2008/06/07

Mais impressões

Ainda no capítulo das impressões, não deixa de ser profundamente caricata a impressão que fica da colagem que a direita (ou pelo menos a direita que não está no poder neste momento...) faz a estas manifestações de descontentamento que atravessam a sociedade portuguesa. Já foi assim, por exemplo, com os professores, e agora continua com os 200.000...
Achará esta direita mentecapta e inútil que temos que os portugueses não sabem avaliar que para o estado actual do país, o seu contributo, o contributo de uma política de direita, foi determinante? Pensará esta direita canhestra que temos que basta colar-se ao descontentamento para ganhar uma credibilidade que perdeu inexoravelmente? Pensarão os novos panditas do PSD que a descoberta súbita de "preocupações sociais" da dra. Manuela Ferreira Leite faz esquecer os tempos em que ocupou a pasta das Finanças? Se pensam assim só posso dizer uma coisa: fico, eu próprio, impressionado!
Cautela porém: a ausência de um projecto, a caducidade completa de determinadas propostas, a pulverização organizativa da esquerda, e a sua teimosia em manter certos feudos (chamemos-lhe eufemisticamente assim...) podem muito bem ditar que a colagem, na prática, cole...

Outras impressões, outras perguntas

Independentemente da impressão que poderá ter causado a manifestação da passada quinta feira ao Primeiro Ministro, uma pergunta a fazer é: qual a impressão que a manifestação causou à esquerda, ou às esquerdas, nomeadamente, aquela que se reuniu no Teatro da Trindade e que tanto incómodo causou ao partido do governo.
Outra pergunta que nós todos devemos fazer a estas esquerdas, as que foram ao teatro e à outra que não foi, será: se, ao contrário do Primeiro Ministro, ficaram impressionados com os números, qual é o plano que têm para dar um conteúdo a toda esta efervescência? Parece uma ocasião de ouro para avançar com um plano, se é que ele existe.
O pior que poderia acontecer seria ter de gramar os comentários dos que apontam a todas estas manifestações o defeito de não conterem propostas. E ficarmo-nos, sem perguntas, todos apenas pelas impressões...

2008/06/06

Avisos, conselhos e impressões

Entre "avisos de amigo" de Mário Soares e conselhos para "terem juízo" de Manuel Alegre, dirigidos em ambos os casos ao Governo, 200.000 mil trabalhadores desfilaram ontem em Lisboa. Os números são, creio eu, oficiais, e não mereceram, que se saiba, qualquer contestação. Tudo decorreu com enorme naturalidade, numa quinta feira à tarde. O Primeiro Ministro reagiu, dizendo também com uma ar de grande naturalidade que não estava impressionado com os números.
Eu é que confesso que começo a ficar impressionado com o Primeiro Ministro...

2008/06/03

Aldina Mourinho

Aldina Duarte, fadista, convidada da SICN a apresentar o seu novo disco, está há mais de trinta minutos em estúdio aguardando que José Mourinho termine a sua apresentação como treinador do Inter.
Não é a primeira vez que a SICN interrompe emissões com convidados especiais e não é a primeira vez que o faz por causa de Mourinho. É uma opção jornalística da estação de televisão.
Quando lemos que as actividades do porto de Lisboa vão estar paradas durante os jogos da selecção para que os estivadores e demais trabalhadores portuários possam seguir o campeonato europeu de futebol, está tudo explicado.
Os portugueses podem estar muito preocupados com a crise petrolífera, a falta de peixe ou a crise governamental. Mas, mais do que tudo, estão preocupados com futebol. O jornalismo português não foge à regra. A SIC é o espelho da nação.
Ignoramos se Aldina ficou no estúdio. Provavelmente, não. Seria bom que os convidados da televisão dessem prioridade a outras coisas (neste caso a arte do fado) em detrimento da arte futebolística e tivessem a coragem de recusar tal subserviência ao desporto, mesmo que esse desporto seja o futebol e o entrevistado seja Mourinho. Com jornalismo deste jaez não há opinião crítica que resista.

2008/06/02

Exageros

A selecção nacional de futebol lá partiu para a Suiça rodeada das habituais manifestações de fervor patriótico e do habitual exagero lusitano. Viajam com ela muitas frustrações, incoerências, parasitismo, oportunismo e ambições projectadas, dos portugueses e dela própria. E rodeiam-na, sobretudo, somas consideráveis de uma energia, quanto a mim, totalmente desproporcionada e deslocada.
A selecção e o Euro 2008 não são substituto para colocar Portugal no trilho certo e para transformar a vida dos Portugueses num processo menos doloroso que aquele que se vive, mas até parece. Correspondesse esta selecção a uma ideia verdadeiramente aglutinadora e fosse ela o espelho de uma situação global do país tão empolgante quanto o empolgamento que vamos vendo em relação ao jogo da bola e talvez tudo isto valesse a pena. Desse o Estado metade da atenção e dos meios às questões nucleares que interessam verdadeiramente aos portugueses, que dá continuadamente a este projecto e a história actual deste país seria outra.
Assim, cá vamos nós para mais uma prova relativamente inútil, ligeiramente fútil e seguramente inconsequente das nossas capacidades. Cá vamos nós para mais esta prova de "fé" em que permanentemente andamos metidos. Esta só não tem velas...
Mais exagerado do que tudo isto só talvez mesmo o comportamento dos suiços. Se não queriam os exageros do futebol no seu território porque raio concorreram à realização deste europeu? Prevejo o pior...
Uma coisa me dá algum gozo em tudo isto: em matéria de exageros, como em matéria de ridículo, os extremos tocam-se!