2011/04/25

Lamentável "comemoração"


Perante a inexplicável ausência de uma comemoração formal na sede própria, na casa da democracia que é a AR, o que poderia parecer uma boa alternativa para ajudar a dar um novo rumo à situação crítica que atravessamos e um novo alento à dura luta em que estamos envolvidos, não passou afinal de um ritual confrangedor, um espelho do completo vazio em que vivemos. Um espelho revelador da incapacidade de gerar perspectivas e da profunda injustiça e fantasia em que vive hoje o nosso regime político. Um pequeno ritual de auto-comprazimento, de repetição monocórdica dos mesmos clichés, de celebração da mediocridade e de total desresponsabilização. Um ritual que espelha, sobretudo,  o jaez das nossas "elites" políticas.
Nunca se percebe bem, para começar, a quem se dirigem as apreciações que esta gente faz.  Nunca são claros quanto ao cravo e à ferradura em que pretendem acertar, nunca se sabe muito bem quem é, ao certo, o alvo das suas críticas. A verdade é cuidadosamente velada. A crítica não vai além do escandalosamente óbvio e é sempre feita de forma a não perturbar os humores mais sensíveis.
São obscuros em tudo, menos numa coisa: os portugueses é que viveram acima das suas possibilidades. Nesse caso a sugestão de culpas é clara e precisa: há pobreza, mas são, afinal, os pobres que têm culpa. A estratégia é antiga.
Que exemplo (haveria que dar o exemplo, afinal há crise ou não?!!) dão e que moral têm estas criaturas, beneficiárias, elas próprias, de vastas mordomias de que não prescindem, imerecidas e incompatíveis com os resultados obtidos, que moral, dizia eu, tem esta gente para criticar situações que resultam exclusivamente da sua actuação desqualificada ao longo dos mandatos para que foram eleitos? Quem se revê e quem confia nestes políticos? As decisões erradas ou a ausência de decisões que nos conduziram a este estado foram responsabilidade de quem? Quem assinou as leis? Quem tem as rédeas do poder? Quem comanda afinal, exactamente, as instituições que determinam as grandes linhas do nosso quotidiano colectivo? Quem discrimina, quem determina as políticas, quem controla?
Os portugueses, é certo, podem votar. Mas, serão as condições de escolha justas e claras? Será por não o serem que se abstêm? E se os portugueses são culpados por não intervirem mais na sua vida colectiva, o que pensar então daqueles que se propõem intervir, não obtêm resultados, mas se aproveitam deste seu estatuto para continuarem a ter privilégios indevidos, como se tivessem obtido esses resultados? Que exemplo dá esta gente?
Em vésperas do 25 de Abril, a falta de democracia levou-nos ao apelo "Bota no Marcello!" Querem ver que vamos ter de voltar à "bota útil"?

O que é bom para a banca é bom para o país?

É a pergunta que se impõe perante uma notícia publicada no dia em que o actual e os antigos presidentes da república se juntam todos, em acto de simbólica singeleza, para comemorar os 37 anos da Revolução de Abril. A notícia da Lusa é peremptória e não pode deixar de nos comover a todos: o "resgate internacional" é bom para a banca portuguesa. Não é nada que não se soubesse, mas dito assim, de forma tão cândida e tão sintética, e confirmado, sobretudo, por analistas financeiros tão cândidos e tão insuspeitos, tem outro sabor.
Viva a banca, viva o 25 de Abril...