2012/05/17

Grécia: e se não houver plano B?

Perante o falhanço das conversações interpartidárias na Grécia e a crescente subida do Syriza nas sondagens, que apontam para a vitória deste partido nas próximas eleições, o BCE não esteve com meias medidas: suspendeu todos os contactos com a banca grega. O mesmo aconteceu com o FMI, que anunciou só voltar à Grécia quando houver um governo estável. Resultado: uma corrida desenfreada aos bancos, donde foram levantados mais de mil milhões de euros esta semana. A este ritmo, dentro de um mês, o sistema económico entrará em colapso e a Grécia terá de declarar bancarrota, com todas as consequências daí advindas. Desde logo, a saída do Euro. Mas, não serão apenas os gregos a sofrer directamente as consequências. Toda a zona euro será afectada, a começar pelos credores, as economias mais débeis (Portugal) e mesmo outros países, como o Reino Unido, com relações económicas directamente dependentes da zona euro. A estratégia é clara: através desta pressão, a banca tenta destabilizar o processo eleitoral em curso, com vista a evitar a chegada ao poder da única força de esquerda que declarou querer romper com o programa da Troika e aliviar o programa de austeridade imposto à Grécia. Curiosamente, enquanto 80% dos gregos dizem querer continuar no Euro, figuras prominentes como a Sra. Lagarde (FMI) e a própria Merkel, dizem tudo querer fazer para ajudar o povo grego (!?). Em que ficamos, afinal? Porque a História avança e o tempo começa a ser curto para arrepiar caminho, seria bom saber quais as consequências para a moeda única em caso de bancarrota de um dos seus estados membros e se existe um plano B para salvar a Grécia. Vamos acreditar que sim, porque se não existe, então está tudo louco e, quem acreditar nesta gente, corre sérios riscos de ficar contaminado.

Inteligência e progresso



Platão criticou a escrita no Fedro. Porque, dizia, ela colocava o pensamento fora da sua sede natural, retirava-o da mente e dirigia-o para fora, para os apetrechos, artificiais e estranhos, dessa escrita. Ao fazê-lo, acrescentava ainda Platão, a escrita tornava também a mente preguiçosa porque enfraquecia os mecanismos da memória. Platão colocou felizmente as suas dúvidas por escrito, porque se assim não fosse não teríamos tido delas conhecimento...
Mas, não será esta a única debilidade do seus discurso. Longe estava Platão de imaginar que o pensamento escrito, condensado na literatura científica e filosófica e amalgamado ao longo da história, poderia vir um dia permitir a construção de máquinas —bem mais complexas que os simples implementos da escrita do seu tempo— comandadas... pelo pensamento.
Os jornais relatavam  ontem a criação de um braço robotizado que pode ser comandado pelo pensamento, à distância. Parece milagre, mas não é: foi obra de cientistas. É uma manifestação da inteligência humana que não pode deixar de deslumbrar. Mas, coloca também algumas interrogações, que vão para além do próprio objecto.
A consciência humana pode manifestar-se agora fora da mente. Com que fins? A que distância? Através de que corpos ou objectos?
É óbvio que a inteligência é capaz de feitos notáveis. Para o bem e para o mal. Apesar da evidência diária e dos esmagadores e aparentemente inelutáveis sinais de estupidez —também ela, ora consequente ora inconsequente— que nos chegam constantemente de todo o lado, a Humanidade lá vai progredindo qualquer coisita. Parece também, como me dizia a minha amiga AG, que a inteligência, quando colocada ao serviço do progresso, é, de facto, uma coisa extraordinária e esse é um factor que contribui sobremaneira para esse efeito de deslumbramento que esta invenção suscita.
Então por que diabo deixamos constantemente que a estupidez vença a inteligência? E por que razão permitimos que a inteligência maléfica triunfe? Qual a razão para a manifesta dificuldade que temos em  distinguir a inteligência que está ao serviço do progresso da que não está. Por que razão hesitamos em  premiar e proteger a primeira, mas não condenamos decididamente a segunda?
O que que nos impede de apreciar um qualquer acto de um indivíduo ou instituição, avaliando-o,  valorizando-o e distinguindo-o à luz deste princípio singelo: trata-se ou não de um acto de inteligência, ao serviço do progresso?

(Nota: a foto foi "picada" dos jornais, espero que, perante a importância do feito que documenta, com a indulgência do seu autor.)

2012/05/15

Da democracia na Grécia

É oficial: a Grécia vai para eleições, agora que o Presidente da República deu por terminada a ronda de conversações com os principais partidos gregos sem ter conseguido um acordo. Este era um desfecho previsto, quando os partidos da Troika (Nova Democracia e PASOK) não quiseram aliar-se num governo de coligação e a frente anti-troika (SYRIZA) não reunia votos suficientes para formar governo. Restava a opção tecnocrata, que todas as forças partidárias recusaram. Cabe ao povo grego (voltar a) escolher a via que deseja seguir: aceitar os ditames da Troika, sabendo que mais sacrificios e privações serão pedidos, numa espiral sem fim à vista; ou romper com este círculo vicioso, sabendo que os sacrifícios e privações continuarão de qualquer forma, ainda que feitos numa perspectiva libertadora. Uma escolha difícil, que irá condicionar, não só o futuro da Grécia, mas toda a Europa e os países intervencionados (Portugal e Irlanda) em especial. É por isto que estas eleições são tão importantes: uma derrota das forças progressistas significará o reforço das medidas neoliberais na Europa e um passo atrás na mudança da opinião pública (que, timidamente, começara a manifestar-se com Hollande); enquanto uma vitória dos partidos anti-troika, poderá significar um "turning point" na política de intervenção levada a cabo nos países da periferia que, desta forma, ficarão em melhores condições de renegociar os ditames dos credores internacionais. Também por isto, estas eleições não serão apenas gregas, pois a todos dizem respeito. Em particular, aos portugueses.

Relvas diz que nunca teve relação estreita com Jorge Silva Carvalho - TSF

Relvas diz que nunca teve relação estreita com Jorge Silva Carvalho
Não estaria na altura de ligar o corta-Relvas?