2023/01/31

O país está melhor, mas os portugueses estão pior...

O governo comemorou um ano de existência e o primeiro ministro deu uma entrevista para assinalar a efeméride. Uma entrevista evasiva, onde o entrevistador de serviço se prestou ao papel de "caixa de ressonância" do PS.

Nada que espante, já que aos jornalistas cabe interrogar os políticos (governantes ou não) e a estes responderem de acordo. O problema é quando o entrevistado é uma "velha raposa" e o entrevistador um "soft", que faz perguntas e dá as respostas, o que sempre facilita o papel do convidado. 

Depois da maioria absoluta, conquistada há um ano (a segunda da história do Partido Socialista), nada fazia antever um ano tão atribulado para o governo, como este último que atravessámos. Se é certo que há variáveis que o governo não pôde controlar (pandemia, inflação, guerra na Ucrânia) outras há que lhe são favoráveis: o facto de ter obtido uma maioria confortável, ter 4 anos de governo pela frente e ter dinheiro para gastar (programas europeus de coesão 20/20 e 23/30, para além do PRR), num total de cerca de 60.000 milhões de euros, até 2029! Uma "pipa de massa"! 

Mais, após dois anos de pandemia, o país voltou a ter o seu melhor ano de turismo desde 2019 e as perspectivas de crescimento do PIB (em comparação com o período homólogo) são positivas (6,8%). O desemprego continua em baixo (6,7%), a previsão da diminuição da dívida pública é de 122% para 114% do PIB e o deficit ronda os 1,5%. Acresce que a inflação média, apesar de alta (8,9%), revelou-se um "maná" para o governo, já que o IVA arrecadado nas transações comerciais, ajudou a "encher" os cofres do estado, o que permite ao governo mostrar um bom quadro macro-económico. Bom, se é assim (e é assim), porque é que o governo continua a falhar nas principais áreas sócio-económicas da governação? 

Lembremos: 

A saúde continua um caos (com falta de meios e pessoal especializado nos hospitais), o que tem obrigado ao encerramento de unidades de obstetrícia e pediatria, um pouco por todo o país; as filas, nas urgências, não diminuem e, para suprimir as faltas, o governo recorre à contratação de "tarefeiros", os quais são pagos muito acima da contratação colectiva acordada para o sector público;       

A educação, em crise de há dez anos a esta parte, atravessa mais um período turbulento com as maiores manifestações a nível nacional de que há memória, não se vendo fim à vista para a situação gerada; 

A habitação, nomeadamente nas grandes cidades, tornou-se impossível para a classe média, devido aos preços inflacionados por fundos imobiliários e estrangeiros (através dos famigerados "vistos gold"), para além da dificuldade em obter créditos e as taxas de juro praticadas;

Os transportes, nomeadamente a ferrovia, estão caducos, continuando por renovar vias importantes como a ligação a Espanha, da qual fomos isolados por iniciativa espanhola, após a pandemia; 

A nacionalização da TAP revelou-se um "fiasco" e só servirá para revendê-la (leia-se privatizá-la) caso seja recuperada em tempo e valores correspondentes;

As indemnizações milionárias (a administradores falhados) continuam na ordem do dia, não se compreendendo os valores pagos e a "dança de cadeiras" entre ex-CEOs e administradores do estado e empresas privadas;    

Finalmente, a "cereja em cima do bolo": os valores conhecidos para acolher as jornadas de Juventude da Igreja (leia-se Papa) completamente pornográficos, quando comparados com as necessidades vitais da população, após anos de privação e austeridade imposta pelas sucessivas crises a que fomos e estamos sujeitos (resgate, pandemia e inflação). 

Perante este quadro contraditório - com uma situação financeira controlada, uma maioria absoluta para quatro anos e dinheiro a rodos, por um lado; e a pobreza envergonhada, de uma população que ganha, em média, 1200 euros/mês, 25% da qual ganha menos do que 600 euros e 40% passa frio no Inverno - que diz Costa? 

Reconhece os momentos menos bons do último ano (mais de uma dezena de escândalos com ministros, secretários de estado e autarcas) que levaram à demissão do ministro Pedro Nuno Santos, do ex-autarca de Caminha e secretários de estado diversos. Reconhece problemas com o Ministro de Educação, a Ministra da Agricultura, João Cravinho e Fernando Medina, mas desculpa-se com o facto da justiça estar a fazer o seu papel e não caber à política influenciar os processos. 

Mais, diz que houve atrasos nalguns programas e investimentos, o que põe em risco as verbas europeias disponibilizadas para a sua conclusão, mas contrapõe que, apesar de todos estes percalços, o país está a crescer mais do que a média europeia e a situação financeira é estável...

Ou seja, o país está melhor, mas os portugueses vivem pior. Esta não lembrava ao careca. O Costa é um cómico.