2011/12/22

China Shop

A venda a retalho das jóias da coroa portuguesa continua a bom ritmo. Os anéis já foram, agora vão os dedos. Não é todos os dias que se ganham 2.700 mil milhões de euros, ainda por cima, em vésperas de Natal. Para os accionistas da EDP, um verdadeiro negócio da China! Agora que a barragem do Tua corre o risco de ser embargada, era bom que os chineses levassem também o Mexia. Sempre era mais um que emigrava...

Crónica natalícia

Se qualquer um de nós desejar a um amigo ou familiar um "Natal tão bom quanto possível" é natural. Nos tempos que correm isso demonstra cumplicidade, solidariedade e compreensão. Se qualquer um de nós aconselhar um filho ou um amigo a emigrar porque por cá as coisas estão más, isso demonstra realismo e preocupação.
Se o cidadão Cavaco Silva, o cidadão Passos Coelho ou outro qualquer membro do executivo derem conselhos destes, em privado, sugerindo aos seus amigos ou familiares que se ponham ao fresco ou lhes desejarem o "Natal possível" ficará entre eles. Se se vier a saber é notícia, caso contrário a história fica por aí.
Contudo, se o Presidente da República e o Primeiro Ministro se exprimirem nestes termos publicamente, dirigindo-se a todos os portugueses, no cumprimento das suas funções e num âmbito institucional, o assunto muda de figura. Não é notícia, é História.
Não há duas leituras para afirmações como estas. Não são possíveis "interpretações". O que tudo isto significa é que o PR e o PM falharam e continuam a falhar. Pior ainda, capitularam e pedem aos cidadãos que neles confiam que apoiem esta capitulação! Que esqueçam a História.
O PR e o PM não foram eleitos para os respectivos cargos para fazer conversa de café, foram eleitos para agir. Os seus actos deixam rasto. As suas opiniões têm de ser, por inenerência do próprio catgo que exercem, acompanhadas por acções. São eles que têm as ferramentas e o dever institucional de agir. Foram para isso mandatados pelos cidadãos. Não há volta a dar!
Há uma enorme diferença entre opinião e ideologia, no caso de um membro executivo de um órgão de soberania. Por algum motivo se chama "executivo". Quem não perceber isto merece os conselhos e os votos que estas duas aventesmas lhes estão a transmitir.
Dito isto, desejo que todos os que estão tentados a emigrar reflictam e pensem se não será melhor ficar por cá em vez de ir ajudar os outros, contribuindo com a sua energia e o poder de iniciativa, que demonstram ao querer emigrar, para construir um país livre dos problemas que vos levaram a pensar em emigrar. Se calhar basta sabermos o que queremos. Se calhar o "paraíso" fica em Portugal.
E aproveito para desejar a todos o Natal impossível...

2011/12/21

Back to the USA

As "últimas " tropas americanas deixaram o Iraque.
Depois de quase nove anos à procura das famigeradas "armas de destruição maciça" - o argumento formal para a invasão do Iraque - os americanos, certamente cansados, deram-se por (con)vencidos e regressaram a casa.
Para trás, deixaram 4.500 mortos e mais de 30.000 feridos, entre as suas tropas, para além de 100.000 mortos civis e centenas de milhares de feridos e desaparecidos, entre a população iraquiana. Calcula-se (não se sabe ao certo) que milhões de habitantes teriam sido desalojados ou tiveram de fugir para países vizinhos. A devastação do país é inquantificável e levará gerações a recuperar. O país ficou mais dividido e a guerra civil tornou-se uma rotina. A guerra, essa custou a módica quantia de 750.000 biliões de dólares aos cofres americanos, o que explica parte do "déficit" actual da nação com a maior dívida soberana do planeta. Uma ninharia, como sabemos hoje...

2011/12/20

A receita deste governo: manter o paraíso para os poucos que dele têm beneficiado

Haverá quem ache certamente que a acção deste governo é séria (se calhar até mesmo dentro do governo!). Haverá quem ache que as sugestões que têm sido feitas (a última feita pelo próprio primeiro ministro) para que os portugueses procurem no estrangeiro a cura milagrosa para os seus males são legítimas.
A ideia de propor a um português que se vá embora, feita por um alto responsável desse país, eleito com base num determinado programa sufragado nas urnas, é, em si mesma, abjecta. Só esta geração de governantes que é a que presentemente nos dirige, arrogante, ignorante e profundamente estúpida poderia contemplar sequer uma hipótese destas. Talvez nem tudo seja, contudo, estupidez inocente.

Muito se comentou a recente sugestão de Passos Coelho. O incómodo que causou é evidente e generalizado. Por mim, faço a pergunta: que benefício colheria o país de uma hipotética fuga dos seus cidadãos mais qualificados para os novos "paraísos" da economia mundial?
Não seria a emigração desqualificada de outrora esta que agora se sugere, mas sim a fuga desordenada de um conjunto altamente qualificado de gente —"a geração mais qualificada de sempre," como frequentemente é referido— que deixaria um vazio. Uma saída em massa para o estrangeiro de toda esta gente privaria o País, seguramente, do que de melhor temos neste momento.
Nem sequer estaríamos perante o fenómeno do torna-viagem que caracterizou os picos de emigração anteriores. Hoje, quem decide partir, fá-lo sem vontade de voltar a Portugal, mais consciente do que nunca do desamor da Pátria por si e da incapacidade para lhe proporcionar condições de vida, a si que, justamente por causa disso (contradição insanável!), a tem de abandonar.
Neste cenário de divórcio, litigioso e sem remédio, o país não só deixa de poder ver o futuro como deixa de poder contar com as "remessas" de outrora. Uma saída em massa para o estrangeiro apenas iria beneficiar os países de acolhimento, que para além de ganharem esse contributo dos nossos melhores para o seu desenvolvimento, iriam ainda embolsar a receita fiscal daí decorrente.
De resto, para que país voltaria o jovem emigrante, agora que os direitos e regalias, que serviram justamente para fazer regressar os que anteriormente partiram, são diariamente destruídos? Para que passado sem o seu futuro regressaria o jovem emigrante que partisse?
Portugal, diz-se, é um país que precisa de se modernizar, melhorar métodos de trabalho, aumentar a produtividade. Um país para construir quase de raiz, um país que necessita de mudança como de pão para a boca. Ora, a receita do primeiro ministro e desta maldita corrente neoliberal, que papagueia (e mal!) a receita "europeia" e domina a política portuguesa, para mudar o país é simples: em vez de criar as condições de mudança, vamos sugerir o êxodo dos que podem, pela horizonte temporal de que dispõem, pela mentalidade, pela formação e pela energia, operar essa mudança. A receita é: vamos ceder, de borla!, aos outros o nosso futuro. E, pelo caminho, vamos deixar condenar implicitamente todos os que restarem —as vítimas da falta de oportunidades, da idade ou da desqualificação— a uma lenta agonia até ao estertor final.

É isto que resultará das políticas do governo Passos Coelho se não forem firmemente travadas. Pensem nisto os que tencionam emigrar e pensem nisto os que, caso o êxodo venha a ter lugar, serão condenados a ficar. Vejam entretanto, uns e outros, quem beneficia de tudo isto...

2011/12/18

Conhecer a dívida para poder pagá-la

Decorreu este fim-de-semana a Convenção "Auditoria Cidadã à Dívida Pública: conhecer para agir e mudar" que, ao longo de dois dias, reuniu cerca de 700 participantes no cinema S. Jorge em Lisboa. Uma iniciativa de representantes da sociedade civil que, a exemplo de acções similares em países como o Equador, a Grécia, a Irlanda, a Bélgica e a França, tem vindo a ser preparada nos últimos meses.
Depois da primeira sessão, centrada na questão "O que é a auditoria cidadã à dívida?", onde participaram Ana Benavente, Éric Toussaint e Costas Lapavitsas, os trabalhos da segunda sessão seriam dedicados às comunicações de diversos especialistas sobre a origem e as especificidades da dívida portuguesa. Finalmente, na terceira e última sessão, foi aprovado o texto final da resolução da convenção e eleita a comissão (constituida por 44 nomes da sociedade civil) que dará seguimento às indicações sugeridas pela Comissão Técnica da Auditoria (ICA).
Espera-se, agora, um apoio alargado da sociedade civil a esta iniciativa, pois, como bem lembrou Éric Toussaint, "encontrar técnicos para nos apoiar nunca será o problema, o problema é o apoio da sociedade civil, o factor determinante de todo o processo". Ou, como é sugerido no preâmbulo da resolução, para pagarmos temos de conhecer a factura detalhada:
"Salários e pensões confiscados, trabalho adicional não pago, mais impostos sobre o trabalho e bens básicos de consumo, mais taxas sobre a utilização de serviços públicos, menos protecção no desemprego, cedência a privados de bens comuns pagos por todos - tudo justificado pela necessidade de servir a dívida pública sem falha. Dizem-nos que cortar a despesa pública, aumentar impostos e taxas, degradar o nível de provisão e de qualidade dos serviços públicos para servir a dívida sem falha, é a "única alternativa". Mas, como pode ser alternativa o que não chega sequer a ser uma solução? A austeridade, o nome dado a todos os cortes e confiscos, não resolve nenhum problema, nem sequer os da dívida e do défice público. Pelo contrário, conduz ao declínio económico, à regressão social e, depois disso, à bancarrota. É chegado por isso o momento de conhecer o que afinal é esta dívida, de exigir a factura detalhada. De onde vem a dúvida e porque existe? A quem deve o Estado? Que parte da dívida é ilegitima e ilegal? Que alternativas existem para resolver o problema do endividamento e do Estado? Tudo isso incumbe a uma auditoria à dúvida pública. Uma auditoria que se quer cidadã para ser independente, participada, democrática e transparente" (do preâmbulo do projecto de resolução da convenção "Auditoria Cidadã à Dívida Pública").
Os trabalhos da comissão podem ser seguidos através do "site": www.auditoriaadivida.pt