Menos de 24 horas após ter sido visionado pelos provedores da RTP e da RDP, o polémico "spot" da Antena 1 (onde subliminarmente se insinuava que as manifestações prejudicavam quem queria trabalhar!) foi retirado.
Andaram bem Paquete de Oliveira e Adelino Gomes ao interpretarem a lei e o sentimento de indignação daqueles que denunciaram e protestaram contra esta grosseira manipulação. Para esta rápida reacção muito contribuiram, nunca será demais realçá-lo, os diversos "blogs" que alertaram para o anúncio e, dessa forma, deram continuidade a uma acção que pode ser considerada exemplar.
Ainda os ecos desta tentativa de manipulação não tinham desaparecido e já uma nova polémica parece estalar. A acreditar no comunicado da ERC (Entidade Reguladora da Comunicação) têm chegado a este organismo queixas de diversos espectadores sobre os conteúdos do telejornal da TVI, em particular a edição de sexta-feira, da responsabilidade da "pivot" Manuela Moura Guedes.
Devo confessar que não sou adepto da apresentadora em questão e muito menos do seu estilo, que pouco tem de jornalismo e muito menos de objectividade. Moura Guedes poderá ser corajosa e truculenta, mas tais atributos não são necessariamnte sinónimos de bom profissionalismo. Dito isto, devo dizer que vejo regularmente os célebres telejornais de sexta-feira que tanta celeuma parecem causar, quanto mais não seja para ouvir as opiniões do seu convidado residente e para perceber o que incomoda tanta gente. Ora, uma das diferenças, relativamente a outros telejornais, é o tratamento dado às polémicas que envolvem o primeiro-ministro, a última das quais (o caso Freeport) continua em investigação. Independentemente de tudo o que possa pensar-se sobre as implicações de Sócrates neste caso, a verdade é que - tanto quanto podemos perceber - nenhuma notícia avançada foi desmentida e, algumas delas, foram amplamente noticiadas noutros orgãos de comunicação. Não será por aqui que a Entidade Reguladora poderá pegar, pelo que a única razão para tal "aviso à navegação" só pode ser explicada pelo incómodo que determinadas notícias sobre o PM parecem provocar.
Se esta é a razão, Eduardo Moniz tem razão em protestar. Acontece que o director de programas da TVI tem "telhados de vidro" nesta matéria. Basta lembrarmos o afastamento de Marcelo Rebelo de Sousa, por pressão do governo de Santana Lopes, durante o consulado de...Moniz!
Moral desta história muito pouco edificante: num país de tradição censória e pouca cidadania, os governos, sejam eles de um partido ou outro, não diferem nos métodos quando se trata de censurar e manipular a opinião pública. Esta é também a herança da ignorância, fruto de dezenas de anos de censura e desinformação. Resta saber se os eleitores que vão votar este ano querem continuar a acreditar na publicidade. Porque, para a propaganda dos partidos do centro, já não há paciência.
2009/03/21
2009/03/20
Serão afinal os publicitários os exagerados?
Mais grave do que o próprio spot que incluímos no post anterior, é a justificação dada pela porta voz oficial da direcção da RTP, citada pelo Público de hoje.
Segundo esta, a "culpa" do spot é... da BBDO, a agência responsável pela nova campanha de promoção da Antena 1.
Não resisto a transcrever toda a justificação dada pela referida porta-voz, Marina Ramos, para o caso dela vos ter passado ao lado.
"Como em todas as campanhas," sentencia a senhora, "as ideias criativas são apresentadas pela agência. Foram entregues três que nós aprovámos. São spots que promovem três géneros de programas que passam na Antena 1."
Lê-se, retiram-se as devidas conclusões e, no final, não se consegue acreditar.
Segundo esta, a "culpa" do spot é... da BBDO, a agência responsável pela nova campanha de promoção da Antena 1.
Não resisto a transcrever toda a justificação dada pela referida porta-voz, Marina Ramos, para o caso dela vos ter passado ao lado.
"Como em todas as campanhas," sentencia a senhora, "as ideias criativas são apresentadas pela agência. Foram entregues três que nós aprovámos. São spots que promovem três géneros de programas que passam na Antena 1."
Lê-se, retiram-se as devidas conclusões e, no final, não se consegue acreditar.
2009/03/19
Uma sugestão

No caso concreto do "provedor de justiça", a coisa começa por ser uma contradição em termos. Num país onde nem o Estado, nem a justiça funcionam, o que poderíamos esperar de uma instituição, estatal, chamada "provedor de justiça"...?
Finalmente, o modo como um provedor é escolhido é mais outro insulto à nossa inteligência. A atribuição do cargo de Provedor de Justiça --uma espécie de prémio de consolação que é dado a quem perdeu-- é uma ofensa engolida por quem o aceita e revela imediatamente como se encara e o que se espera desta figura.
Ora, se ninguém parece estar interessado em garantir e levar a sério a existência de uma figura que possa "recomendar comportamentos aos poderes públicos com vista à reparação de ilegalidades ou injustiças" e tenha, ao mesmo tempo, o "direito à cooperação dos órgãos e serviços sujeitos à fiscalização do Provedor de Justiça nos actos de investigação que se mostrem necessários" à reparação dessas ilegalidades e injustiças, não seria melhor e mais barato acabar, simplesmente, com o cargo e poupar-nos a todos a mais este triste espetáculo do regime...? Quanto é que esta palhaçada toda nos custa?
2009/03/17
Uma boa anedota
Acontece a toda gente não conseguir reproduzir uma anedota verdadeiramente boa, ouvida apenas há breves instantes. O facto ficar-se-á a dever, segundo um artigo do NYT que cita investigação feita sobre esta matéria, ao modo como funciona o nosso cérebro. Estamos formatados para perceber e recordar com facilidade padrões previsíveis (dois vezes um, dois... dois vezes dois, quatro... dois vezes três, seis...), mas se o padrão for alterado aumenta a dificuldade em ir buscar a recordação à nossa memória de curto prazo. Se a lenga-lenga fosse alterada de número para número, por exemplo, as dificuldades para aprender a tabuada seriam muito maiores.
As boas anedotas são as anedotas imprevisíveis, que fingem seguir um padrão conhecido, mas depois, subtilmente e através de um controlo fino do ritmo, vão numa outra direcção, totalmente inesperada. A gente ri muito na altura, a explosão emocional é grande, mas, num momento, não sobra de tudo isso mais que uma vaga recordação.
Isto tudo porque um bom contador de anedotas, tal como um ilusionista, conduz a nossa atenção através deste mecanismo da previsibilidade subvertida em direcção a um facto qualquer central, enquanto nos distrai de outros acontecimentos periféricos. A boa anedota, a anedota que nos faz rir, mas que a gente esquece logo de seguida, é pois aquela que parte da nossa expectativa e a desvia sem darmos por isso para um final inesperado.
Alguém se lembra da anedota excelente que o primeiro ministro contou no seu discurso de tomada de posse, que nos fez rir tanto na altura?
As boas anedotas são as anedotas imprevisíveis, que fingem seguir um padrão conhecido, mas depois, subtilmente e através de um controlo fino do ritmo, vão numa outra direcção, totalmente inesperada. A gente ri muito na altura, a explosão emocional é grande, mas, num momento, não sobra de tudo isso mais que uma vaga recordação.
Isto tudo porque um bom contador de anedotas, tal como um ilusionista, conduz a nossa atenção através deste mecanismo da previsibilidade subvertida em direcção a um facto qualquer central, enquanto nos distrai de outros acontecimentos periféricos. A boa anedota, a anedota que nos faz rir, mas que a gente esquece logo de seguida, é pois aquela que parte da nossa expectativa e a desvia sem darmos por isso para um final inesperado.
Alguém se lembra da anedota excelente que o primeiro ministro contou no seu discurso de tomada de posse, que nos fez rir tanto na altura?
2009/03/16
Cidadania
Há seis semanas atrás o meu BI expirou e tive necessidade de pedir um novo. Na Loja do Cidadão informaram-me que, dado não haver urgência, o melhor era pedir um Cartão de Cidadão. Prazo de entrega: dez dias em média.
Aceitei, não sem antes ter feito três tentativas para consegui-lo: a primeira para obter a informação propriamente dita; a segunda para obter a "senha" (que estava esgotada nesse dia) e a terceira, que me custou cinco horas de espera: o sistema automático não estava operacional...
Chegada a minha vez e após ter inserido os dados no computador, a funcionária, solícita, informa-me que terei de aguardar entre dez dias e dois meses (!?) pelo cartãozinho. A razão de tal demora não dependia dela: a partir daquele momento o processo deixava de pertencer-lhe...
Volto a casa, rendido à eficácia deste "simplex", anunciado como a solução dos multiplos cartões pelo informático-mór deste reino do absurdo.
Hoje, ao abrir o jornal, deparo com um anúncio de quarto de página, encabeçado pelo título: " Aviso aos cidadãos eleitores". De acordo com a informação, todos os portadores do Cartão de Cidadão ficam automaticamente recenseados na freguesia onde habitam. Fui confirmar. Já lá estou...mas ainda não tenho o cartão!
Por momentos, sinto-me num filme do "Twilight Zone". Procuro uma explicação. Vale-me o inseparável Coetzee, também ele um estrangeirado na Austrália, que escreve no seu último livro (Diário de Um Mau Ano) o seguinte: "Nascemos súbditos. Somos súbditos a partir do momento em que nascemos. Uma marca dessa sujeição é a certidão de nascimento. O Estado aperfeiçoado detém e conserva o monopólio de atestar o nascimento (...) não se trata apenas de não podermos entrar no Estado sem certificação: aos olhos do Estado, não morremos enquanto o nosso óbito não for certificado; e só nos é passada uma certidão de óbito por um funcionário (ou funcionária) que, por sua vez é detentor (ou detentora) de uma certificação estatal (...) Que o cidadão viva ou morra não interessa ao Estado. O que importa ao Estado e aos seus registos é se o cidadão está vivo ou morto".
Enquanto aguardo o cartão, penso na melhor forma de utilizá-lo. Satisfaz-me saber que poderei usá-lo três vezes este ano. O Estado poderá confirmar que estou vivo.
Aceitei, não sem antes ter feito três tentativas para consegui-lo: a primeira para obter a informação propriamente dita; a segunda para obter a "senha" (que estava esgotada nesse dia) e a terceira, que me custou cinco horas de espera: o sistema automático não estava operacional...
Chegada a minha vez e após ter inserido os dados no computador, a funcionária, solícita, informa-me que terei de aguardar entre dez dias e dois meses (!?) pelo cartãozinho. A razão de tal demora não dependia dela: a partir daquele momento o processo deixava de pertencer-lhe...
Volto a casa, rendido à eficácia deste "simplex", anunciado como a solução dos multiplos cartões pelo informático-mór deste reino do absurdo.
Hoje, ao abrir o jornal, deparo com um anúncio de quarto de página, encabeçado pelo título: " Aviso aos cidadãos eleitores". De acordo com a informação, todos os portadores do Cartão de Cidadão ficam automaticamente recenseados na freguesia onde habitam. Fui confirmar. Já lá estou...mas ainda não tenho o cartão!
Por momentos, sinto-me num filme do "Twilight Zone". Procuro uma explicação. Vale-me o inseparável Coetzee, também ele um estrangeirado na Austrália, que escreve no seu último livro (Diário de Um Mau Ano) o seguinte: "Nascemos súbditos. Somos súbditos a partir do momento em que nascemos. Uma marca dessa sujeição é a certidão de nascimento. O Estado aperfeiçoado detém e conserva o monopólio de atestar o nascimento (...) não se trata apenas de não podermos entrar no Estado sem certificação: aos olhos do Estado, não morremos enquanto o nosso óbito não for certificado; e só nos é passada uma certidão de óbito por um funcionário (ou funcionária) que, por sua vez é detentor (ou detentora) de uma certificação estatal (...) Que o cidadão viva ou morra não interessa ao Estado. O que importa ao Estado e aos seus registos é se o cidadão está vivo ou morto".
Enquanto aguardo o cartão, penso na melhor forma de utilizá-lo. Satisfaz-me saber que poderei usá-lo três vezes este ano. O Estado poderá confirmar que estou vivo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)