2015/10/03

Reflexão do dia

Votem esquerda e deixem-se de merdas!

A partir de amanhã

A partir de amanhã não vou aceitar mais nenhuma queixa, não vou tolerar mais nenhum lamento, não vou aceitar mais nenhuma finta, condescender com nenhum oportunismo, ignorar nenhuma contradição, ser brando com nenhuma incoerência, pactuar com nenhum acto de cobardia.
A partir de amanhã vamos passar a falar com uma voz diferente, tu e eu.

2015/10/02

Dez dias noutra cidade (4)


Um dos museus mais emblemáticos de Amsterdão, é o Scheepvaartmuseum (Museu da Marinha). Situado na zona portuária, o Museu esteve, durante os últimos anos, encerrado ao público para obras de modernização. Recentemente reaberto, é visitado por milhares de locais e turistas que ali se deslocam em peregrinação diária. Hoje, o Museu, ainda que dentro do mesmo edifício, ganhou em espaço e informação, graças às novas tecnologias utilizadas e à informação, à distância de um clique, permitida pela multi-média.
A praça central interior, foi libertada dos seus artifícios e é agora um amplo páteo coberto por um telhado envidraçado, que ilumina com luz natural todo o espaço. Depois, as exposições permanentes foram deslocadas para as alas do edifício, dividindo-se agora em três grandes áreas: a ala Oeste, dedicada às histórias (A vida a bordo, A vida da baleia, etc.);  a ala Norte, dedicada às experiências (O porto de Amsterdão, A viagem marítima e a visita aos navios VOC e Christian Brunings, réplicas de veleiros holandeses famosos): e a ala Este (dedicada às pinturas marítimas, aos ornamentos dos navios, aos instrumentos de navegação, aos modelos de iates, aos albuns de fotografias e às porcelanas e pratas usadas a bordo). O Museu tem ainda uma loja de "souvenirs" temáticos e uma biblioteca e cafetaria anexa. Um bom modelo de gestão integrada que vale uma visita e onde é possível apreender a odisseia marítima neerlandesa.
Uma nova "trend" na cidade, que parece ganhar diariamente adeptos, são as pequenas fábricas de cervejas artesanais, que surgem um pouco por toda a cidade. De acordo com uma investigação levada a cabo pela "Nederlandse Brouwers" (Associação das oito maiores cervejeiras da Holanda), a média semanal, de copos de cerveja bebidos,  está a diminuir no país. E, pelos vistos, a uma velocidade acelerada: se, em 2011, a média de copos de cerveja por pessoa era de 7,2 por semana; em 2012, era de 6,4 e em 2013, apenas 5,9 (um copo por dia).
A razão deste decréscimo tem a ver, essencialmente, com o crescimento explosivo do número de cervejeiras alternativas. Esqueçam as marcas conhecidas, a Heineken, a Grolsch ou a Amstel. Hoje não há bar, ou supermercado, que não tenha uma prateleira de cervejas especiais (leia-se biológicas) que, apesar do preço mais alto, são disputadas em todas as festas e reuniões. Também nos restaurantes, já é possível pedir uma cerveja artesanal, fenómeno relativamente recente na cidade.  Pedir uma I.P.A. (India Pale Ale), uma Ciel Blue, uma Mannenliefde, uma Chouffe ou uma Witte, tornou-se quase tão banal como pedir uma "pils" (cerveja à pressão), hoje cada vez mais banal e desconsiderada por conter conservantes, algo a que o consumidor mais crítico (e endinheirado) não é alheio. Mas, a verdade é que uma vez provada, é impossível resistir a uma boa cerveja. Lá fizémos o nosso périplo e não estamos arrependidos. Para o visitante, e estreante, nestas andanças, recomendamos a Brouwerij't IJ, a mais famosa e mais antiga da cidade, não muito distante da Estação Central de caminhos de ferro. Uma verdadeira catedral, reconhecível pelo moinho antigo onde está instalada,  que dispõe de uma esplanada de largas mesas e bancos corridos, onde podem ser degustadas as marcas produzidas no local. Outras (pequenas) cervejeiras, são: a Butcher's Tears, a Oedipus, a Pampus, De Vriendschap, De 7 Deugen, De Prael, a Bekeerde Suster, a Troost, 2 Chefs Brewing, a Kraanspor Brewing, a Bierfabriek e a Brouwerij Zeeburg.
Confuso? Nada como entrar, aleatoriamente, numa e pedir ao barman de serviço, a sua opinião sobre as marcas à venda. Verificará que, na maior parte dos casos, receberá uma informação cuidada e conhecedora do produto que escolher. Depois...bom, depois é só beber...   
Uma nota final sobre a política local: durante o tempo em que permanecemos na cidade, o assunto dominante, nos media holandeses, eram os "refugiados". Lá, como cá, uma matéria sensível, com um governo cauteloso, ainda que disposto a acolher uma quota de refugiados no quadro europeu e com as organizações humanitárias, já em campo, preparando os centros de acolhimento por todo o país. De acordo com o planeamento central, os refugiados serão distribuidos maioritariamente por diversas localidades na província. Localmente, as populações entrevistadas, dividem-se entre os que acham bem receber refugiados das guerras e os que se opõem, veementemente, contra estrangeiros de outra cultura (leia-se muçulmanos) potenciais "causadores" de distúrbios...No parlamento, e à excepção do ismalofóbico e xenófobo Geert Wilders, líder parlamentar do partido PVV (extrema-direita), o consenso, ainda que prudente, é a tónica dominante. Entretanto, na terceira terça-feira de Setembro,  como manda a tradição, o rei, sempre "generoso" e "magnânimo", anunciava no discurso de trono (Orçamento de Estado para 2016) a "devolução" de 5 mil milhões de euros aos contribuintes holandeses. É verdade que o desemprego (600.000 pessoas) continua a preocupar sua alteza, mas dias não são dias...Uma "benesse",  a anunciar o "fim" da austeridade de anos recentes...Onde é que eu já ouvi isto?

            

2015/10/01

Dez dias noutra cidade (3)


Situado no Keizersgracht (Canal do Imperador) no casco histórico da cidade, o FOAM - Fotografiemuseum, é uma das galerias mais prestigiadas de Amsterdão. Num país de fotógrafos, visitar as exposições em exibição temporária, é um "must" para todos os amantes da arte.
Lá fomos, num dia chuvoso, ideal para fugir ao frenesim de uma cidade literalmente invadida por turistas que sempre procuram os museus de pintura. 
A galeria ocupa um prédio senhorial de quatro andares, onde podem ser vistas quatro exposições em simultâneo. Na impossibilidade de ver todas, devido ao adiantado da hora, concentrámo-nos nas mais importantes: "Magnum Contact Sheets" (1930-2010) e "Bible and Dildo" da japonesa Momo Okabe.
Se a primeira constitui um excelente repositório de 60 fotografias icónicas (de Che Guevara a Malcom X, passando por M. Luther-King e John Kennedy) da afamada agência fotográfica, onde pontuaram nomes como Robert Capra, H. Cartier-Bresson, David Seymour, Martin Parr e tantos outros; a segunda constituiu uma revelação (Okabe tem 34 anos e ganhou este ano o prémio especial da galeria Foam) e é um verdadeiro "murro no estômago", devido ao tema (transexualidade e dependentes de droga) e à crueza das fotos (muitas delas tiradas numa clinica médica, algures na Tailândia).  São fotos enormes e a cores, sobre marginais da sociedade japonesa, muitos deles amigos e namorados da fotógrafa, que os acompanha em momentos intimos da sua existência.
Outro dos edifícios icónicos a visitar, é o "Eye", que alberga a moderna Cinemateca Nacional. Situado na margem Norte da cidade, o "Eye" é facilmente identificado pelas suas formas arrojadas e cor branca, a lembrar o avião Concorde.
Para além dos filmes (clássicos e em estreia) que passam em sessões contínuas nas suas 8 salas, a Cinemateca possui ainda um espaço multi-média dedicado à história do cinema, uma loja de "souvenirs" de arregalar o olho, um restaurante e um café, com vista para o "skyline" da cidade. No espaço (enorme) dedicado às exposições temporárias, uma magnífica Mostra sobre Michelangelo Antonioni, que pode ser visitada até 17 de Janeiro de 2016. Oportunidade única para visionar excertos de todos os seus filmes em écrans gigantes. Desde "O Grito", até a "Profissão Repórter",  passando pela trilogia "A Aventura", "A Noite" e o "Eclipse", "O Deserto Vermelho", "Blow-Up" e "Zabriskie Point", para além dos documentários iniciais, dos anos '50, sobre o vale do Pó, ou os seus últimos filmes ("Identificação de uma Senhora" e "O Mistério de Oberwald") em secções separadas, a exposição é a maior de sempre dedicada ao mestre do cinema moderno italiano e merece, por si só, uma visita à cidade. Para além dos filmes de Antonioni, que passam em versões integrais nas salas do "Eye", a exposição está ricamente documentada com inúmeros materiais da mão de Antonioni, entre os quais alguns dos "guiões" dos seus filmes. O catálogo da exposição é outra obra de arte, com uma impressão impecável, a preto e branco, que custa apenas 20euros. Que mais poderia ambicionar um cinéfilo?     

2015/09/30

Dez dias noutra cidade (2)

A par das inúmeras actividades e eventos que a cidade de Amsterdão oferece ao visitante, o "Open Monumentendag" (Dia do Monumento Aberto), constitui uma oportunidade única para visitar, gratuitamente, edifícios classificados que não fazem parte do circuito turístico da cidade. São edifícios ou complexos privados e públicos que, durante o segundo fim-de-semana de Setembro, são abertos à população e, onde, amáveis voluntários, devidamente identificados com uma t-shirt preta, fazem permanências diárias, prestam informações, vendem livros e postais e servem cafés e bolachas a quem o desejar...
Este ano, a municipalidade "abriu" 22 desses monumentos, que podiam ser visitados durante os dois dias do evento, sendo que nalguns casos era necessário marcação prévia, devido a afluência esperada do público.
Na impossibilidade de visitar todos, devido à distância a percorrer, optámos pelos mais próximos de casa, situados na zona Centro-Este da cidade.
Iniciámos a nossa visita pelas instalações da Marineterrein (Terreno da Marinha) um complexo construído em 1656 pelo Almirantado de Amsterdão. Da construção inicial, apenas restam o muro exterior, o edifício do porto e o portão original. Durante 250 anos, foram ali construídos os barcos da marinha de guerra holandesa. Em 1915, devido à falta de espaço, os navios passaram a ser construídos em Den Helder, no norte do país. Hoje, a maior parte das casernas que povoam o espaço, são utilizadas por serviços administrativos da marinha e, no jardim, ainda podem ser vistas diversas peças navais a lembrar os gloriosos tempos da armada neerlandesa.
Seguiu-se o Arcam, um edifício futurista, construído em 1986, onde funciona um centro de informação sobre a cidade e a sua arquitectura. Quatro andares, repletos de maquetas, desenhos e projectos sobre o aproveitamento lacustre de uma cidade construída sobre a água. De realçar a excelente biblioteca e loja, para além da zona creativa, onde as crianças podiam dar largas à sua imaginação através de construções na areia...
As "Foeliepanden" (os prédios Foelie) são uma série de prédios antigos, situados no antigo bairro judeu da cidade, onde existia uma grande e animada comunidade de comerciantes. Com a deportação e morte da maioria dos seus habitantes durante a 2ª guerra, o bairro perdeu os seus habitantes originais e os prédios foram abandonados. Dos que restam, a "Stadsherstel" (Recuperação Citadina) iniciou a restauração de alguns prédios, que podem ser agora visitados na sua traça original.
Seguiu-se o edifício "Burcht van Berlage" (Castelo de Berlage), definitivamente o ponto alto destas visitas. Um imponente e sólido edifício, da autoria do famoso arquitecto H. P. Berlage, onde desde 1900 funciona o mais antigo sindicato holandês (lapidadores de diamantes). Uma obra magnífica, de paredes forradas a tijolo branco e amarelo e decoradas ao estilo Arte Nouveau. O páteo interior, iluminado por candeeiros de ferro forjado, é rodeado por íngremes escadarias que conduzem a salas revestidas a madeira negra, onde se destacam pinturas e cartazes alusivos ao movimento sindical no século XX. Através do telhado envidraçado e dos inúmeros vitrais que decoram o edifício, podem ainda ser apreciados os pormenores da construção onde tudo, desde o mobiliário aos puxadores de portas, tem a mão de Berlage. Um verdadeiro "castelo", a que não falta uma torre, construída num dos ângulos do edifício, ainda que não acessível ao público.
Porque estávamos perto, não perdemos a oportunidade de visitar a esplanada do Zoo, aberta ao público, onde celebrámos a "pausa cultural" com uma não menos apetecível tarte de maçã adequada ao ambiente.
O dia não terminaria sem uma visita ao Hall da antiga Remise de Eléctricos de Amsterdão, situada na zona Oeste da cidade. Um espaço, anteriormente utilizado como terminal e oficina de carros eléctricos, que há dois anos foi totalmente recuperado e onde hoje funcionam lojas, restaurantes, bares, salas de cinema de arte e um hotel.  Um projecto arrojado e bem integrado numa zona depauperada da cidade, ainda que sujeito a pressões imobiliárias inerentes a este tipo de construções.
Depois de um dia preenchido por emoções, só podíamos ambicionar o descanso. Esperava-nos uma cerveja branca de malte, acompanhada por uma magnífica sandes de salmão do Alasca, única forma de recuperar do cansaço...      

2015/09/28

Dez dias noutra cidade


Amsterdão é, por estes dias, uma espécie de Disneyland do Norte da Europa. Dezenas de milhares de turistas de armas e bagagens (leia-se smartphones e trolleys) em punho, na procura do lugar mítico para o último selfie. Nada a que não estejamos habituados em Lisboa, em ritmo acelerado de gentrificação europeia. Se em Julho e Agosto já era mau, Setembro não é melhor e, para pior, já basta assim...
Porque, para além das férias, outros programas culturais se anunciavam em Setembro, lá fomos, na esperança de (re)descobrir a Amsterdão desconhecida que habita em todos nós e tentar conciliar a aventura com cultura...
Desta vez, o evento prometia: "De ouvido e coração", um concerto dedicado à obra de José Afonso, comentado e interpretado por Amilcar Vasques Dias (piano), Luís Pacheco Cunha (violino) e a "cantaora" Esther Merino. Um projecto com quatro anos de "estrada", que temos vindo a seguir e a admirar em lugares tão díspares como Lisboa (3 vezes), Setúbal, Évora, Badajoz e, agora, Amsterdão.
Nenhum dos concertos foi igual (nisso residirá a riqueza do projecto) e as modificações nele introduzidas apenas realçam a diversidade da música do Zeca. Desta vez, Esther cantou 3 canções (uma nana de Lorca e "Canção de Embalar" e "Cantar Alentejano" de Afonso) e Cunha teve "direito" a um "medley", onde brilhou em "Canto da Primavera", "Cantiga do Monte" e "A Formiga no Carreiro". Para o Amilcar, o resto do programa, sempre acompanhado das curtas e pedagógicas intervenções (desta vez em holandês!) a que nos habituou. O concerto terminaria com "Grândola", um encore apropriado, cantado "à capela" por Fernando Lameirinhas, artista português residente na Holanda.
Duas horas, de puro gozo e deleite, intervaladas por uma desnecessária "koffie pauze", aproveitada para rever caras amigas. Tudo isto numa velha igreja de madeira renovada (Amstelkerk) onde, num passado não muito longínquo, os (então) refugiados portugueses, apoiados por organizações holandesas de solidariedade, denunciavam a guerra colonial levada a cabo pelo governo fascista de Salazar e Caetano.
Só faltou o Zeca. Como ele gostaria de ter ali estado, a ouvir a sua música recriada e tocada por três artistas de excepção. Mas, a música é eterna e universal. O CD do concerto está já anunciado e, no ar, a promessa de uma nova digressão, desta vez alargada  a outras capitais europeias. A organização estará, de novo, a cargo da Q.Art (eventos) coordenada pela nossa compatriota Teresa Pinto.
Melhor início de férias, era impossível. A chuva, que caía após o concerto, não esfriou o ânimo para os próximos dias...