2020/07/21

Dezasseis semanas noutra cidade: Balanço, Quarentena e Programa Europeu de Ajuda


Após quatro meses de "exílio forçado" em solo espanhol, eis-me de volta à pátria, agora que a fronteiras ibéricas foram abertas, com pompa e circunstância, pelos mais altos dignitários de ambas as nações. Restam duas semanas de quarentena, obrigatórias por lei, que poucas pessoas praticam, já que o controlo parece mais remoto do que de um aparelho de televisão. Sim, as indicações sobre o comportamento individual e colectivo (leia-se "distanciamento social") existem e há quem as respeite. Mas nem todos o fazem e, o que é pior, não é fácil respeitá-las. Desde logo, porque a economia não pode parar e, sem o "mercado a funcionar", não haverá dinheiro para comprar melões, mas também vacinas, que ainda não existem e não sabemos quando existirão... Depois, porque a saúde, sendo a componente mais importante, é cada vez mais cara e as prioridades nem sempre são as pessoas. Dito de outro modo: só quando a economia fôr para as pessoas, e não as pessoas para a economia, poderemos encontrar o equilíbrio necessário ao tal "crescimento sustentável" de que toda a gente fala, mas tão pouca gente pratica.  
Este é hoje o dilema da maioria dos países confrontados com a pandemia que, nalguns casos, atingiu números impensáveis há uns meses atrás e que continua a progredir, agora com maior incidência em países como os EUA, o Brasil, ou a Índia, sem que tenha desaparecido da Europa e da Ásia, como as frequentes recidivas o comprovam.
Portugal, um país com graves problemas económicos e um estado social fraco, conseguiu numa primeira fase (estado de emergência) limitar os danos, a ponto de ter sido considerado uma excepção no panorama europeu, que lhe valeu os maiores encómios na imprensa internacional. A relativa prontidão na reacção à crise (encerramento de fronteiras, escolas, recintos desportivos, etc.), aliada à situação periférica do país e ao fraco fluxo turístico naquela época do ano, ajudam a explicar o sucesso sanitário, mas sabia-se que, mais tarde ou mais cedo, a situação iria alterar-se. Desde logo, porque, para atender os infectados com Covid e proceder aos testes necessários para a sua detecção, foi necessário mobilizar hospitais e pessoal médico para este tipo de patologia, para a qual muitos deles não estavam preparados; depois, porque, ao dar prioridade ao combate à pandemia, foram descurados outros serviços (operações, consultas, etc.) que não eram prioritários. É verdade que o sistema hospitalar não implodiu e esse objectivo foi conseguido, o que não deve deixar de ser assinalado, mas nem tudo são rosas...
Com o desconfinamento progressivo, propício ao relaxamento dos costumes, os contactos sociais aumentaram (nem outra coisa seria de esperar) e, com eles, o aumento do número de infectados. Agora, não são apenas os chamados "grupos de risco" (idosos com patologias específicas), mas jovens e pessoas de meia-idade que, por força das suas funções diárias, estão em contacto permanente nos seus locais de trabalho e em transportes públicos, onde não são cumpridos os mínimos desejáveis em tempo de contágio. Tudo isto é conhecido e não há meio de evitá-lo. Enquanto não houver uma vacina, que normalize a progressão da epidemia, esta conhecerá uma expansão, provavelmente com altos e baixos (mas sempre com mais mortes), independentemente do modelo ser o da "imunidade do rebanho" ou do "confinamento obrigatório", como estes seis primeiros meses o comprovaram. Esta é, de resto, a grande contradição de um sistema que, querendo combater o vírus, incentiva a economia aberta, como forma de evitar o colapso social e económico que se adivinha, independentemente dos avanços da epidemia.
Perante tal cenário e quando três das quatro maiores economias europeias (Itália, Espanha e França) estão já confrontadas com as maiores crises sociais do pós-guerra, a União Europeia parece ter acordado da sua longa letargia e reuniu os 27 países membros em Bruxelas, para aprovar o programa de recuperação económica, calculado em 750 000 milhões de euros, para os países mais afectados. 
Como se esperava, e apesar dos encontros bilaterais que antecederam a cimeira (entre Costa, Sanchéz, Conte, Rutte e Orbán) com vista a desbloquear as posições dos grupo dos "frugais" e do grupo de "Visegrado", o antagonismo entre as diferentes visões manteve-se durante os cinco dias que durou a reunião que só hoje, pela madrugada, terminaria.
Contas feitas, todas as partes cederam, naquele que já é considerado um acordo histórico, seja pelo montante das verbas envolvido, seja pelas discussões geradas ao longo desta maratona.
Resumindo: mantém-se o montante global de 750 000 milhões de euros, proposto inicialmente pela presidente da comissão, mas agora com uma nova divisão de verbas. Serão 390 000 milhões (em vez de 500 000 milhões) em forma de doações (a fundo perdido) e os restantes 360 000 milhões, em forma de empréstimos. Uma cedência de 110 000 milhões de euros às posições da Holanda e dos restantes países nórdicos, que sempre preferiram a fórmula "empréstimos" a "doações, que não poderiam controlar. Já as pretensões holandesas, que exigiam condicionar os empréstimos e doações à liberalização das leis laborais e à reformulação das pensões nos países do Sul, não foram satisfeitas, muito por intervenção de Merkel e de Macron (que apoiariam as posições de Itália, Espanha e Portugal).
Para Portugal, o balanço não parece ter sido negativo. Apesar de uma redução de 9000 milhões na verba inicialmente prevista (que era de 26 000 milhões), receberá 15 000 milhões do "fundo de recuperação" (a fundo perdido), podendo recorrer à restante verba, em forma de empréstimo. Junte-se a este "envelope" (para combater a crise pandémica), os 30.000 milhões do quadro do programa plurianual europeu para o período 2021-2027, e teremos um total de 45.000 milhões, que o país vai receber ao longo de 7 anos. Uma "pipa de massa", na opinião dos comentadores de serviço.
Na realidade, dinheiro europeu foi coisa que nunca faltou, ao longo dos últimos 35 anos. O que sempre faltou foi uma estratégia para o desenvolvimento do país. Por isso, estamos onde estamos. Será que é desta?

2020/07/19

Um Rio poluído


O dr. Rui Rio parecia ser um tipo um pouco menos bronco do que os seus predecessores. Sobretudo pela reacção que teve no início do problema da pandemia. De repente, certamente por causa do calor, perdeu o sentido de Estado, esqueceu as exigências da Democracia e aparece a dizer isto que se pode ouvir aqui
A questão principal nestas declarações é esta: sem uma ideia sequer para o seu País, sem uma única sugestão sobre o modo como aplicar convenientemente os fundos, que ele exige justamente que seja vigiado, é preciso que eles não faltem, nem que se tenha para isso de dobrar a espinha a esses senhoritos do norte, que tresandam a mediocridade, mas tentam disfarçá-la armando-se em grandes senhores. Mas vigiar o quê ó dr. Rio? O que é o que o senhor propõe?
Ah, how I long for yesterday... And I love the smell of troika in the morning!
Mas a verdade é que Rui Rio reconhece, ipso facto, enquanto membro de um importante partido político PORTUGUÊS, candidato à governação do país, não ter uma ideia na cabeça, ao mesmo tempo que demonstra não ter capacidade para corrigir os problemas que aponta. Nestas circunstâncias, prefere abdicar das suas prerrogativas enquanto membro de um partido candidato ao poder a favor de um bárbaro qualquer do norte.
Rio prefere esperar, subserviente, pelo subsídio da Europa. Mas para dar ar sério à opção, que seja com a supervisão dos outros países, não vá a coisa descambar e a malta perder a massa, que tanta falta faz para podermos continuar neste caldo de indigência nacional em que os políticos como Rio e partidos como o PSD gostam de se ir mantendo confinados.
Como iria, é justo perguntar, o País gastar esses fundos, se fosse o PSD a geri-los?
Faz lembrar aqueles que, no futebol, para não perderem as receitas da televisão, mas sem ideia sobre o jogo, sem chispa nem talento e jogando mal, culpam o árbitro pelas derrotas das suas equipas e vêm gritar depois, indignados, a pedir que se usem árbitros estrangeiros.
Um verdadeiro patriota, este Rio. Isto também diz bem do que é o PSD hoje. E abrindo o zoom, ficamos a perceber o que é, à direita, a oposição ao governo com que hoje podemos contar: vendilhões, boçais, amadores, criancinhas insolentes e fascistas. Um rico ramalhete.
Eu cá também acho que o PSD devia ser substituído por um partido da oposição de um país qualquer do norte...