2015/01/02

E os melhores filmes de 2014, foram...

Agora que 2014 terminou, nada como um balanço de coisas boas, pois para mal já basta assim...
Ora, uma coisa boa é (sempre) o bom cinema, essa arte que alguém disse um dia ser a mais completa de todas (devido ao processo de montagem, presumo eu).
Da mesma forma que em 2013, o ano que findou foi um bom ano em termos de estreias e reposições cinematográficas. Também os festivais e ciclos exibidos confirmaram esta tendência, nalguns casos completados por excelentes colectâneas, muito por mérito das distribuidoras Medeia e Midas, dois oásis num mercado dominado pela distribuição "mainstream". 
O ponto mais negativo, continua a ser a queda do número de espectadores, que o encerramento de  históricas salas, como os cinemas King, apenas veio confirmar.  Em contrapartida, assinale-se a (re)abertura do velho Ideal (ex-Cinema Paraíso), graças a uma parceria entre a Casa da Imprensa e a distribuidora Midas. Virado para o cinema português, reposição de clássicos e estreias europeias, o "Ideal" veio, de alguma forma, colmatar a falta dos "King", ainda que uma sala não chegue para substituir quatro...
Na impossibilidade de ver tudo o que de bom passa em Lisboa (e não só), resta-nos a "short list" do costume, reduzida por questões de espaço a dez títulos, um número redondo, misto de qualidade e gosto, conceitos sempre subjectivos como sabemos. Nem todos são filmes recentes, ainda que todos tenham sido estreias em Portugal, da mesma forma que há obras de ficção e documentários nesta lista ordenada sem preocupações de hierarquia. 

A IMAGEM QUE FALTA - Rithy Panh (Cambodja/França)
O ACTO DE MATAR - Joshua Oppenheimer (Dinamarca/Noruega/Reino Unido)   
BOYHOOD - Richard Linklater (EUA)
CAVALO DINHEIRO - Pedro Costa (Portugal)
A FLOR DO EQUINÓCIO - Yasujiro Ozu (Japão) 
A GRANDE CIDADE - Satyajit Ray (Índia) 
A GRANDE BELEZA - Paolo Sorrentino (Itália/França)
A EMIGRANTE - James Gray (EUA)
MAMÃ - Xavier Dolan (Canada)
MAPAS PARA AS ESTRELAS - David Cronenberg (Canada/EUA/Alemanha/França) 

De registar ainda os ciclos dedicados a Ingmar Bergman, Yasujiro Ozu e Satyajit Ray, com direito a reedições em DVD, para além de reposições de clássicos como "A Desaparecida" de John Ford, "O Garoto" e "Luzes da Cidade" de Charles Chaplin e "Mauvais Sang" e "Boys Meets Girl" de Leos Carax, estes últimos igualmente editados em novas versões digitalizadas.
No cinema português, a destacar "Os Maias" de João Botelho e "E Agora? Lembra-me" de Joaquim Pinto, como os de maior sucesso da crítica e de bilheteira.     
Alguns destes títulos ainda estão a passar nas salas portugueses, pelo que recomendo o seu visionamento. Bons filmes!

2014/12/29

E a Grécia aqui tão perto...

Reuters

A Grécia terá eleições antecipadas em Janeiro de 2015.
Após três votações parlamentares, os deputados gregos não conseguiram escolher um candidato presidencial, com maioria absoluta de votos. De acordo com a constituição grega, após três votações inconclusivas, o primeiro-ministro é obrigado a dissolver o parlamento e a convocar eleições antecipadas, as quais deverão ocorrer no dia 25 de Janeiro.
Porque é que estas eleições são importantes?
Porque, neste momento, a Grécia é um país intervencionado, sujeito a um programa de ajustamento sob a supervisão da mesma Troika que esteve em Portugal e deixou o nosso país ainda mais endividado do que estava antes do programa ser aplicado; e, da mesma forma que em Portugal, foram os partidos gregos (no poder) os principais responsáveis pelo descalabro das contas públicas e a causa directa pela intervenção externa naquele país. 
As razões por que isso aconteceu, já foram escalpelizadas em dezenas de "posts" e artigos de opinião ao longo destes últimos anos e, se algumas dúvidas existiam, as recentes declarações da presidente do FMI (um dos parceiros da Troika) sobre os programas nos países intervencionados (Grécia, Irlanda e Portugal) falam por si: os programas foram desajustados, empobreceram as populações dos países em causa e criaram dívidas soberanas impagáveis no futuro, porque estas são agora maiores do que antes da intervenção.
Como é que isto foi possível?
Desde logo, pela má gestão dos respectivos governos que directamente (finanças aldrabadas e aumento descontrolado da despesa pública, nos casos da Grécia e de Portugal) e indirectamente ("bolha" imobiliária e crédito fácil, no caso da Irlanda) foram obrigados a pedir a intervenção de organismos internacionais (FMI, BCE e UE), para consolidarem as suas finanças. As condições estabelecidas pelos bancos para concederem os empréstimos (juros altos e prazos curtos) em países da zona Euro (sem possibilidade de desvalorização da moeda) causaram crises sociais e económicas sem precedentes. Porque as populações empobreceram e deixaram de consumir, as economias retraíram-se e entraram em recessão, tornando a dependência externa ainda maior. Não é, pois, de admirar, que após a "intervenção" da Troika, a dívida portuguesa tenha aumentado para cerca de 130% do PIB e a dívida grega para 175%! Obviamente, os juros a pagar pelos empréstimos não pararam e continuam a aumentar exponencialmente, uma vez que são calculados em função do risco inerente a economias que não crescem acima de 1% ao ano. Perante tal cenário, é natural que as famigeradas agências de "rating" continuem a considerar tais economias como "lixo", o que na prática quer dizer que ninguém quer investir nestes países ou, se o faz, exige contrapartidas impagáveis (já houve bancos alemães a exigirem ilhas gregas em troca...).
Estamos perante um problema sem solução?
Esta é a pergunta que todos fazem, dentro e fora dos países intervencionados.
Enquanto a UE (leia-se, governo alemão) não abrir mão do "diktat" que impõs aos países membros da zona Euro, que os impede de renegociar a dívida pública existente (através da sua mutualização, do alargamento de prazos e de baixa de juros) não só as dívidas serão impagáveis, como os países endividados ficarão mais dependentes no futuro. Provavelmente, essa é a estratégia do capital financeiro internacional. Para que isso seja possível, deverá contar com governos cúmplices e colaboradores, como tem sido o caso do governo português e do governo grego, ainda que este, recentemente, tenha recusado aplicar mais medidas de austeridade.
A alternativa, é romper com este ciclo de subjugação e, se não restar outra solução, abandonar a zona Euro, o que vem sendo defendido por cada vez mais analistas políticos. Esta é, de resto, a "pedra de toque" que separa o governo grego do Syriza (o maior partido da oposição) o qual defende a renegociação da dívida e está à frente nas sondagens para as próximas eleições.
Questionado sobre a crise grega e provável vitória do Syriza, Schauble, o ministro alemão das finanças, já veio declarar que não importa o presidente escolhido, mas a dívida grega, que tem de ser paga. Entretanto, as principais bolsas europeias já reagiram negativamente e o FMI anunciou a suspensão do pagamento da última "tranche" até às eleições. Outra coisa não seria de esperar. Resta, esperar - isso sim - pelos resultados das eleições anunciadas pois, em última instância, será sempre o povo grego a decidir do seu futuro. E esse direito é inalienável, pesem as ameaças vindas do estrangeiro.