2009/01/03

A origem das crises

A mensagem de fim de ano do PR mereceu os habituais comentários e análises dos "fazedores de opinião" profissionais. Mais um imposto que os portugueses têm de pagar pela sua iliteracia e por não saberem pensar pela sua cabeça: ouvir os comentaristas...
Quanto à mensagem propriamente dita, independentemente de achar justos muitos dos comentários e recados que incluiu, ela suscitou-me alguns pensamentos. Desde logo uma interrogação: este PR é o mesmo que foi PM durante um larguíssimo período, ou estarei engando? Terá sido a mesma pessoa...? Às tantas fiquei com dúvidas.
Por outro lado, ouviu-se uma longa diatribe a propósito da situação económica. Um desses comentadores que li notava que estava ali um especialista em economia, uma vez que a mensagem se centrou quase exclusivamente sobre a coisa económica. Mas no essencial, porém, a coisa económica ficou reduzida a um "cada um que se amanhe", aquilo que de resto temos sido sempre obrigados a fazer face a crise contínua em que o país parece estar permanentemente metido, e às "soluções" propostas pelos políticos que nos vão calhando na rifa.
Temos de convir que parece curto para um Presidente da República. Nem uma palavra sobre... Portugal e sobre os portugueses, a sua alma mais profunda, a sua cultura, o seu património. Aquilo que, em última análise, será o motor de qualquer superação real da crise. Dito assim, a mensagem do PR não diferia muito da conversa que ouço junto do quiosque dos jornais aqui da minha terra, entre os refomados que ali se reúnem. Uma espécie de presidentes de bancada...
Ouvi de facto este discurso e não pude deixar de me recordar do que escrevi aqui há pouco tempo. Não pude deixar de me lembrar, por exemplo, que ao actual PR, que se orgulha, muito justamente, da sua condição de professor de economia, lhe terão passado pelas mãos muitos dos que contribuiram para o estado caótico da economia portuguesa. Da sua boca terão certamente ouvido, pela primeira vez, os fundamentos da teoria tóxica que inquinou a nossa economia. E na sua condição de PM, algumas das estrelas mais cintilantes, responsáveis pelos escândalos financeiros que se conhecem, até colaboraram com ele directamente.
E não pude deixar de me lembrar que quando ele invocava justamente as virtudes dos pressupostos e princípios que aplicou na sua sua gestão do país (*), eu, por mim, torcia já o nariz, desconfiado com tanta "prosperidade" e com a assustadora proliferação de "habilidosos", que se ia vendo grassar por aí, gozando da mais absoluta das impunidades... 
Ou esta gente pensa que nascemos todos ontem?

(*) Que em nada diferem dos que agora conduziram à actual "crise", dr. Medina Carreira...

A Gripe

Ontem, saí pela primeira vez em 2009. Uma curta visita ao hospital de Santa Maria, onde um amigo muito especial luta contra a morte. No piso onde se encontra internado (pneumologia) alguns visitantes usavam uma máscara contra as potenciais bactérias. Hesitei, entre imitar as visitas, ou os enfermeiros que diligenciam nos seus tratamentos diários sem máscara. Optei por imitar os segundos.
Hoje, de manhã, dei os primeiros espirros do ano. Assustado, fui adquirir as minhas provisões de comprimidos e aproveitei para comprar o jornal. As notícias confirmam os meus receios: a gripe está por todo o lado, mas está "controlada". Assegura-nos o Director do Serviço Nacional de Saúde. Fiquei mais descansado. Nada como um estado protector para nos sossegar. Inconscientemente, dei-me a pensar em Mugabe. Também ele decretou o fim da cólera no Zimbabwe. Se o presidente disse, deve ser verdade. Porque é que eu hei-de pensar que vou apanhar uma gripe?

2008/12/31

2008, um ano para esquecer...

A menos de oito horas de terminar o ano, não acreditamos que algo de bom possa ainda acontecer em 2008. Pelo menos, algo sobre que valha a pena escrever.
A nível interno, pese a máquina propagandística do governo, Portugal continua a divergir da média do espaço europeu onde estamos inseridos, uma tendência que se verifica há oito anos a esta parte. Na educação (com professores desmotivados após um ano de confrontação intensa e com os piores indicadores no Pisa) os resultados são desastrosos; na saúde (ver os relatos diários sobre os atendimentos nas urgências portuguesas ou a lista de espera das operações) estamos ao nível dos anos noventa; na justiça (com processos que não terminam mais e onde as decisões continuam a favorecer os mais poderosos) a situação é de corrupção generalizada; nas finanças (onde Sócrates, sem melhores argumentos, continua a repetir à exaustão o controlo do "déficit") tudo parece congelado.
Agora, que a crise internacional nos bateu à porta, os seus efeitos sobre a economia real não deixarão de fazer sentir-se. Limitados no poder de compra, os portugueses consumirão menos, o que conduzirá a uma menor produção e inevitáveis ajustes. As empresas fecharão a um nível ainda mais acelerado e o número de desempregados crescerá a níveis impensáveis (fala-se em 10% da população activa, em 2009!). No campo social, os números não mentem: 350.000 pessoas dependentes do Banco Alimentar, 2 milhões a viverem no limiar da pobreza e mais de 450.000 desempregados. A emigração voltou a aumentar e, pela primeira vez em anos, o saldo migratório entre os que saem e os que entram é desfavorável a Portugal. Ou seja, o nosso país deixou de ser atraente para os imigrantes e os portugueses procuram, de novo, o estrangeiro para poderem sobreviver.
A desculpa da crise internacional, a mantra governamental para justificar todos os males, sendo real não é a única razão, até porque a crise portuguesa é muito anterior à crise financeira dos mercados internacionais. De facto, Portugal não produz riqueza e continua a endividar-se e esse é um fenómeno que atravessa vários governos e tem vários responsáveis. Começou com a fuga de Guterres, a que se seguiu a fuga de Barroso, o desastre de Santana e a incapacidade de Sócrates. Todos eles, em maior ou menor escala, contribuiram para este panorama desolador. Resta lembrar que, todos eles, pertencem aos partidos que desde 1976 nos têm governado: o PS e o PSD. É bom que os portugueses tenham memória e a usem nas eleições marcadas para 2009. Depois, não podem dizer que não sabiam...