2008/07/19

"Tugaland"

No seu périplo pelo continente africano, o "engenheiro" continua a apertar a mão a ditadores sem escrúpulos.
Depois da badalada visita a Angola, onde num momento de exaltado optimismo chegou a afirmar que o "trabalho do executivo angolano é a todos os títulos notável" (!?), estará hoje na Líbia de Kadhafi, para fechar mais uns negócios. Ignoramos o elogio que fará desta vez, já que a reunião terá lugar na tenda onde, por norma, não são dadas conferências de imprensa. Talvez sejam discutidas as propriedades medicinais do chá de menta, agora que o calor aperta e as miragens no deserto sejam, por vezes, fatais. Para a semana, será a vez do Chavez, mais um ditador em queda de popularidade depois do fiasco das FARC. Tudo serve a estes "socialistas" de salão, desde que a negociata possa ser efectivada. Há quem lhe chame "realpolitik". Eu prefiro chamar-lhe hipocrisia.

2008/07/13

Casamentos e Funerais

Quem, por estes dias, ligue a televisão e assista ao que se passa nos bairros sociais da Grande Lisboa, não pode deixar de traçar paralelos com um filme de Kusturica.
Na quinta-feira, teria sido a desavença de um casal de etnia cigana que provocou os primeiros tiros entre dois grupos rivais do bairro da Quinta da Fonte. No seguimento deste primeiro confronto, um segundo tiroteio teve lugar, este mais violento, entre etnias africanas e ciganas. As imagens, de um vídeo amador, não mentem: dezenas de cidadãos armados disparavam contra outros moradores do bairro, em plena luz do dia. Os confrontos prosseguiram ao longo da tarde, agora já em directo e perante a aparente passividade da polícia e do ar paternal do ministro que avisava solenemente que "não eram permitidas armas ilegais em Portugal". Posteriormente, veio a saber-se que as armas apreendidas eram caçadeiras legais e que, das dezenas de atiradores, apenas dois tinham recebido uma notificação...
No sábado, enquanto decorria um casamento cigano num dos extremos do bairro, membros do grupo rival fugiam do local e, seguidos pela polícia, arrombavam casas na Quinta das Mós, outro bairro de realojamento. Interrogado em directo, o presidente do Concelho de Loures, um verdadeiro personagem saído de "Time of the Gypsies", declarava ufano que "recebia as chaves de quem desejasse ir-se embora" (?).
Ao mesmo tempo que ocorriam estes factos, no outro lado da cidade, um morador cigano do bairro do Zambujal era interceptado pela polícia quando transportava a mulher doente ao hospital. A paragem, de quase uma hora para revistar a carrinha, provocou a morte da paciente devido a um ataque cardíaco. Perante as acusações, a polícia remeteu-se a um silêncio comprometedor.
Não fora a gravidade da situação (a que se junta a completa desorientação de que dão mostras os responsáveis da Administração Interna) e estávamos tentados a convidar o realizador sérvio para filmar em Portugal a próxima saga do povo Roma. A realidade, em Lisboa, há muito tempo que ultrapassou a ficção. Só falta escrever o guião.