2012/11/07

Que futuro para Isabel Jonet?


A conversa de Isabel Jonet, ouvida assim a frio e avaliada pelo seu valor facial, é um enorme zero. Não há uma ideia, coerência no discurso, humildade perante o sofrimento, manifestação de virtude, perspectiva histórica, preocupação em extrair uma lição da experiência (que deveria ser rica!), sinal de busca honesta da verdade. A sua argumentação não contém uma só explicação aceitável ou séria para os fenómenos que afligem a nossa sociedade, não há, por parte deste alto quadro dirigente de uma grande instituição social, uma partilha credível da sua experiência, não se ensaia uma avaliação profissional ou uma crítica consequente, numa área onde afinal exerce a sua actividade principal.
Não há nada, é o vazio.
Os profissionais da caridade têm uma responsabilidade dupla. Para além de terem de exercer a sua profissão com competência numa área especialmente frágil, têm a obrigação de sinalizar, sem equívocos, que "abraçaram" uma profissão temporária e não pretendem perpetuar a matriz que a ditou, sob pena de poderem ser considerados instigadores da desgraça alheia. A profissão de agente de caridade devia ser, pela própria natureza da sua substância, precária. O negócio da caridade, a ter de existir, devia ser efémero. Qualquer sinal de permanência ou continuidade deveria fazer imediatamente soar os alarmes e levar o agente da caridade a mudar de ramo, concentrando-se no combate aos factores que sustentam o "negócio", exercendo a crítica da sua natureza, apoiando os "clientes", ajudando-os a encontrar condições para alterar as condições que ditaram o seu infortúnio. A caridade pode ser uma virtude, mas é também sempre um recurso extremo e efémero.
Não parece pensar assim Isabel Jonet. Ela gosta da crise. Se a crise for controlada ela perde o emprego. O que sabe Isabel Jonet fazer fora do Banco Alimentar?
Esta intervenção suscitou, pelo que percebo, reacções de todo o tipo, onde o denomiador comum é a indignação. Tenho ouvido de tudo sobre ela: que é um nojo, que é pateta, pouco articulada, que parece estar sob o efeito de uma qualquer substância ilícita. Não creio. Acho que é mesmo uma perigosa demagoga, populista, com tiques fascistóides.
Portugal merecia ter uma outra  Marianne.
Cometeu um outro pecado: qualquer mérito que o seu B.A. pudesse ter está agora seriamente comprometido depois destas declarações. Já há muito que se levantavam legítimas dúvidas sobre as virtudes da iniciativa. Agora estão dissipadas.
O que me custa perceber, porém, é de onde vem todo o interesse em promover esta criatura e a sua actividade bancária, e de que estranhas razões decorre todo este tempo de antena... Resta ficar a atento ao futuro de Isabel Jonet.