2024/04/24

25 de Abril, sempre!


 

Grândola vila morena, Terra da fraternidade  

O povo é quem mais ordena, Dentro de ti ó cidade

 

Dentro de ti ó cidade,  O povo é quem mais ordena 

Terra da fraternidade, Grândola vila morena

 

Em cada esquina um amigo, Em cada rosto igualdade

Grândola vila morena, Terra da fraternidade

 

Terra da fraternidade, Grândola vila morena

Em cada rosto igualdade, O povo é quem mais ordena

 

À sombra de uma azinheira, Que já não sabia a idade

Jurei ter por companheira, Grândola a tua vontade

 

Grândola a tua vontade, Jurei ter por companheira

A sombra de uma azinheira, Que já não sabia a idade 


Autor: José Afonso

2024/04/23

O "25 de Abril" visto de Espanha

Quando, no dia 25 de Abril de 1974, os militares portugueses derrubaram um regime fascista de 48 anos, a Espanha vivia sob outra ditadura, que só viria a terminar com a morte de Franco, a 20 de Novembro de 1975. A partir dessa data, o chamado "processo de transição" espanhol, decorreu praticamente em paralelo com o português pelo que, em 1976, já era possível falar de uma Ibéria democrática. 

Pesem as especificidades de cada um dos regimes (a ditadura portuguesa mais longa e envolvida numa guerra colonial que durou 13 anos e causou dezenas de milhares de mortos e exilados; a ditadura espanhola, saída de uma guerra civil fratricida, entre 1936 e 1939, a que se seguiu um dos períodos mais repressivos da sua história recente), a verdade é que o balanço, após todos estes anos, é positivo, pelo que deve ser lembrado e, mais do que tudo, comemorado.

Teremos, assim, dois anos de comemorações de ambos os lados da fronteira, que se estenderão ao longo de 2024 e 2025, destinados a assinalar as datas mais importantes da instauração da democracia em Portugal e em Espanha. 

Para quem segue de perto a actualidade espanhola, é grato verificar a atenção que "nuestros hermanos" têm dado a Portugal, nos dias que correm. Para além dos factos, que vão marcando a agenda política portuguesa (demissão de Costa, eleições antecipadas, crescimento da extrema-direita e constituição do novo governo), constatamos uma cobertura atenta do caso "influencer" e das suas consequências para a eventual candidatura de Costa a um cargo europeu, que tem como um dos seus maiores apoiantes, Pedro Sanchez, o actual primeiro-ministro espanhol. Interesses comuns, portanto. 


Outra coisa, bem diferente, é a comemoração dos "50 anos do 25 de Abril". O suplemento literário "Babelia" (El País), dedicou-lhe um número especial, sob o título: "La libertad llegó en Abril hace 50 años. La Revolución de los Claveles tumbó en Portugal la dictadura más longeva de la Europa occidental y aceleró la transición española. La magia de aquel golpe pacífico se conmemora en libros, conciertos y exposiciones". São diversas páginas, onde Tereixa Constenla (correspondente do El País em Portugal), descreve em pormenor as múltiplas iniciativas a decorrer por estes dias em Lisboa: desde as grandes exposições fotográficas de Eduardo Gageiro e Alfredo Cunha, aos concertos nas principais salas lisboetas e às edições em livro, de tudo um pouco escreve Tereixa. 

De assinalar ainda, a edição espanhola de diversas obras relacionadas com a efeméride. Destaque para a tradução de "Fado Alejandrino" de António Lobo Antunes, "Mojar la Pólvora" de Alfonso Domingo, "La Revolución de los Claveles" de Diego Carcedo e "La revolución amable" de Ricardo Viel. Previstas para Maio, estão ainda as traduções de "La ciudad de los prodigios" de Lídia Jorge (actualmente cronista do El País) e "Fábrica de Criadas" de Afonso Cruz.  

Também a rádio fez um programa sobre as canções que marcaram a revolução, onde podiam ouvir-se as vozes de José Afonso, Sérgio Godinho, Vitorino e João Afonso, para além da história sobre a escolha da senha para a operação militar (Grândola) e do seu estratega Otelo Saraiva de Carvalho. 

No próximo dia 25, o restaurante "Uma Casa Portuguesa" de Sevilha, associa-se às comemorações, com um jantar especial, onde as cantoras locais Emma Alonso e Rosario Solano, interpretarão canções alusivas à data. José Afonso, fará parte da ementa.

Para quem acha que "de Espanha nem bom vento, nem bom casamento", é tempo de descobrir o que nos irmana. A democracia, ora aí está!