2013/05/22

Olho por olho

Já não serão assim tão poucos os Portugueses que morreram em consequência directa ou indirecta das políticas do actual governo, chefiado por Passos Coelho. São mortes autoinfligidas ou potenciadas pela leviandade, pelas carências, pelos maus tratos, pela angústia e pelo stress que resultam da política de  "inevitabilidades" deste governo. Outros estão condenados a uma agonia mais lenta, e irão, do mesmo modo, acabar por sofrer, em slow motion, as consequências desta política. Querem sobreviver, mas vão asfixiar, devagarinho, impotentes.

Os Portugueses não votaram neste grupo de coveiros sádicos. Votaram para que do seu voto saísse um governo que está obrigado constitucionalmente a "promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais."

Não tenho razoes científicas para justificar estas minhas previsões. É a intuição e a experiência própria que me levam a tirar estas conclusões. Conhecer a verdade sobre tudo isto será tarefa para os futuros investigadores da demografia histórica. Para nós, por enquanto, nós que estamos a viver a hecatombe, resta-nos lutar para que o pesadelo acabe o mais depressa possível e o curso da história seja mudado.

Segundo o jornal i de hoje, o pai de Passos Coelho assegura que o filho “está morto por se ver livre disto.” Se houvesse mesmo justiça, tendo em conta o que ficou dito acima, Passos Coelho deveria antes estar morto por nos ter metido "nisto..."

2013/05/20

Vales zero!

Muita gente ilustre se tem manifestado contra a convocação do Conselho de Estado que neste momento decorre em Belém. Entre as razões para esta discordância, destaca-se a inoportunidade da convocatória e a agenda do conclave. Jorge Miranda vai ao ponto de classificar esta iniciativa como uma "tentativa desesperada" do PR face ao vazio político em que o país se encontra e António Capucho, antigo conselheiro de Estado, diz sobre os resultados expectáveis desta reunião que coloca "a fasquia um pouco em baixo."
As instituições do Estado desgastam-se com esta iniciativa imprudente de Cavaco Silva.
Carlos César vem hoje juntar-se ao coro de críticas, chamando a atenção para a coincidência da data desta reunião de um órgão superior do Estado (do qual faz parte por inerência o Presidente do Governo Regional dos Açores) com o Dia da Região Autónoma dos Açores. E classifica a ideia como uma "manifestação de ignorância."
Esqueceu-se Carlos César de valorizar o escarcéu institucional que o Estatuto Político-Administrativo dos Açores —aprovado em 2008, vetado duas vezes e finalmente declarado inconstitucional pelo TC— mereceu ao PR e do quanto ele se mostrou agastado, em tom dramático, por este "restringir o exercício das competências do Presidente da República."
Ele há instituições e instituições, regiões e restrições. "Restrições não, autonomia più meno!", parece querer Cavaco Silva dizer com isto...
Desespero, ignorância, fasquia baixa, são expressões que deixam antever que a reunião de hoje do Conselho de Estado já era um flop político antes de começar.
Que dizer então de um PR que sujeita estes importantes órgãos de Estado a um desgaste destes? Que dizer destes conselheiros que se sujeitam ao desgaste e que vão sair dali como entraram: politicamente più meno?
Há anos, Jô Soares tinha um engraçado sketch de inspiração política num dos seus programas (alguns estarão recordados), que terminava sempre com a expressão "vales zero." A iniciativa de Cavaco Silva e a resposta dos conselheiros a ela valem zero.
Cavaco Silva e os membros do Conselho de Estado valem zero! O povo não merece ser representado por nulidades.

2013/05/19

Sobre as gorduras, o mau colesterol e a necessidade de mudar o regime...

"Há cada vez mais políticos com pensão vitalícia," diz a TVI24, que acrescenta "despesa deverá aumentar em 2013"...

L'État c'est qui alors?

 

Joaquim Ferreira do Amaral foi, como é sabido, o ministro responsável pelas Obras Públicas, Transportes e Comunicações, durante o consulado (dir-se-ia, para muitos, o consolado...) de Cavaco Silva. Foi ele que começou este processo de transformar Portugal num arquipélago banhado por um mar de auto-estradas, e foi ele que lançou também o projecto da ponte Vasco da Gama. Actualmente, o engenheiro Amaral é presidente do conselho de administração da Lusoponte, empresa do grupo Mota-Engil, que gere, entre outras, a dita ponte Vasco da Gama.
A Mota-Engil é um dos grupos formal e explicitamente acusados pelo vice-presidente da Integridade e Transparência, Associação Cívica, Paulo Morais, de corrupção, o factor determinante que está, segundo ele, na  origem da presente crise que o País vive.
Paulo Morais acusou o grupo Mello e o grupo Espírito Santo, para além desta Mota-Engil,  de se locupletar, por via ilegítima, com "seis a sete por cento dos recursos do Orçamento de Estado," acusação nunca refutada por qualquer destes grupos.
Ora, o engenheiro Ferreira do Amaral, presidente do conselho de administração da Lusoponte, uma empresa que explora uma obra lançada por ele durante o período em que foi responsável pela pasta das obras públicas, de acordo com um modelo contratual que foi aprovado por ele, vem agora explicar-nos os subtis contornos do contrato que existe entre a Lusoponte e o Estado Português e ameaçar que "o Estado vai ter de ter muita imaginação (sic!) para encontrar forma de dar a volta à questão [da renegocição das PPP]."
Valeu a pena ouvir e ver toda a entrevista porque, finalmente, fiquei a perceber o significado da frase L'État c'est moi quando ouvi Ferreira do Amaral dizer nesta entrevista que "É bom para o Estado fazer isto."
É bom, quer ele dizer, que um ministro da República se lembre, de repente, que uma ponte era mesmo, mesmo, mesmo necessária, embora confesse que o Estado não tinha dinheiro para a fazer. É bom, quer ele dizer, que, mesmo não tendo dinheiro, ele tivesse mandado avançar a obra, aceitando que o Estado pode viver acima das suas possibilidades. É bom, quer ele dizer, que por meio de um contrato congeminado de forma ardilosa o Estado, embora não tivesse o cacau, tivesse ficado agarrado durante anos e anos, por uma coisa que ele decidiu que era mesmo, mesmo, mesmo, necessária. É bom, quer ele dizer, que ele tenha vindo a assumir a direcção da empresa que explora justamente a obra que ele achou que era mesmo, mesmo, mesmo necessária. E é bom, quer ele dizer, que agora, enquanto gestor da empresa que explora a ponte que ele decidiu que era mesmo, mesmo mesmo importante, ele possa vir agora ameaçar o Estado se alguma vez lhe passar pela cabeça parar com a extorsão.
E, dito isto assim, de forma cândida, com o coração nas mãos, com um ar presque mignon, eu, que nesta altura da vida me comovo com enorme facilidade, não evitei derramar uma pequena lágrima e emitir um quase imperceptível soluço...