2010/05/14

Eleições (2)

Deixar que eventuais medidas para controlar o descalabro das contas públicas e da economia portuguesa em geral sejam feitas pelas mesmas pessoas que as deixaram chegar a este estado é o mesmo que ter a casa assaltada e pedir aos ladrões para mudarem a fechadura...
Está na hora de aqueles que têm andado a criticar a governação tomem agora a iniciativa para alterar este rumo.

2010/05/13

Eleições (1)

As medidas aunciadas hoje pelo governo deveriam conduzir à sua destituição imediata. Tornou-se, a partir deste momento, um governo ilegítimo. A oposição não merece qualquer confiança. As reacções dos partidos de direita são patéticas. As dos partidos de esquerda dão vontade de rir. O PR já devia ter tomado uma posição, mas anda entretido com o Papa. Com toda essa azáfama, resta-lhe, compreensivelmente, pouco tempo para atender aos assuntos sérios do país.
Chegámos a um beco sem saída ao persistirmos nesta solução política. Não se trata de discutir se há ou não TGV, ou se se implementa ou não o PEC. Trata-se de destituir estes políticos!
Os portugueses têm, pois, o direito e o dever de exprimir claramente o que querem que se faça para mudar o rumo dos acontecimentos, já que tudo aquilo que foi feito até agora deu nisto que se sabe. Os portugueses --os portugueses que sustentam tudo isto-- têm o direito e o dever de exprimir o que querem para o seu futuro, uma vez que o contrato democrático que foi estabelecido com todas as forças e personalidades que dirigem os destinos do país foi desvirtuado. Estes políticos têm de obedecer àquilo que os portugueses ordenarem.
Eleições JÁ!

Na Cova dos Leões

"Este livro é porventura um dos mais emblemáticos textos "subversivos" impressos em Portugal durante o salazarismo. Foi escrito por um republicano racionalista e livre-pensador abjurado pela Igreja Católica e pelo regime autoritário e "catolaico" do Estado Novo. Depois, a democracia nascida da revolução de 25 de Abril de 1974 acabou também por o ostracizar"(...)"O livro mais anticlerical de sempre, que desmonta e denuncia a grande e espectacular mentira de Fátima, humilhando a Igreja e a padralhada em geral"

("Na Cova dos Leões", de Tomás da Fonseca, Editora Antígona, 2009)

2010/05/12

Os portugueses, esse povo manso...

Teixeira dos Santos, antecipando as medidas que o governo se prepara para anunciar, disse hoje esperar contestação social, mas não violência, que os portugueses não são como os gregos...

2010/05/11

Peixes, cardumes e pescadores

Nestes dias que correm, ameaçados de novo pelas poeiras do Eyjafjallajökull (ou era isso ou a economia grega ou vulcão islandês, não havia safa possível!), percorro as estradas à volta aqui da minha terra e vejo hordas de peregrinos que se dirigem, com passo decidido e olhar determinado, para Fátima, imagino eu.
Observo-os há vários dias. Estão entre o campista e o jogger. Vestem coletes daqueles reflectores para o carro, roupa sem marca explícita, ténis, uma mochila ou um bornel e muitos andam com um cajado ou bordão (o que será...?), decorado com uns penduricalhos que não consigo distinguir. Não percebo porquê, mas a indumentária masculina inclui frequentemente camuflados e uns chapéus a fazer lembrar o Crocodile Dundee.
Caminham para ir ver o Papa certamente. Caminham muitas vezes em grupo, vão-se juntar a um outro -- previsivelmente -- grande grupo, mas querem sobretudo a salvação individual.
Tirando o 1º de Maio de 1974, nunca vi, antes ou depois, caminhadas colectivas ou grandes ajuntamentos em Portugal, organizados ou espontâneos, com o objectivo de contribuir para o País, como se de um grande colectivo se tratasse. Não há grandes movimentos colectivos de mobilização geral para a salvação colectiva.
Os católicos ajoelham e rastejam perante a possibilidade de salvar a alma, falam com ar compungido da "nova pobreza", alarmam-se com a crise, mas revelam-se totalmente incapazes de se organizarem para colectivamente, enquanto força com expressão social significativa, lhes darem combate. Só lhes interessa a solução individual. Afinal a norma é ajudar "os outros como a ti próprio", não da forma que os outros precisam, mas como tu próprio desejas para ti...
Ouvimos repetidamente -- já sem ligar muito, é certo -- o slogan "Portugal país predominantemente católico", mas nem o facto de o catolicismo ser, alegadamente, a confissão dominante entre a população portuguesa dá a este grupo um sentido de solidariedade que lhe permita ver para além da salvação própria.
Haverá excepções, mas o objectivo procurado, mesmo nos movimentos de solidariedade católica que ainda vão fazendo alguma coisa em prol do colectivo, é sempre o de encontrar a via individual para o tal mundo melhor. Oferecem peixes, sentem-se confortados por oferecerem peixes, mas são raríssimos os movimentos católicos que ensinam a pescar. Uma confissão implícita, afinal, da vacuidade deste cardume. Uma réplica do milagre da multiplicação dos peixes, agora em versão 3D.
Escrevia estas linhas quando, por coincidência, me chega uma nota sobre a publicação de mais uma "Dear Colleague Letter" de Yi-Fu Tuan, o geógrafo americano de origem chinesa de quem já aqui tenho falado várias vezes. Nesta última intitulada "Bobby, the last Kantian in Nazi Germany", Tuan pergunta se a Ética é ou não acerca do outro. Lembra que na tradição hindu e grega a acção se centra na salvação pessoal. Na tradição judaico-cristã, pelo contrário, o foco aponta na direcção do outro. E o outro é o estranho total, nem sequer o vizinho ou mesmo o familar. Nesta tradição, porém, à medida que o individualismo ganha quota de mercado, o outro desvanece-se, cada vez de forma mais ténue.
Com o País em êxtase perante a resplandecência do Santo Padre e com o Presidente da República a ajudar à missa, totalmente incapaz de reunir o rebanho, os princípios da tradição judaico-cristã foram-se definitivamente. A crise segue dentro de momentos.
Que se lixe o outro. Entre cinzas e "mercados",  na melhor tradição grega, tratemos mas é de salvar a alminha.

O livro do dia

Se a visita do Papa lhe estragou o dia e não tem programa para hoje, poderá sempre aproveitar para fazer uma visita à feira do Livro de Lisboa.
Entre as muitas curiosidades, e no âmbito do périplo papal, a editora Antígona está a promover o livro "Na Cova dos Leões" de Tomás da Fonseca (1958).
Trata-se de uma obra polémica e corajosa, escrita por um livre pensador republicano, onde é desmistificado o negócio de Fátima. O livro esteve proibido durante o regime salazarista e acabaria por esgotar após o 25 de Abril.
A actual edição, de 2009, está à venda no Pavilhão da editora Antígona. Se lá for, pagará apenas 11,90euros em vez dos 19,90euros habituais.
Há males que vêm por bem...