2022/06/12

Mudam-se os tempos, mas não se mudam as vontades

 


Mão amiga chamou-me a atenção para um livro recente sobre Churchill e apontou-me este artigo sobre a controversa figura. Parece não merecer contestação que, como refere o artigo citado "A Grã-Bretanha entrou na guerra, afinal, porque enfrentava uma ameaça existencial e não, principalmente, porque discordava da ideologia nazista."

Mas, entrou!

Uma "geringonça" ainda mais improvável, que uniu um anticomunista, meio racista, um trafulha, inspirador dos imperialistas hodiernos e o rebitador da "cortina de ferro," derrotou o palhaço do bigodinho,  E quando vejo agora a von der Leyen a pousar sorridente ao lado do Zelensky, tremo. E quando me lembro dos Edwards e outras figuras do género —"aristo-fascistas," como lhes chamam no artigo — volto a tremer. Este quadro está hoje bastante mais carregado.


 

E, pergunto-me: onde poderemos encontrar na Europa de hoje um Churchill que bata o pé aos novos Edwards, que por aí pululam, apesar das enormidades, das atrocidades que aquele cometeu noutros sítios, em nome do Império e de uma ideologia duvidosa, que não escondia a sua origem de classe? Certamente que não no Largo do Rato...

É que entre o pintor falhado e o comediante da treta e as respectivas entourages, há mais perturbantes semelhanças do que se pensa, mas ninguém com a estatura do controverso Churchill. Pousar junto a qualquer uma dos protagonistas deste conflito, fora da mesa da negociação, não augura nada de bom. Os pintores falhados tiveram o fim que mereciam. Mas o que fazer a estes comediantes da treta que agora dominam a engrenagem?  Repare-se que os mandantes, esses, continuam, então como agora, a ser exactamente os mesmos.

Que estamos à beira de uma catástrofe, já deu para perceber.

"Check-Up"


Acontece aos melhores. 

Dirijo-me ao Centro de Saúde António Arnauth, recentemente inaugurado, para marcar uma consulta com o meu médico de família. Passada a triagem inicial (senha e tal...) sou chamado ao "guichet" para marcar a consulta. Não pode ser quando eu quero, mas um mês mais tarde...como não era urgente, aceito a data proposta. Estamos em Abril deste ano.

Semanas mais tarde, perante o médico, este faz-me a pergunta clássica: "Então, qual é a queixa?". 

- Nada em especial. Acontece que tenho por hábito fazer um "check-up" regular e há três anos que não faço nenhum, devido à pandemia de Covid e à sobrecarga nos hospitais. Pensei que estava na altura de retomar a rotina...

E faz muito bem. Então, diga lá quais os exames que quer fazer...

- Bom, para além das análises habituais, sangue, urina, psa, etc..., exame cardiológico (electro-cardiograma),  radiológico (pulmões) e ecografias (rins, estômago...). Parece-me que é tudo...

Sim senhor. Só um momento, para escrever e imprimir. Quando tiver os resultados não se esqueça de passar por cá outra vez...

Passadas umas semanas, dirijo-me ao Hospital mais próximo, no caso uma extensão do "Lusíadas", uma cadeia de hospitais privados da região de Lisboa. Uma vez chegado e passada a triagem, dirijo-me ao balcão das marcações. As análises eram num edifício e as radiografias noutro. A funcionária, olha-me com ar de comiseração e pergunta-me se desejo fazer o "check-up" num dia só, ou se pode ser em dias separados...

- Bom, se puder ser num só dia, ou em datas próximas, preferia...

Pois é, mas no mesmo dia, só tenho datas livres em Setembro...posso marcar-lhe as análises em Junho e as radiografias em Agosto...Pode ser? 

- Que remédio. Então marque já para as datas que tiver livres. 

Imprime as respectivas marcações e agrafa-as em separado. Faço uma leitura transversal da papelada e volto para casa.

Na data indicada, regresso ao hospital para fazer as análises e duas radiografias marcadas para esse dia. A funcionária que me atende examina os papéis e diz-me: "Não estão aqui os pedidos do médico para as radiografias de hoje. Sem pedidos, não podemos fazer os exames. Volte ao andar de baixo e veja lá com a minha colega das marcações. O resto pode fazer aqui". 

Dirijo-me ao laboratório de análises. A enfermeira olha para mim e pergunta-me pela amostra de urina e se tinha comido alguma coisa de manhã...

- Não trouxe nada e comi esta manhã. Ninguém me disse nada e nas marcações não estava escrito que devia vir em jejum..

Bom, nesse caso, diga-me do que constou o seu pequeno-almoço. Acha que tem vontade para urinar outra vez, mesmo que seja pouco?...

-  Ok. Hei-de arranjar vontade. Com vontade, tudo se consegue...

Quando voltar a falar com o médico, explique-lhe o que se passou, porque os valores podem não estar correctos (açúcar no sangue, ácido úrico...). Se ele pensar que tem de fazer novos exames terá de cá voltar...

Saio dali e dirijo-me ao andar de baixo para fazer as radiografias. Mesma questão: sem guia do médico, nada feito. Onde estavam os pedidos do médico?

- Só trouxe comigo as marcações para hoje. As outras, são para o dia 1 de Agosto...

Ah, que pena. E mora perto? Se quiser ir buscá-las, eu guardo aqui a sua senha e pode fazer as radiografias esta tarde...

Saio a correr, apanho um táxi, vou a casa buscar as guias médicas e regresso meia-hora mais tarde. Desço à cave e mostro triunfante os pedidos do médico; "Aqui estão os pedidos!".

Mostre cá. Claro, já percebi, a minha colega das marcações agrafou mal as receitas e estão com as datas trocadas. Ainda bem que guardei a sua senha. Não se preocupe, entra já, depois daquele senhor. Espere que o chamem pelo número. 

Assim foi. Dez minutos mais tarde, estava a ser chamado. Duas radiografias e estava na rua. Os resultados iriam ser comunicados através de um SMS no meu telemóvel ou, se preferisse, podia ir buscá-los em mão. Volto ao primeiro edifício e falo com a funcionária das marcações. Pede-me desculpas pelo erro e pergunta-me o que desejo. 

- Bom, queria saber se é possível alterar os exames ECG e as Ecografias, marcados para 1 de Agosto, pois estou de férias nessa data. Pode ser para mais tarde...

Claro, não há problema. o dia 8 de Setembro é a data que tenho livre. Convém-lhe?

- Que remédio. Já estou por tudo...

Agradeço, recolho o papel com a nova marcação e volto para casa. Passados dois dias tinha o resultado das análises e das primeiras radiografias no telemóvel. Volto ao Centro de Saúde, para marcar nova consulta com o médico de família e mostrar-lhe os resultados. O funcionário que me atendeu, olha para mim e diz-me com ar paciente: "Dia 1 de Julho, às oito da manhã. É o primeiro do dia. Não se atrase..."

- Não pode ser antes? É só para mostrar umas análises...

Oh amigo, isto aqui não é quando a gente quer! Para além disso, o médico também vai de férias. Veja lá bem.

- Pronto, pronto. Dia 1 de Julho, está perfeito.