2007/12/21

Fado Português

Nada como a época natalícia para ir às compras. Animada pela aquisição do Tiepolo, a Ministra da Cultura lá decidiu adquirir a colecção de discos de Fado, que estava na posse do inglês Bruce Bastin há trinta anos. São oito mil discos no total, dos quais cinco mil da colecção particular de Bastin. Os restantes três mil foram posteriormente adquiridos no Brasil e juntos ao "pacote". Pelo total, e após sete anos de negociações (uma verdadeira "saga"), será paga a módica quantia de 1,1 milhão de euros. Não sabemos se o valor é real, mas os "experts" dizem-nos que estas coisas não têm preço...
Enquanto não conhecermos o espólio completo é difícil avaliar do seu valor. Temos de dar o benefício de dúvida aos compradores, enquanto a equipa de técnicos (por constituir) vai inventariar e catalogar o espólio que irá para um Museu da Música (por construir). Pode ser que no fim, cheguemos todos à conclusão que metade dos discos não têm o valor que se lhes atribui. Mas que importa isso? A colecção é "nossa" e daqui não sai...
A ironia desta história toda é que Bruce Bastin tinha comprado a colecção, a preços de saldo, numa loja do Chiado quando visitou Portugal nos anos setenta. Perguntar-se-á: mas que culpa tem ele disso? Nenhuma, digo eu.

2007/12/20

Natal dos Pobres

De acordo com o mais recente "ranking", de salários mínimos praticados na Europa, Portugal ocupa o 11º lugar numa lista de vinte países onde este rendimento foi instituído:

Luxemburgo: € 1570
Irlanda: 1430
Reino Unido: 1361
Holanda: 1301
Bélgica: 1259
França: 1254
Grécia: 668
Espanha: 666
Malta: 585
Eslovénia: 522
PORTUGAL: 426
R. Checa: 288
Hungria: 258
Polónia: 246
Estónia: 230
Eslováquia: 217
Lituânia: 174
Letónia: 172
Roménia: 114
Bulgária: 92

Confrontado com esta disparidade dos mínimos europeus, o primeiro-ministro declarou ser o recente aumento o maior em termos percentuais. Eu diria mesmo mais: comparados com o Darfur, somos uns ricaços...

2007/12/16

Azar ou ASAE?

Anda para aí a correr um abaixo assinado contra a actuação da ASAE na área da comecialização de alimentos e restauração. O âmbito de actuação deste organismo, creio, estende-se muito para além disto, mas foram os "morfes" que motivaram os autores a pôr o dito abaixo assinado a circular.
Devo confessar que não assino porque não concordo com os pressupostos do texto. Como tenho pacientemente explicado a todos os estimados amigos e conhecidos que se apressaram a enviar-me o dito abaixo assinado, acho que, entre a ASAE e os contestatários, a uns lhes falta bom senso, e aos outros bom senso lhes falta... Ao leitor caberá decidir quem é quem nesta dicotomia.
Enquanto observo este intenso e arrebatador confronto vou subindo ao céu com um cozidinho da panela, preparado de forma rigorosamente tradicional como a foto ilustra (foto que foi tirada em local que por razões de bom senso não vou revelar...)
Participar num ritual destes é coisa que temos de merecer. A tradição começa nas próprias panelas que foram há muito convenientemente tratadas com toucinho. Este tratamento preliminar prepara-as para esta delicada e longa operação. Os ingredientes são, de cada vez, seleccionados pessoalmente pela cozinheira e provêm directamente do produtor. O prato é confeccionado com os ritmos, os vagares e os procedimentos que a regra tradicional dita. Usam-se brasas, nada de gás! A preparação, que dura cerca de seis horas, é levada a cabo por mãos experientes e carinhosas. A cozinheira aliás sorri serenamente --com um sorriso que nos permite perceber a razão primeira da excelência de tamanha iguaria-- quando lhe falamos nestas coisas de ASAEs, abaixo-assinados, etc e tal...
Azar dos membros da ASAE se, por fundamentalismo, nunca tiverem a oportunidade de se confrontar com um pitéu deste calibre. E azar dos "abaixo-assinantes" se alguma vez, por falta de uma ASAE por perto, lhes derem cozido com carne de gato por cozido com carne de lebre...