Andam as brigadas dos bons costumes muito atarefadas em culpar o primeiro-ministro (oposição e fundamentalistas anti-tabagistas) ou em desculpá-lo (governo e demais clientelas políticas) sobre a questão de fumar ou não fumar num voo fretado de oito horas. Como se essa fosse a questão mais importante da nação. Um jornal de referência chegou, inclusive, a dedicar-lhe a sua manchete.
Entretanto, ninguém se interrogou sobre as declarações do cacique populista venezuelano (que alguma "esquerda" insiste em bajular) e que mandou à merda a chanceler alemã, depois de lhe chamar seguidora de Hitler num discurso público. A mesma chanceler, a quem Sócrates deve a aprovação do Tratado de Lisboa de que tanto se ufana...
Que se saiba, sobre este incidente, o nosso primeiro-ministro (e amigo de Merkel) disse nada. Como nada disse sobre o regime do títere que governa Angola e a quem o governo português presta vassalagem. Tudo a bem da negociata, está bem de ver.
Que os nossos governantes sejam o que são, já não nos deve admirar. Que a imprensa e os fazedores de opinião continuem a dar mais importância a questões como fumar num avião sobre o Oceano Atlântico, dá que pensar...
2008/05/15
2008/05/14
Voltando ao assunto...
Retomo a ideia que tentei desenvolver no texto que intitulei Recobro Ortográfico... Algumas vozes amigas contestam (infelizmente não consegui que o fizessem sob a forma de um comentário que seria bem mais útil) a ideia de que estaremos, sem nos darmos disso conta, a assistir ao nascimento de mais um crioulo com esta introdução tosca de anglicismos no nosso discurso quotidiano. O português, alertam estas vozes, é, ele próprio, um "crioulo" resultante do latim e da "globalização" moderna resultará um inevitável processo da "barbarização" do inglês, como da "globalização" romana nasceu um latim bárbaro.
Não questiono o efeito dos mecanismos que envolvem os processos de globalização, de ontem e de hoje, e não duvido dos perigos que rodeiam o português no contexto de um tal processo. O que contesto aqui é a ideia de inevitabilidade. Como se estivéssemos já condenados a uma extinção inexorável. Ora, justamente a "evitabilidade" desta extinção anunciada é que vem tornar claro a importância da língua. Falar português neste mundo global é a afirmação, não só, de uma realidade linguística única, mas também da possibilidade de nos reinventarmos como povo. Esse é o desafio, que ultrapassa qualquer projecto de cariz nacionalista bacoco. Assistir sem luta ao processo de degenerescência da Língua Portuguesa é, pois, mais do que um simples problema do domínio da linguística, a admissão clara de uma tendência suicida.
Vamos ver quem tem a última palavra...
Não questiono o efeito dos mecanismos que envolvem os processos de globalização, de ontem e de hoje, e não duvido dos perigos que rodeiam o português no contexto de um tal processo. O que contesto aqui é a ideia de inevitabilidade. Como se estivéssemos já condenados a uma extinção inexorável. Ora, justamente a "evitabilidade" desta extinção anunciada é que vem tornar claro a importância da língua. Falar português neste mundo global é a afirmação, não só, de uma realidade linguística única, mas também da possibilidade de nos reinventarmos como povo. Esse é o desafio, que ultrapassa qualquer projecto de cariz nacionalista bacoco. Assistir sem luta ao processo de degenerescência da Língua Portuguesa é, pois, mais do que um simples problema do domínio da linguística, a admissão clara de uma tendência suicida.
Vamos ver quem tem a última palavra...
Ted Nelson

O debate continua, mas a influência de Nelson no nosso quotidiano actual parece insofismável.
Não posso deixar de associar o desenvolvimento destes conceitos aos tempos vividos na América dos anos 60. Não posso deixar de traçar paralelos entre a América dos anos 60 e o Portugal dessa época, e não posso deixar de encontrar aí factores que me parecem contribuir decisivamente para o atraso, nunca recuperado do nosso país.
Onde estavam os "Nelsons" portugueses nessa altura? Na guerra ou a fugir dela. Poderia ter havido "Nelsons" portugueses? Dificilmente, já que a luta dos "Nelsons" potenciais se situava ao nível da quase sobreviência, material, espiritual e intelectual. Enquanto na pátria, aos "Nelsons" pouco tempo lhes sobraria, depois de assegurar a sobrevivência, e nenhumas condições estariam criadas para imaginar um futuro liberto dos fantasmas da repressão, no estrangeiro, também não me parece que os "Nelsons" potenciais tenham tido tempo, disposição e condições para imaginar o nosso futuro no futuro.
O Xanadu é um projecto de liberdade. Não é possível concebê-lo no quadro de um quotidiano repressivo e inibidor. As condições brutais em que decorriam o protesto contra a repressão e a luta pela sobreviência quotidiana no Portugal dos anos 60 ditaram atrasos de que ainda hoje nos não libertámos, para além de tiques e formas de actuação dessas gerações de que as gerações mais novas se começam a aperceber e a combater. Vamos ver é se no seio das novas gerações surgirá a capacidade de reacção que lhes permita imaginar um Xanadu qualquer, ou se elas se vão acomodar.
Uma coisa é certa: ninguém os vai obrigar a usar gravata ou a cortar o cabelo...
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