2019/03/08

O Dia da Mulher


Comemora-se, hoje, o "dia internacional da mulher", designação encontrada para homenagear a "maior metade" da humanidade. Pena é, precisarmos de "um dia" especial para lembrar, entre outras coisas, o que já devia ter sido abolido há muito tempo (violência de género, por exemplo) e que continua a persistir nos dias que correm.
Nunca, como este ano, foi a data tão lembrada, sinal dos tempos e da consciência que, cada vez mais homens e mulheres, começam a ganhar para um problema que se tornou uma verdadeira chaga social. Desde o início do ano, foram já 13, os crimes de violência doméstica reportados (11 mulheres, 1 homem e uma criança). Mais do que a violência doméstica (que abrange crimes contra idosos e crianças), é a violência de género que predomina, pois são as mulheres as principais vítimas deste flagelo nacional.
Se as polémicas decisões do juíz Neto de Moura serviram para alguma coisa, foi o de terem posto na agenda política este problema que, agora, toda a gente discute, mas que existe de forma larvar há séculos na sociedade portuguesa. Como alguém já referiu na comunicação social, o juíz de Moura "fez mais, paradoxalmente, pela luta contra a violência de género, do que todos os programas e acções das organizações que denunciam este tipo de violência". De facto e pesem os vergonhosos acordãos lavrados pelo polémico magistrado, o coro de protestos na sociedade portuguesa atingiu tal dimensão, que o próprio governo foi obrigado a pronunciar-se e a criar um decreto-lei para tais crimes que, a partir de agora, estarão sujeitos a um processo penal específico. Alguma coisa se ganhou, portanto.
Persistem, no entanto, as questões culturais, sempre mais difíceis de combater e que radicam na tradição de uma herança machista cultivada ao longo de gerações. Não bastam os terapeutas da mente, para decifrarem os instintos homicidas de "homens que matam mulheres", ainda que eles existam e possam habitar o mesmo espaço das vítimas. De acordo com os estudos publicados, este tipo de "serial killers" não ultrapassará os 10%. É preciso, por isso, ir mais longe, pois os relatos sobre a violência entre namorados adolescentes (muitos deles gravados e postos a circular nas redes sociais) não mentem e aumentam a cada ano que passa. Ora, não consta que tais jovens estejam deprimidos ou sofram de problemas congénitos graves. O mais provável é estarem sujeitos a outro tipo de agressões, por parte de progenitores masculinos que, mais tarde, adoptam nas suas relações futuras. A violência entre jovens, sendo um sinal dos tempos, é também um aviso sobre a dificil tarefa de erradicar hábitos seculares, baseados na posse, no controle e no ciúme do parceiro, independentemente do género. Que as mulheres sejam as principais vítimas (as estatísticas não mentem) é um sinal preocupante que nos deve deixar a todos envergonhados. A jornada do 8 de Março, está aí para lembrar o muito que, neste campo, ainda há por fazer. Não como homenagem, mas como dia de luta.