2014/02/22

O Mundo anda estranho...

Não são boas as notícias que nos vão chegando através dos orgãos de comunicação social. Para além da crise nacional, que continua a fustigar a maioria da população portuguesa e para a qual não parece haver solução conjuntural, somam-se agora as crises internacionais, algumas delas bem mais "europeias" do que podem parecer. Da Síria à Venezuela, passando pela Ucrânia, o espectro de guerra civil ganha terreno em todos os países, ainda que as causas sejam diferentes. Se algo há de comum à realidade destes regimes, é a natureza dos seus governos, de tendência dictatorial e populista, como também é habitual nestas situações. Para além dos regimes (et pour cause) estão outros interesses, que manipulam na "sombra" (quando não à descarada) os peões locais que servem a sua estratégia geopolítica.
É o caso da Síria, onde um conflito que surgiu na seguimento da "Primavera Árabe" tem vindo a alastrar a toda a região, seja pela intransigência do tirano local, seja pela ingerência dos principais blocos políticos, que tentam ganhar dividendos com a contenda. No meio, como sempre, restam os deserdados da terra, hoje milhões, espalhados pelos campos de refugiados dos países vizinhos. Depois, a Venezuela, um país dividido ao meio, onde a classe dirigente, após ter ganho a simpatia da maior parte da população mais pobre (devido às medidas implementadas por Chavez) está confrontada com a maior crise social e económica dos últimos anos, apesar da riqueza natural do país (petróleo) que continua a ser o factor maior de destabilização da região. Sem o carisma do falecido presidente, Maduro parece ter enveredado por um caminho ainda mais populista e autoritário do que o seu antecessor, o que não augura um futuro melhor para o país. Neste quadro, os EUA estarão à espreita e não é improvável que a sua influência já seja grande entre a oposição local. Finalmente, a Ucrânia. O segundo maior país da Europa depois da Russia é, desde tempos imemoriais, uma região tampão na Europa Central que, por razões culturais e políticas, sempre foi disputada pela Russia e pela Europa. Também aqui, a independência, conquistada há pouco mais de 20 anos, veio acelerar o desejo de parte significativa da população em pertencer à UE. Essa corrente, que esteve na origem da "revolução laranja", tão exaltada no Ocidente, não só não é representativa de todo o país, como nunca teve o apoio da Russia de Putin. Que o actual presidente ucraniano, democraticamente eleito, tenha impedido um acordo comercial com a UE, devido à pressão russa, é um acto que uma parte da população não lhe perdoa. Quando os interesses ocidentais exploram este desencanto e apoiam indirectamente os movimentos mais nacionalistas e de extrema-direita no país, para derrubarem o regime, é de temer o pior. As aparentes tréguas, hoje assinadas, não são a garantia de que o perigo de uma guerra civil esteja totalmente afastado. Na Ucrânia, joga-se por estes dias uma parte importante do futuro europeu.
E em Portugal? A avaliar pela missa partidária em curso numa sala lisboeta, este fim-de-semana, nada parece ter mudado. O Mundo roda, mas o país parece estático. Ou, como sintetizou um conceituado orador do evento: "O país está melhor, apesar das pessoas viverem pior". Perante tal desconchavo, vêem-me à memória as premonitórias palavras escritas nos muros de Maio de 68: "Deus não existe, Marx morreu e, eu próprio, já não me sinto lá muito bem..."