2022/10/11

Taxi Driver (25)

 

Bom dia, para onde vamos? 

-Para o Rossio. É preciso pôr a máscara? 

Não, já ninguém põe isso. Mas se quiser pôr...

- De facto, já quase ninguém usa, mas como é um transporte público...

Eu deixei de usar. Claro que se for num hospital ou num espaço pequeno, por muito tempo, é melhor ter cuidado. E depois, as vacinas, há quem tome e quem não tome. O senhor já tomou?

- Eu tomei já 4 doses e 2 contra a gripe. Melhor é impossível.

Então, está melhor que eu. Só tomei 3 doses, mas conheço pessoas que nunca tomaram e não morreram e outras que tomaram e morreram...

- Certo. Tem a ver com muitos factores: imunidade, patologias associadas, idade, estilo de vida, sei lá...

Isso mesmo. Há países, onde as pessoas morrem aos milhões. Também tem a ver com os cuidados de saúde...

- Claro. Só nos Estados Unidos morreram milhões, devido aos negacionismo e a Trump, que negava a ciência. O mesmo aconteceu no Brasil, com Bolsonaro, onde, oficialmente, morreram mais de 700.000 pessoas. Um crime.

Oficialmente, diz bem. Sabem eles bem, quem morreu de Covid, nesses países...bastava ver as valas abertas nos cemitérios...

- Uma coisa é certa, é sempre melhor estar vacinado. Se não houvesse vacinas, teriam morrido muitos mais. 

Claro. Veja só os milhares de operações e consultas que ficaram por fazer, durante a pandemia. Os hospitais só tratavam do COVID. As outras patologias, ficavam para trás...

- Sim, ainda hoje os serviços não recuperaram. Fiz, há pouco tempo, diversos exames pelo SNS e só paguei 25 euros. Claro que tive de esperar 3 meses, para fazê-los todos. Se os tivesse feito pelo privado, podia fazê-los no mesmo dia, por 300 ou mais euros...

Uma vergonha, a saúde em Portugal. Em vez de ajudarem os mais necessitados, mandam as pessoas todas para o privado, pois é aí que estão os lucros...

- Exactamente. É o "sistema americano", que está divido em "Medicare" (para quem tem seguro de saúde) e o "Medicaid" (para quem não tem). Calcula-se que, 40% do sistema de saúde em Portugal, já está nas mãos do privado. 

Está a ver? Como é possível isso? E anda este governo a prometer "mundos e fundos"... Ainda agora me deram uma esmola de 250 euros (meia pensão), mas para o ano vão congelar tudo. Este Costa é um mentiroso. A mim já não me engana mais...

- Pois, mas o PS nunca enganou ninguém...

Mas, em quem é que devemos votar? Ninguém se aproveita. Qualquer dia, deixo de votar...

- Isso, não resolve nada. Se não votarmos, ainda será pior, pois podem governar à vontade...

O problema é que não são só os partidos que são maus. Isto é tudo uma quadrilha. Depois, põem no governo os amigos e os familiares e fica tudo em "família". O mesmo se passa nas empresas e nos bancos. Só há trabalho garantido para os amigos...

- Certo. As clientelas e o nepotismo, são um cancro da sociedade portuguesa. 

Não é só na sociedade portuguesa. Veja lá na Rússia ou na Coreia do Norte. Quem não estiver de acordo, vai para a prisão ou é morto. Até no estrangeiro, matam os opositores. Não viu aquele programa na televisão sobre as esquadras chinesas no estrangeiro? Para que servem?

- Por acaso vi. Em Portugal, detectaram três dessas "esquadras". Segundo a reportagem, há dezenas em todo o Mundo. Destinam-se a identificar os opositores do regime e a devolvê-los à China, ou a fazer chantagem, exercendo represálias sobre os familiares na China...

E o senhor acredita nisso? 

- Não me custa a acreditar. São ditaduras, é mais fácil controlar a dissidência...

Pois é. Mas aqui, vivemos em democracia e os aldrabrões incriminados, como esse Salgado e o Sócrates, andam à vontade há oito anos e continuam a aguardar julgamento. Eles protegem-se uns aos outros. Têm dinheiro e bons advogados e nunca mais são julgados...

- É verdade. A justiça em Portugal, perdeu toda a credibilidade. Demasiadas garantias. Mas, prefiro assim. Em caso de dúvida, temos de defender a "presunção de inocência". O problema é a demora dos processos. Uma justiça lenta, é terrível. 

Claro, o que é preciso é julgá-los e depois logo se vê. Se forem culpados, devem ir para a prisão. 

- Não podia estar mais de acordo. Ficamos aqui. 

São €9,85. Obrigado pela conversa. 

 

(Imagem: Témis, Museu Arqueológico Nacional de Atenas)

2022/10/09

O DOC's está de volta!


Entre 6 e 16 de Outubro, está a decorrer a 20ª edição do DOC's Lisboa (Festival Internacional de Cinema) que mais uma vez regressa à capital lisboeta. 

Depois de dois anos de "menor visibilidade", devido à pandemia reinante, o DOC's regressa, com uma programação à altura da qualidade a que nos habituou, desde a sua criação, já lá vão uns bons vinte anos.

São mais de 300 documentários/filmes, entre obras em competição, primeiras obras, ciclos e retrospectivas diversas, que poderão ser vistos em sessões únicas e repetidas (a maior parte dos filmes), em salas tão diversas como o cinema S. Jorge, a Culturgest, a Cinemateca Portuguesa, o cinema Ideal, ou a sala Fernando Lopes, recentemente inaugurada e a funcionar na Universidade Lusófona. 

Como habitualmente, e para além dos filmes a concurso, divididos em duas secções distintas, respectivamente, "Competição Internacional" e "Competição Nacional", o Festival mantém as habituais secções: "Da Terra à Lua", "HeartBeat", "Riscos", "Verdes Anos", "Doc Alliance" e "Cinema de Urgência". 

Na secção "Retrospectivas",  destaque para o cinema de Carlos Reichenbach (Brasil) e para "A questão colonial" (esta, com enfoque nas guerras de libertação da Argelia e das ex-colónias portuguesas), em dois dos ciclos mais aguardados deste Festival. Para além dos filmes, haverá debates com os realizadores presentes, sobre as temáticas respectivas ("cinema novo" brasileiro em tempos de ditadura e lutas anti-coloniais em África). 

Outros menções, a atribuir pelo Festival, são o prémio para "Melhor Realizador", o prémio "Melhor Curta-Metragem até 40' ", prémio "Lugares de Trabalho e condições sociais", prémio "Práticas, Tradição e Património" e prémio "Fernando Lopes". Todos os filmes premiados receberão, para além do diploma respectivo, um prémio pecuniário como estímulo para futuras produções. 

Que escolher, entre tanta oferta, sabendo que a maior parte dos filmes não será distribuída e não voltará a passar no circuito comercial? Eis uma pequena lista de filmes, que não vimos e gostaríamos de ver: ""A Human Condition" (Louis Malle), "The Fire Within" (Werner Herzog), "I, a Negro" (Jean Rouch), "Mueda, Memória e Massacre" (Ruy Guerra), "Godard Cinema" (Cyrill Leuthy), ""Getúlio Vargas" (Ana Carolina Teixeira de Sousa), ""Lynch/OZ"  (Alexandre O. Philippe), "Invisible Hands" (Hugo Santos), "Everything will be OK" (Rithy Panh)...       

Entre estes títulos, não podemos deixar de destacar "Les mains invisibles" (Invisible hands), que passará no ciclo "Da Terra à Lua", do realizador português, residente em França, Hugo Santos. Uma sinopse possível: "Nos anos 1970, uma casa em Paris acolhia dezenas de desertores portugueses que se esquivavam à guerra colonial. Só os arquivos da polícia política portuguesa guardavam provas das suas actividades anti-coloniais. De personagem em personagem, reunindo testemunhos e imagens amadoras, reconstruo esta memória" (Hugo Santos).  

P.S. Declaração de interesses: porque conheci bem a casa referida no filme de Hugo dos Santos, não posso deixar de recomendar este documentário. A ver, desde logo. 

Bom Festival e Viva o Cinema!