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EPA/SEBASTIAO MOREIRA |
Os candidatos mais bem posicionados para passarem à segunda volta, são: Jair Bolsonaro, que representa a extrema-direita mais reaccionária e troglodita do país (apoiado pelos militares saudosistas da ditadura, pela alta-finança e pelas igrejas evangélicas, das quais, a IURD de Edir Macedo, é a mais conhecida); e Fernando Haddad, lançado à última hora pelo PT, em substituição de Inácio Lula, impedido de concorrer por se encontrar preso.
De acordo com as últimas sondagens, Bolsonaro passará à segunda volta com cerca de 30% dos votos, enquanto Haddad, com cerca de 20%, já se distanciou dos outros concorrentes, ainda que continue longe dos 38% atribuídos a Lula, em finais de Agosto.
Perante este cenário e partindo do princípio que a maioria dos votantes não se revê em nenhum dos dois potenciais candidatos, resta saber em quem votarão os brasileiros (cerca de 50%), que rejeitam o fascismo e o PT. Porque é disso que se trata, goste-se ou não da escolha.
Uma terceira alternativa, seria a abstenção, mas a constituição brasileira não o permite e o voto é obrigatório. Logo, quem não votar é multado e quem votar em branco favorece o candidato mais bem posicionado, neste caso Bolsonaro. Para mim, que defendo a democracia, a escolha seria fácil. Da mesma maneira que, se fosse americano, teria votado em Hillary Clinton, um mal menor relativamente ao escroque Trump.
Para grande parte da classe média brasileira, o "problema" parece residir no PT, que continua a gerar anti-corpos, muito por causa da corrupção generalizada, da criminalidade e da recessão económica, que o país atravessa de há anos a esta parte. Acontece que, estes problemas, sendo genuínos e reais, não se devem exclusivamente aos governos PT, por uma razão simples: o Brasil é, de há séculos, uma sociedade de "castas" e clientelas, onde a corrupção se tornou "um modo de vida" e o sistema de subornos e nepotismo criou e manteve uma das sociedades mais desiguais do planeta. Esta herança de séculos, que o PT tentou contrariar (sem nunca tocar nos privilégios das elites!), através de programas de combate à desigualdade - elogiados pela ONU, pelo PNUD, pela UNESCO e pelo Banco Mundial - não foi, contudo, suficiente para evitar uma crise social e económica. Os sucessivos escândalos de suborno e corrupção (Mensalão, Odebrecht, Petrobras, etc.) demonstraram à saciedade, que algo estava "podre no Brasil" e não era pouco. O processo de investigação, conhecido por "Lava Jato" (uma alusão à "lavagem" de dinheiro desviado) deu cabo das últimas esperanças do brasileiro médio, pouco politizado e manipulado por uma imprensa sensacionalista, que deixou de acreditar nos políticos. O desemprego galopante, a inflação e a recessão, que se seguiram, fizeram o resto. Perante a descrença total e sem soluções à vista, a panaceia para todos os males parece ser um homem "forte", de preferência militar. Falta-lhe o bigode, mas o filme é conhecido.
Alguém, nas redes sociais, dizia por estes dias que existem dois tipos de anti-petistas: os ideológicos e os patológicos. Penso que, a maior parte, pertence ao segundo grupo: não interessa em quem se vota, desde que o PT perca! No limite, muitos deles, nem gostarão de Bolsonaro, mas como é o único que pode impedir a vitória do PT, então, votam nele (!?).
Há claro, forças interessadas na sua vitória: desde logo os militares, saudosistas do tempo da ditadura (1964-1985) que vêem aqui uma oportunidade de sair dos quartéis; depois, há os evangélicos de diversa plumagem, que dão indicação de voto aos "fiéis", argumentando que o capitão psicopata defende os valores da família e do cristianismo (!?); finalmente, a finança, que controla a banca, as grandes empresas e domina a comunicação social (Globo, Veja, Data Folha, TV Record, etc.).
Ora a finança (vulgo "mercados") está interessada numa ditadura, a melhor forma de controlar a economia. A "economia" sempre se deu bem com o fascismo, pois é a melhor maneira de manter os trabalhadores submissos. Claro que o fascismo tem a "perna curta" e, no médio prazo, acabará por cair, mas isso não interessa nada aos neoliberais, desde que o "mercado" funcione. Por alguma razão, Bolsonaro já anunciou que não percebe nada de economia (em rigor, ele não sabe nada de coisa nenhuma) e, por isso, nomeará para "ministro da fazenda", o célebre Paulo Guedes, um rapaz da "Escola de Chicago" que, em tempos, foi conselheiro de Pinochet...
Conheço, inclusive, brasileiros cristãos, casados e com filhas, que vão votar em Bolsonaro, apesar do seu discurso onde defende a pena de morte, a tortura, a violação, a misoginia, a homofobia e o racismo. Para essas pessoas, isso não interessa nada. O que interessa, agora, é impedir que o PT volte ao poder. Depois, logo se vê...
É como a história de Mephisto (Fausto): vendeu a alma ao diabo, acreditando na sua salvação.
Depois...fodeu-se!