2012/09/29

Case Study

As declarações de António Borges, hoje preferidas em Vilamoura perante uma plateia de empresários portugueses e estrangeiros, revelam o pior das nossas “elites”.  Como se não bastasse a arrogância com que sempre trataram quem trabalha (que mais direitos não tem do que pagar impostos), chama “ignorantes” aos empresários que ousam duvidar de medidas que só os poderia beneficiar...
Depois de afirmar que estes empresários chumbariam no primeiro ano da sua faculdade, Borges foi mesmo mais longe, ao declarar que o regime de austeridade imposto em Portugal estava a revelar-se um sucesso. No FMI (onde trabalhava à época do resgate português) ninguém acreditaria que, menos de dois anos depois,  a situação portuguesa estivesse debelada. A “hemorragia” (nas suas próprias palavras) tinha sido estancada.
Claro que isso foi conseguido à custa de sacrifícios, mas ninguém de bom senso pensava que seria possível de outra maneira. Portanto, a primeira fase do programa estava a revelar-se um êxito, de tal forma que deve ser considerado um verdadeiro “case study”.
Ao contrário do que muitos empresários (Mira Amaral, CIP) e diversos fazedores de opinião, hoje vieram dizer, não penso que Borges seja tão parvo como o pintam. Não se trata de uma “gaffe”, mas de um pensamento, alicerçado na escola do INSEAD,  Goldman & Sachs e FMI,  instituições por onde passou e que primam pela estratégia de “choque e pavor” que caracteriza a sua acção pelo Mundo. Nesse sentido, Portugal não deve ser considerado uma excepção, antes um laboratório onde as teorias de homens como Gaspar e Borges, servem uma politica específica. A politica de quanto pior melhor, para desregular a economia, privatizar a qualquer preço e, nessa altura, poder impor as condições mais favoráveis ao modelo neo-liberal que defendem..
É Borges, o verdadeiro “case study”. Devemos estudá-lo, para melhor combatê-lo.

2012/09/28

Mengele


Queria hoje recordar aqui Josef Mengele.
"Josef Rudolf Mengele foi um oficial das SS e médico no campo de concentração de Auschwitz. Obteve um doutoramento em antropologia pela Universidade de Munique e em medicina pela Universidade de Frankfurt. Começou a ganhar notoriedade por ser um dos médicos das SS que supervisionava a selecção e o transporte dos prisioneiros, decidindo quem iria ser liquidado e quem iria para trabalhos forçados, mas a razão principal da sua fama resulta das experiências que executou com os prisioneiros do campo de concentração, incluindo crianças. Por tudo isto ficou conhecido como Anjo da Morte (adaptado da Wikipédia).
Para mais esclarecimentos ver aqui.

2012/09/24

Confiança

Muita gente, muita gente sem partido, politicamente adormecida e aparentemente indiferente, se dá conta agora que tudo isto resvalou para um problema cuja resolução implica mais do que remendos legislativos e "toques" nos diplomas. O problema está no próprio regime. A crise é mais funda. O problema não é a TSU, o problema não é de mais ou menos impostos. O problema não é, sequer, o da total ausência de medidas "estruturais," de horizontes, de perspectivas de desenvolvimento. O problema é o próprio regime e a confiança que as instituições e qualquer dos políticos actuais merecem ao comum dos cidadãos.
A pergunta que toda a gente faz, independentemente da tendência política ou da falta de inclinação para a política, independentemente de andarem a gritar contra este regime desde há muito ou apenas desde o passado dia 15, independentemente de fazerem ou não parte do grupo dos "idiotas" do poema de Brecht que se gabaram durante tanto tempo de não se interessarem por política e, mesmo, de não terem contribuído, por falta de comparência, para a situação actual (afinal tudo é, como dizia o Brecht nesse poema, político e afinal o lixo lançado para o baldio acaba à nossa porta), a pergunta que toda a gente faz é esta: mesmo que fosse legítimo, mesmo que fosse inevitável, de facto, o massacre de que são vítimas os portugueses neste momento, o que vem a seguir? Isto porque as causas de tudo o que se passa e as justificações para o massacre continuam obscuras e, certamente, ipso facto, a sua eventual "correcção", parece hoje claramente, servir apenas para manter tudo na mesma, logo teríamos, na melhor das hipóteses, soluções com maturidade reduzida (para usar terminologia do inimigo...). E depois?
O problema é, pois, outro. Trata-se de um problema de confiança. Por mais saltos mortais que qualquer dos actuais e passados responsáveis políticos dêem, por mais malabarismos que façam, por mais coelhos que saiam da cartola (no sentido literal e metafórico da expressão...), por mais discursos que produzam, mais ou menos dourados, mais ou menos realistas, mais ou menos patetas, mais ou menos insultuosos para a generalidade do povo português, por mais que tentem, os bonzos do regime, o poder  e os serventuários do poder estão totalmente desacreditados. Ninguém acredita em nada e ninguém acredita em ninguém —perdoem-me as duplas negativas— ligado a este poder. Quando digo ninguém, quero dizer isso mesmo: a desconfiança é total nas pessoas, nas instituições e nos valores que dizem defender e servir. Tudo parece uma ilusão. Parece que vivemos numa fantasia de Walt Disney.
Ninguém acredita em Passos Coelho, este aldrabão que começou por dizer uma coisa e acabou a fazer outra. Ninguém acredita em Gaspar. Que mente tortuosa se esconde por detrás daquela conversa flácida? Ninguém acredita no Portas, o rei da baderna! Quem acredita na Assunção da Fé? Quem acredita na Conjectura de Crato? E, claro, ninguém acredita no Relvas das equivalências, no Macedo das fábulas ou no Álvaro (quem?). Os outros nem sequer para anedota, infelizmente servem. Ninguém acredita na AR, que se sabe, por factos, ser hoje uma agência de gestão de activos. Ninguém acredita no Conselho de Estado (onde, como alguém dizia, apenas o Lobo Antunes se safa de ter as mãos sujas de sangue por ser cirurgião...). E ninguém acredita, desgraçadamente, neste Presidente da República! Como acreditar em Cavaco Silva?! E como era importante acreditar no Presidente da República.
O problema não é de fé, mas é de acreditar.
Muita gente, dizia eu, depois de um click qualquer que se produziu, sem grandes explicações, na nossa sociedade, poderá perceber agora o verdadeiro e profundo significado da expressão "há mais vida para além do défice." É preciso redefinir o regime e reconquistar a confiaça. Sem isso os problemas, nenhum problema, estes que temos entre mãos ou outros que apareçam no futuro, se resolvem.
Mas, muita gente está também assustada porque percebe, finalmente, que desenvolvimento e democracia caminham sempre de mãos dadas e não podem largá-las nem por um momento. A tarefa afinal é bem mais complicada e trabalhosa, e exige mais dos treinadores de bancada .
Também eu estou assustado porque não percebo se toda a gente percebeu que está na altura de agir, está na altura de colocar no contentor velhos dogmas, está na altura de procurar entendimentos e consensos, de assumir claramente as diferenças, tirando partido das semelhanças. Do respeito pelas diferenças entre os semelhantes e pelas semelhanças entre os diferentes nasce a confiança e a possibilidade de entendimentos.
Será que todos os indignados percebem que, depois de perceberem isto, será então altura de dar expressão política e institucional a toda essa acção? Será que estão à altura do momento? Será que os indignados percebem isto?
Está na hora de confiar, usando critérios muito mais apertados para estabelecer os padrões de confiança.