2007/07/27

A Ética


O meu amigo Guardarios escreve hoje sobre isso... Está aqui para quem quiser ler. Lembra-nos, a propósito, o burro de Heráclito.
Ao contrário do Orçamento, não creio que haja vida para além da Ética.

2007/07/26

Socratismos

A grande entrevista do primeiro-ministro a um "canal da concorrência" foi, a vários níveis, elucidativa. De um lado, dois entrevistadores apostados em mostrar as contradições do governo; do outro, um político que fez a sua carreira televisiva no "canal do regime" e domina a técnica do debate. Aos temas "quentes" da agenda nacional (função pública, serviço nacional de saúde, educação, localização do novo aeroporto, redução do "déficit", tratado europeu ou a "deriva autoritária" do regime), Sócrates respondeu invariavelmente ao "lado", algumas vezes irritado e, sempre, contrariando as insinuações negativas com projecções optimistas. Ficámos assim a saber que: apesar do governo ter anunciado uma redução de 6.000 funcionários públicos, só tinham sido dispensados, até agora, cerca de 900; que apesar do encerramento das unidades de saúde, o sistema está melhor do que no tempo de Leonor Beleza (!?); que, apesar do descalabro na matemática e no ensino em geral, há cada vez mais computadores nas escolas; que apesar de trinta anos de estudos, sem ter sido considerada, a hipótese Alcochete pode bem vir a ser a localização do novo aeroporto; que apesar da redução do "déficit", não ser uma obsessão, continua a ser o objectivo do governo; que o Referendo sobre o Tratado Europeu, não tendo sido rejeitado, poderá ser dispensado, por não se tratar de um novo Tratado; que o Manuel Alegre, tendo sempre dito que existia medo na sociedade portuguesa, não podia ser verdade. É difícil argumentar contra tantas certezas. Como pode um "lider" destes, enganar-se?
Revejo o programa, na sua repetição matinal, e fico com uma dúvida: ou os entrevistadores prepararam mal a entrevista, ou Sócrates vive noutro país, que não Portugal. Em tempos não muito recuados, um outro primeiro-ministro (agora presidente), também não lia jornais, nunca errava e raramente se enganava. Para o actual primeiro-ministro, apesar dos jornais, parece haver um só caminho: presume-se que seja longo, difícil e escuro, como um túnel, com uma luz ao fundo. Espero bem que não seja a luz do comboio em sentido contrário.
Como dizia, por estes dias, um famoso escriba da blogosfera: "isto ainda vai acabar mal"...

2007/07/24

Uma semana noutra cidade

Nada como saír do país por uns dias, mesmo que o pretexto não sejam as férias, como era o caso.
Visto à distância, Portugal (os portugueses) tem sempre mais encanto. Lembramo-nos do Sol, vagamente existente nas paragens por onde andámos; o peixinho fresco, a que alguns teimam em chamar "dieta mediterrânica" por não constar das refeições nórdicas e até os nossos "compatriotas" parecem, de longe, mais simpáticos. Por outro lado, deixamos por uns dias de ser bombardeados com os canais televisivos nacionais e as suas omnipresentes figuras que, de tanto vistas e ouvidas, se tornaram inaudíveis. Um alívio...
Findo o interlúdio, e enquanto nos preparamos para regressar à "terrinha", munimo-nos da respectiva literatura que ocupará as três horas que dura a viagem. Alguns jornais, no caso holandeses e espanhóis que eram os únicos fornecidos a bordo e um livro para o que desse e viesse...
E aqui surge a primeira surpresa. Ao folhear o "Volkskrant" (diário holandês de Amsterdão), um título chama a nossa atenção: "Chinezen blazen Portugal nieuw leven in" (Chineses insuflam nova vida em Portugal). O artigo, da autoria de um tal Hans Moleman, descreve o crescente interesse dos chineses pelo nosso país. Exemplos não faltam: desde a proliferação de lojas chinesas por todo o lado, até ao recente anúncio da compra do clube Benfica por 80 milhões de euros (uma pechincha, de acordo com o jornalista). De regresso à Costa da Caparica, onde já não vinha há alguns anos, Moleman confirma a decadência da estância balnear do "proletariado da Margem Sul", agora repleta de lojas chinesas. Só na Rua dos Pescadores, existem quatro! É lá que o cronista toma o seu galão todas as manhãs e faz compras. Hans evita as lojas chinesas, sempre cheias, para desespero dos últimos comerciantes da zona. Na procura de uma faca para fruta, prefere um sólido exemplar de cozinha da Industria de Cutelarias da Estremadura. Custo, 4 euros e 52 cêntimos. Cinco vezes mais cara do que na loja chinesa, mas com dez anos de garantia e tão afiada que ele cortou um dedo logo na primeira vez que a usou...
Ainda mal refeito da surpresa, folheio o "El País" para descobrir mais duas notícias sobre portugueses: uma, relacionada com a reportagem "Iberia, capital Lisboa" que teve o maior número de visitas "on line" da semana (27.000 consultas!) após a polémica entrevista de Saramago; outra, sobre a primeira actuação de Teresa Salgueiro a "solo", no Festival Pirineos Sur, onde cantou temas do seu album "brasileiro". Depois de lamentar a escolha de reportório da cantora, para o qual lhe falta "algo de soltura", o articulista acaba por elogiar a coragem da intérprete portuguesa em arriscar novas sonoridades. A mesma opinião, relativamente ao grupo "The Gift" que "pratica pop-rock electrónico elaborado con mimo" e que "tiene en la voz masculina de Sonia Tavares su principal haber". Que mais podemos desejar...
Vinha eu a cogitar nestas pequenas, mas positivas, notícias sobre o nosso país, quando desembarco no campo de aviação chamado Portela: meia-hora de espera por uma simples mala, desorganização completa nos serviços de táxi, que obriga à intervenção policial para decidir qual a ordem de atendimento dos utentes, um chauffeur enfadado que me obriga a repetir por três vezes vezes a localidade pretendida e, já dentro do carro, num último olhar aos painéis publicitários que cobrem a sala de espera do aeroporto, a frase eloquente: "visit the real Allgarve!". Não havia dúvidas: tinha regressado ao pais pimba.
Como diria Chatwin, no seu famoso livro, que faço eu aqui?

2007/07/23

Procura-se a mulher de César

A notícia do dia é a prisão de "El Solitário", o inimigo público número um em Espanha. Numa reportagem da SIC Notícias o correspondente naquele país refere que o homem morava a 30 km de Madrid e que os vizinhos o descrevem como pessoa conflituosa. O jornal "El Pais" diz que o homem teria mesmo feito ameaças de morte a alguns deles.
Mais à frente na reportagem, uma mulher que foi testemunha da operação que levou à prisão deste criminoso é entrevistada. Diz que estava junto ao banco quando o viu passar. Achou estranha a barba do homem. Procurava, justamente, alertar a polícia quando, de repente, começou a operação de captura de "El Solitário." Chegaram uns carros com uns homens que levavam "armas de cano grosso," descrevia a mulher, e caíram em cima do barbudo. Ela ficou com medo porque pensava que se trataria de um assalto e que estes homens é que seriam os assaltantes.
Estranhos tempos estes. À mulher de César, reza o rifão, não basta ser séria. Tem de parecer séria. Ou... será ao contrário?