2016/11/14

Aftermath

Uma semana após a vitória - inquestionável - de Trump, começam a tornar-se claras as suas ideias.
Para quem não percebeu, não está em discussão a sua vitória, mas as ideias que defende.
Ter à frente do país mais poderoso do Mundo um proto-fascista, que defende a supremacia branca WASP, é apoiado pelas forças mais retógradas da nação (evangélicos, "rednecks", "tea party", "kluklux-klan"), é contra a legalização do aborto, defende o "lobby" das armas, defende o escrutínio de todos os muçulmanos que entram no país, quer construir um muro para evitar a entrada de mexicanos, deseja expulsar 3 milhões de "ilegais", quer a anulação do "Obamacare" e do tratado comercial da NAFTA, recusa assinar o Tratado sobre as alterações climáticas, que estendeu a mão a ditadores como Putin e Erdogan e convidou xenófobos como Marine Le Pen e Nigel Farage a visitá-lo, (apostando, claramente, na divisão da Europa para, dessa forma, aumentar o poderio americano a regressar ao nacionalismo mais retógrado) não é de esperar uma boa governação.
Dirão os mais "inocentes", que a sua eleição foi democrática, na medida em que o sistema eleitoral americano funcionou e a quantidade proporcional dos votos não ser o factor decisivo, mas sim o número de  congressistas indicados pelo colégio eleitoral. Os estados determinam a quantidade de congressistas, segundo a fórmula "the winner takes it all". Podemos não gostar do método, mas este é o sistema americano e a América tem tido bons presidentes.
A questão é ser Trump (ele mesmo um representante do "establishment" americano) uma aberração em termos políticos. É inculto, é chauvinista, é xenófobo, é misógino, é sexista, tem vários processos judiciais contra si e vangloria-se de não pagar impostos, sendo apoiado pelas metade mais retógrada da nação,  aqueles que desconfiam das elites que os governaram e se sentem ignorados pelo "sistema", nomeadamente depois da crise financeira que atingiu largos sectores da sociedade americana.
Se dúvidas houvesse sobre as suas intenções, ouça-se com atenção a 1ª entrevista, dada ao programa "60 minutes" (CBS) e veja-se os nomes indicados para o seu gabinete. Para todos aqueles que pensavam ser o discurso da campanha eleitoral, diferente do discurso de presidente, é bom lembrar que os actos eleitorais não são garantia de democracia e que nem sempre o que parece é. Ora Trump não parece. Já é. Da mesma forma que Hitler ou Mussolini, em tempos não muito recuados, chegaram ao poder através de eleições livres, também o actual presidente americano é o produto do "pior sistema político, à excepção de todos os outros". Este é o preço que temos de pagar, já que a democracia não é um dado adquirido e deve ser melhorada todos os dias. Para evitar mais Trumps.