2019/05/11

Joe "babe" boy


Na semana em que os directores executivos dos quatro maiores bancos portugueses, anunciavam ser inevitável ter de cobrar taxas pelo uso do Multibanco, um dos personagens que mais tem lucrado com a banca era ouvido numa Comissão Parlamentar, para explicar a dívida de quase 1000 milhões a esses mesmos bancos, um dos quais, a CGD, o banco do estado.
Que o homem é um "gangster" já toda a gente sabia. Bastava ler a sua biografia e o modo como enriqueceu. Um "chico-esperto", na gíria local. Acontece, que os "chico-espertos" só chegam a determinadas posições, ajudados por outros, normalmente mais influentes ainda. Chama-se a isto patrocinato e consiste na troca de favores destinados a manter o poder recíproco, segundo a velha fórmula "faço-te uma oferta que não podes recusar" (D. Corleone). A partir daí, é sempre a subir...
Até que um dia se descobre a "tramóia" e é o cabo dos trabalhos. Foi o que aconteceu agora. Dadas as imparidades existentes na maioria dos bancos portugueses (quatro dos quais foram à falência, provocando um "rombo" de 20.000 milhões na economia portuguesa!), alguém se lembrou de publicar a lista de devedores da Caixa Geral de Depósitos, da qual fazia parte, em lugar de destaque,  o "comendador" Joe Berardo. Como tudo isto aconteceu, é fácil de perceber: o homem (Joe para os amigos) pedia dinheiro emprestado aos bancos, com o qual comprava acções dos mesmo bancos, as quais serviam de caução para novos empréstimos, e assim por diante. Ou seja, o dinheiro nunca faltava, as dívidas aumentavam e o "comendador", levava uma vida de "lord". Mais, devido ao respeito que lhe tinham, agraciaram-no com uma "comenda" (porquê?) e até lhe cederam um espaço (museu Berardo) no CCB, onde está exposta a sua colecção de arte (avaliada em 800 milhões de euros) em regime de "comodato". Para além disso, o estado português comprometeu-se a doar 500 milhões de euros/ano, durante dez anos, à Fundação Berardo, para que esta pudesse renovar a sua colecção. É o que se chama um negócio leonino.
Agora que o homem foi confrontado com o arresto dos seus bens por dívidas aos bancos, viemos a saber (pelo próprio) que ele - pessoalmente - não deve nada a ninguém (!?). Isto, porque quem deve é a Fundação Berardo e outros organismos que, entretanto, foram sendo criados, em nome dos quais ele comprava as acções e pedia os empréstimos. O estado pode processar a Fundação e fazer um arresto dos bens desta, menos os quadros, que não podem ser considerados bens da Fundação, dado estarem emprestados ao estado...
E agora? Mesmo que Joe seja preso (o que duvido), temos de perceber que a sua ascensão e aceitação pelo "jet set" nacional, só foi possível dadas as relações de subserviência e bajulação que os "pares" lhe prestaram. Políticos e banqueiros. Os mesmos que, depois de terem "acreditado" no "comendador", exigem agora o seu dinheiro de volta. Se não o recuperarem, ninguém irá preso por má gestão. Pelo contrário, continuarão alegremente a prevaricar e a enriquecer, agora através de uma taxa, cobrada aos depositantes, pelo uso do Multibanco. A máfia lusitana, em todo o seu esplendor.