2008/02/23

Encontros ALCULTUR

Durante quatro dias, o Centro Vila Flor em Guimarães foi palco de mais uma edição dos "Encontros Alcultur". Uma iniciativa coordenada por Victor Martelo (Cultideias) que, ao longo dos últimos anos, tem vindo a afirmar-se no seio do movimento artístico-cultural português. Depois de três edições bienais, realizadas respectivamente em Faro, Portalegre e Almada, os "Encontros" parecem ter agora atingido a "maior idade", passando a anuais a partir do próximo ano.
A edição que hoje terminou, subordinada ao tema "Cultura, Emprego, Economia", foi a mais participada de sempre tendo registado cerca de 350 participantes inscritos, entre agentes culturais, decisores, criadores e patrocinadores, para além do público anónimo que assistiu às diversas sessões do evento.
Dos "Encontros" deste ano constavam duas sessões plenárias, cinco sessões temáticas, duas conferências e duas reuniões paralelas, para além de uma feira (Expocultura) e diversos "showcases" de música, teatro, dança e "performances" ao ar livre, nos intervalos entre sessões.
Das sessões temáticas, "Estímulo e constrangimentos à circulação artística", "Construir cidade: arquitectura, cultura e desenvolvimento", "A formação e qualificação dos profissionais das artes e da cultura", "Empreendedorismo e inovação em cultura: as indústrias criativas e as empresas culturais" e "Emprego, condições de trabalho e estatuto profissional dos profissionais das artes e da cultura", destaque para as intervenções de António Câmara
(director da YDream/Universidade Nova) e Ângel Mestres (Transit Projects/Barcelona) que de uma forma criativa e pragmática nos deixaram antever o futuro das industrias criativas e a sua interligação com a economia. Muito há ainda a fazer neste campo (em Portugal quase tudo), mas as pistas deixadas e o entusiasmo suscitado nas centenas de participantes, parece reforçar a ideia de que existe potencial humano, assim os decisores saibam aproveitar a dinâmica existente neste sector.
No campo da circulação de produtos, realce para a sessão plenária de directores de teatros, que resultaria na mais longa e animada discussão à volta do tema das "redes" e a sua operacionalidade, com boas intervenções e.o. de Rui Horta (Montemor) e José Bastos (Vila-Flor) que melhor enquadraram o problema das estruturas existentes e a dificuldade da sua utilização. Tema para ser debatido muito em breve com o novo ministro da Cultura e o que mais se seguirá...
Boas perspectivas, pois, para os próximos "Encontros", já agendados para 2009 em Lagos. Lá estaremos.

2008/02/22

O costume

A SEDES elaborou um relatório que tem sido muito badalado hoje nos meios de comunicação. A questão substantiva que o relatório aborda já é velha: a situação que se vive hoje no país é preocupante e há perigos à espreita para a democracia. O Diário Económico diz hoje que a situação da economia europeia tende a sofrer as consequências das dificuldades pelas quais os norte-americanos estão a passar, que à Europa está reservado um mau bocado e que as projecções económicas do governo português para este ano, face a esta conjuntura são fantasiosas.
A propósito destas questões, os responsáveis têm repetidamente observado que não nos podemos resignar e que a solução da crise está nas nossas mãos. O Presidente da República não encontrou mais nada para dizer hoje a este propósito: não podemos aceitar a resignação.
Mas, não foi sempre assim? Haverá outra alternativa? Haverá outro caminho para os portugueses superarem as suas dificuldades? Ou o Presidente da República estava convencido que eu pensava que era ele que ia passar a pagar-me as contas?

2008/02/20

A outra face...

Devo antes de mais prevenir que não me revejo nos princípios da Igreja Católica e que tenho uma antipatia especial e marcada pelos seus "ministros". Feitas estas advertências ao leitor conto-lhe o que me levou a escrever este post.
Acabo de saber que os reclusos que sequestraram um padre na Cadeia de Pinheiro da Cruz em 2006 foram condenados a uma pena única de seis e dez meses de prisão. Não está aqui minimamente em causa uma apreciação do acto que levou a esta condenação, nem sequer da justiça da setença proferida. O que neste caso me choca são as declarações do padre Júlio Lemos, a vítima de todo este imbróglio. Não tenho quaisquer indícios adicionais sobre este caso, nem sobre as circunstâncias em que terá ocorrido e nada sei sobre as qualidades humanas, quer dos condenados, quer do padre Lemos, embora tenha consciência que há gente melhor e pior em todas as áreas da actividade humana e que as aparências por vezes enganam, de facto. Mas, sei o que ouvi. Apenas conheço a verdade institucional que me é transmitida pelos orgãos de informação.
E o que ouvi eu o padre Lemos dizer? Disse ele que não estava muito "preocupado com a sentença", que o mais "importante foi ter tudo acabado bem" e que "a vida é o mais importante."
Nem uma palavra de perdão...
A sentença não o preocupa. Naturalmente. E está contente por "ter tudo acabado bem"... Mas, acabou bem para quem, acabou bem como?
Uma oportunidade perdida para o padre católico Júlio Lemos mostrar que a doutrina que professa não passa de retórica oca. Se não houver alguém a dar o exemplo de incondicional perdão, se não houver alguém a mostrar à sociedade que há outras formas de nos relacionarmos uns com os outros sem ser pela pena de Talião, se não houver alguém a mostrar que há outros valores, se não houver alguém a mostrar nobreza de carácter e superioridade face às vicissitudes da vida, como poderá o ser humano alguma vez evoluir? E não é isto, antes de mais, a missão da Igreja?
Ora explique-nos lá padre Júlio Lemos: perante o seu Deus, que vida é a mais importante? A sua, ou as dos reclusos de Pinheiro da Cruz agora condenados?

2008/02/17

Caixa de Pandora

A decisão unilateral dos dirigentes kosovares em proclamar a independência de uma região que é parte integrante dum país soberano (a Sérvia), foi certamente gratificante para os seus habitantes, mas não resolve o problema de fundo de um estado artificial. Trata-se de uma antiga questão, esquecida com a desintegração do império austro-húngaro e posteriormente abafada na ex-Yugoslávia, uma federação de repúblicas até meados dos anos noventa. Com a morte de Tito e a posterior queda do muro, em finais dos anos oitenta, teve início a desintegração da Yugoslávia que parece não ter ainda terminado. Depois das independências da Eslovénia, Croácia e Macedónia em 1991, da Bósnia e Herzegovina em 1995 e do Montenegro em 2006, sobrou a Sérvia, o último reduto Yugoslavo e, agora, também um país independente.
Acontece que o Kosovo não era uma república, mas uma região (do tamanho do Minho) com uma população maioritariamente muçulmana e albanesa. Paradoxalmente, é no Kosovo que a Sérvia tem as suas raizes, razão pela qual os sérvios não abdicam desta região. Após os bombardeamentos de Belgrado, que levariam à rendição do regime de Milosevic, (acusado de genocídio do povo kosovar) o Conselho de Segurança da ONU, através da resolução 1244, concedeu ao Kosovo uma maior autonomia sem reconhecer a sua independência.
É ao arrepio desta resolução e com o apoio dos EUA e alguns países europeus, entre os quais a Albânia (que tem ambições regionais de expansão) que o Kosovo proclamou hoje a independência. Contra esta decisão está a Russia (com problemas internos semelhantes) e alguns membros da União Europeia. Se a moda pega, porque não o País Basco, a Catalunha, a Córsega ou as regiões minoritárias sérvias, dentro da Bósnia? Uma verdadeira caixa de pandora pode ter-se aberto nos Balcãs, onde o passado nunca foi pacífico. Há quem acredite que a História não se repete, mas a dúvida é pertinente.