2009/03/06

A questão energética em Portugal

A discussão sobre as energias renováveis está na ordem do dia em Portugal. A dependência energética é, sabêmo-lo, um dos factores decisivos que concorre para o défice da balança de pagamentos. A dependência portuguesa das importações de combustíveis fósseis e o peso destes no aumento da nossa quota de emissão de gases que contribuem para o efeito de estufa são questões que preocupam os responsáveis e os levam a trazer esta matéria das estratégias de alteração da política energética para o terreno da discussão políticia. Trata-se com efeito de matéria séria, cuja discussão se afigura urgente e necessária.
Assistimos ontem a um debate interessantíssimo sobre este assunto na AR. Baseado em factos solidamente sustentados em argumentação de índole científica inatacável, o deputado Afonso Candal dizia ao deputado José Eduardo Martins (que se reclama filho de boa gente) que não-sei-quê, sabia que ele estava muito preocupado com os contribuintes, ao que este, citando outras fontes científicas e numa tentativa de exprimir a sua própria interpretação sobre a matéria em discussão, ameaçava que lá fora é que era, enquanto mandava o deputado Candal para não-sei-onde.
Embora não tenhamos percebido exactamente o que foi dito nesta importante discussão, uma vez que os microfones estariam desligados, sabemos que algo de muito importante terá sido pronunciado.
O senhor Presidente da AR, numa tentativa de valorizar o contributo dos senhores deputados, que não se pode deixar de saudar, até referiu que num espaço físico muito confinado como é o da AR, se torna difícil perceber exactamente o que se diz, embora tenha percebido que havia qualquer coisa, não sabendo exactamente o quê... Ora, se bem interpretei as palavras do senhor dr. Jaime Gama, o que ele desejaria era que fosse dado o devido relevo ao debate ocorrido ontem na AR. Não posso estar mais de acordo. A matéria em apreço exige-o. Os portugueses em geral reivindicam-no. A comunidade científica, em particular reclama-o. Esperamos pois que os funcionários da AR, encarregados de elaborar as transcrições do Plenário, tenham tido oportunidade de apanhar tudo o que foi dito, para posterior publicação. Estou certo que este irá constituir um importantíssimo contributo da AR para a definição de futuras orientações estratégicas sobre tão delicada matéria. Atrevo-me mesmo a sugerir que a transcrição deste debate seja objecto de edição especial. Com ilustrações!
Esperamos também que daquela efusiva troca de opiniões os senhores deputados passem aos actos. A bem da Nação.

A carga do Kepler

Parte dentro de pouco tempo para o espaço sideral profundo o telescópio espacial Kepler. Uma espécie de máquina de fotografar digital gigante voadora, de grande precisão, especialmente concebida para averiguar se haverá por aí mais planetas como o nosso.
Tendo em conta a forma como o projecto foi concebido, a expectativa reside em perceber se o grau de probabilidade de existência desses planetas é elevado, e é portanto possível encontrar provas abundantes de existência de condições de sustentação da vida, tal como a observamos na Terra, ou se, pelo contrário, a probablilidade dessas condições existirem é diminuta, de onde resultará a conclusão que o mais certo é sermos mesmo um planeta único.
O grau de sofisticação, a monumentalidade dos desígnios, os recursos envolvidos e as expectativas geradas em torno de uma missão como esta contrastam dramaticamente com o que se vai observando no planeta de onde o Kepler é lançado. Por aqui vamos observando a sofisticação da catanada, o desígnio rasteiro, a sonegação ou o emprego mesquinho dos recursos existentes e o estorvo ou mesmo a aniquilição das expectativas mais legítimas.
A missão do Kepler vai-nos revelar que se a probabilidade de existência de outros mundos habitáveis fôr alta, talvez chegue da lonjura da galáxia uma solução simpática: se não nos conseguirmos mesmo entender de todo por cá, teremos a possibilidade de zarpar para outras paragens. Se a promessa desses outros mundos habitáveis não se verificar ficamos mesmo condenados a termos de nos entender uns com os outros. Uma vitória certa sobre os obstáculos erguidos "contra as nossas tentativas para nos darmos a conhecer uns aos outros," como escreve Alberto Manguel.
Se calhar não parece, mas o Kepler leva uma carga pesada...

2009/03/03

O verdadeiro "simplex"

No dia em que o primeiro-ministro anuncia as 200 novas medidas do programa "simplex", uma passou despercebida.
Anunciou-a a OCDE da seguinte maneira: "Portugal terá as reformas mais baixas entre os 30 países mais desenvolvidos do Mundo dentro de 20 anos. Segundo a OCDE, em 2030, um português vai usufruir uma reforma de 54% do último salário recebido". Ora digam lá que o "simplex" não funciona?

2009/03/01

Tons

O tom dos discursos do primeiro ministro no congresso do seu partido é inexplicavelmente igual ao tom das declarações do cardeal Saraiva Martins. Será que a semelhança é já o resultado do apelo do cardeal a um entendimento entre a Igreja e o Estado, ou foi Sócrates que falhou a vocação...?