2024/03/08

Opções e Incógnitas de uma campanha inconclusiva


Termina hoje a campanha dos partidos concorrentes às eleições do próximo domingo. 

Após meses de agitação frenética, entre congressos partidários, eleição de novos líderes, debates e campanhas de rua, a pergunta que se impõe é esta: estarão os eleitores, hoje, melhor informados após a maratona iniciada há quatro meses?

Teoricamente, sim. Nunca como nestas eleições, a informação foi tão extensa e diversificada: da imprensa escrita às redes sociais, da rádio à televisão, dos cronistas aos "comentadores", que disputaram horários de "prime-time", atribuindo"notas" (!?) aos candidatos, houve de tudo um pouco. Não nos podemos queixar, ainda que questões importantes tivessem ficado por discutir. Discutiram-se temas como a saúde, a educação ou a habitação, mas faltaram outros, não menos relevantes: a guerra em curso na Europa, o papel de Portugal na UE, a inflação que afecta toda a zona Euro, as alterações climáticas e a seca no Sul do país, a desertificação do interior, a imigração, a cultura, etc...

Acontece que o panorama político português mudou. Se não radicalmente, pelo menos na intenção de voto. Desde logo, pelo número de partidos que, à "esquerda" e à "direita", disputam a arena política. Se até 2015, a situação era estável, com 5 partidos representados na AR, desde então (apesar do desaparecimento temporário do CDS) surgiram quatro novos nomes, o PAN, o Chega, a Iniciativa Liberal e o Livre. 

É esta maior diversidade, que explica a "pulverização" do voto, agora distribuído por oito partidos com possibilidade de eleger deputados. Serão os partidos mais pequenos a beneficiar, ao mesmo tempo que diminui a influência dos partidos tradicionais. Por outras palavras, Portugal "deixou" de ter dois grandes partidos do governo (PS e PSD) e passará a contar com três partidos de tamanho médio (PS, PSD e Chega), para além dos restantes cinco pequenos, que serão fundamentais nas contas finais para a formação do governo. 

Esta é a conclusão provisória das sondagens publicadas ao longo dos últimos meses, que demonstram uma tendência inequívoca: não haverá maiorias absolutas de nenhum partido (ou coligação), da mesma forma que o partido (ou coligação), que ganhar as eleições, não poderá governar sem alianças. Resta saber, que coligações poderão ser formadas e, em consequência, que governo terá mais viabilidade no longo prazo.

A acreditar na última "grande sondagem", da responsabilidade da CESOP e Universidade Católica, para o Público, TSF e Rádio Renascença, hoje mesmo tornada pública, as contas são fáceis de fazer (nesta projecção já estão incluídos os votos dos indecisos, que rondam os 16%):  

A direita (AD+IL) está à frente nas intenções de voto (34%) e deve ganhar ao PS (28%), mas não é líquido que possa formar governo, a menos que faça uma coligação com o Chega (partido com quem ninguém quer governar) o que lhe daria 56% de votos,   

Resta uma coligação dos partidos de esquerda (PS, BE, CDU, LIVRE e PAN) que podem somar 42% das intenções de voto, muito perto da maioria absoluta e suficiente para governar, uma vez que a soma dos partidos à esquerda é maior do que a dos partidos à direita (sem o Chega).

Neste quadro, ganha relevo a decisão do presidente da república que, como é seu hábito, "dá uma no cravo e outra na ferradura", afirmando que dará posse ao partido mais votado, mas não quer o Chega no governo (?). Descodificando: Marcelo (sempre hipócrita) não se importa que a direita seja apoiada pelo Chega (governo de incidência parlamentar), desde que o partido fascista não tenha ministérios...

Estes são os cenários e nenhum deles garante um governo estável. A confirmarem-se estas projeções, o próximo governo será de coligação e terá curta duração. Daqui a um ano, poderá haver novas eleições.

Domingo, saberemos mais pormenores. Até lá, boa reflexão e melhor votação.