua a verificar-se a maior concentração de casos de Coronavírus.
Nesta terceira fase, ontem iniciada, já são permitidas passeios e actividades físicas sem horário; abertura do comércio a 50%; esplanadas a 75%; abertura de centros comerciais a 40%; mercados de rua a 50%; grupos turísticos até de 30 pessoas; espectáculos culturais e museus a 50%; treinos desportivos na ligas profissionais; casinos a 50%, bodas e funerais, limitados a máximos por espaço disponível. Também a mobilidade entre províncias (dentro da mesma região), passou a ser permitida  na Fase 3. Em termos práticos, isto significa que, numa região como a Andaluzia (8 províncias), os habitantes de Sevilha, onde me encontro, já podem ir à praia a Huelva ou Cadiz, onde muitos têm uma segunda casa e passam férias no Verão. São esperados milhares de veraneantes nas próximas semanas.
Após 3 meses de confinamento, a abertura de bares e esplanadas provocou uma corrida aos poucos lugares disponíveis, com longas esperas junto às mesas ou, em alternativa, reservas com antecedência, uma prática habitual por estas bandas. Nada que desmotive os sevilhanos e o seu ritual de "tapas" e "cañas" diárias, ainda que - sem turistas estrangeiros - a cidade esteja longe da alegria e movida habituais. Disso mesmo se queixa a hotelaria e a restauração, as áreas que mais sofreram com a crise pandémica. Também muitos bares e pequenos estabelecimentos de bairro, continuam encerrados, o que pode indiciar encerramento definitivo por falência ou incapacidade económica.
Após o programa de ajuda europeu, acordado na passada semana em Bruxelas, Christine Lagarde (BCE) veio esta semana anunciar um novo reforço de 600.000 milhões de euros, que o governo espanhol não deixará de aproveitar para distribuir pelas populações e regiões mais afectadas.
As regiões têm, agora, autonomia para gerir o dinheiro disponibilizado pelo governo (16.000 milhões de euros) com a condição de  reservarem 70% do novo fundo para saúde e para a educação. Simultaneamente, o parlamento espanhol aprovou a lei do "Ingreso Mínimo Vital" (IMV), um ordenado-base mínimo de €462 para indivíduos ou €1.015 para casais com 2 filhos. Uma medida histórica, saudada por todos as formações políticas e sindicatos, que possibilita a ajuda imediata a 850.000 famílias a viver no limite da pobreza.
Menos pressa, parece ter o governo em abrir as fronteiras terrestres. Apesar dos desejos manifestados pelos governos francês e português, Sanchéz mantêm-se cauteloso e, depois da ministra de transportes ter anunciado a abertura de fronteiras para 21 de Junho (data prevista para o fim do confinamento), o governo espanhol voltou atrás na decisão e, no mesmo dia, reafirmou a intenção de só abrir as fronteiras a 1 de Julho. De nada valeram os amuos em Portugal e em França, já que ambos os países dependem de Espanha para poderem abrir as suas fronteiras. O mesmo não se passa com Itália, portanto um dos países mais infectados pela pandemia que, entretanto, anunciou a abertura das fronteiras para o dia 15 de Junho. A questão fronteiriça está, de resto, a provocar uma discussão a nível europeu, uma vez que nem todos os governos seguem os mesmos critérios, o que pode provocar problemas de tráfego entre países que não fazem parte de Schengen e se regem por leis de circulação diferentes, como é o caso do Reino Unido, cujos súbditos podem viajar para Portugal, ao abrigo de um acordo unilateral entre os dois países. Como convencer um europeu, que o perigo de contágio no seu país é diferente do perigo de contágio noutro? Então, o vírus não é o mesmo?...