2012/10/20

Arqueologia, ideologia ou marketing?


O "Laço Branco" é um filme de Michael Haneke. Uma alegoria, segundo o seu autor, à "origem de qualquer forma de terrorismo, seja ele de natureza política ou religiosa." Jardim Gonçalves, esse símbolo de probidade, essa figura exemplar da sociedade portuguesa, podia ser um personagem deste filme.
Aconselho quem não viu o filme —a quem porventura escapará assim o sentido da metáfora— que o veja urgentemente. Aconselho também, aviso já!, a que se muna previamente de um saco de vómito, desses que se distribuem nos aviões...
O mesmo deverá fazer se ouvir esta entrevista dada por Gonçalves à TSF. Nela o (a)fundador do BCP confessa-se adepto dos partidos, contra os "independentes", partidário da solução do centrão (particularmente interessante é a sua justificação para a participação do PS numa possível coligação de centro... atenção João Galamba, isto fica sem resposta!!?) e da não intervenção do Presidente da República. A entrevista é escuta obrigatória para qualquer patriota que ame verdadeiramente Portugal. É escuta obrigatória também porque permite perceber as causas do presente e os contornos do passado recente do País. Está lá tudo, no que é dito e no que não é dito.
Entendo perfeitamente as ideias do senhor J. Gonçalves. Ele é cristalino. Só não percebo por que raio se foi desenterrar esta múmia...

2012/10/18

Xadrez, tiros e hara kiri ao vivo

A política, diz-se, é xadrez. No caso da coligação do governo, descobriu-se um novo tipo de desfecho: não há xeque-mate, nem sequer empate —que implicaria uma situação neutra, sem consequências—, há xeque-mate duplo. As brancas ganham às pretas e vice versa.
PSD e CDS sairão, ambos, desta partida a perder e feridos de morte.
Dizem alguns que à decisão do CDS de votar a favor do orçamento se seguirá uma saída dos ministros daquele partido, a consequente remodelação, talvez mesmo com Gaspar, essa figura cheia de carisma, a timoneiro, e o PSD deixado assim a afogar-se sozinho no oceano. É bem possível. É bem possível que seja este o testamento deixado por esse mago da estratégia chamado Paulo Portas, esse enfant terrible da política portuguesa, vencedor do circuito das feiras e campeão do beijo-na-velha. Depois de dias de silêncio em que o País andou totalmente suspenso e angustiado, sem saber o que iria fazer o CDS, o partido promete um espetáculo de hara kiri político, live, perante os portugueses...
Porque o que é mais provável, no caso de tudo isto vir a acontecer, é que o CDS se eclipse neste movimento de génio (nos Açores já tiveram o aperitivo...) que tanto custou a parir. O CDS quebrou o longo silêncio para entrar na inexorável via da extinção que conduz ao silêncio da morte.
Serão excelentes notícias se isso acontecer. É possível, vamos ter esperança...
No meio disto, e se de facto o CDS deixar a coligação, iremos certamente assistir ao naufrágio solitário do navio almirante, PSD. Cumprir-se-á o desígnio de Portas e o big brother da coligação vai ao fundo com um tiro fatal. É inevitável que, perdendo o táxi, e abominando, como abomina, os transportes públicos, o PSD vá ter de fazer a longa e cansativa jornada que tem pela frente a pé. Pode ser também que, nesse esforço, gaste definitivamente as solas e se perca de vez por essas encruzilhadas.
Já agora que falo de tiros (não me refiro ao desconforto dos militares, tão eloquentemente expresso ontem...), aguardemos —sem nenhuma expectativa especial, devo confessar— o que vão fazer os partidos do arco da não-governação. Vamos ver se vão continuar a dar tiros no pé. E aguardo também —com uma expectativa ainda menor— o que vai fazer o outro partido do arco da desgovernação, o PS. Também dentro dele há quem se coloque na posição de mera testemunha acidental. Esses têm hoje uma oportunidade de ouro para dar o tiro decisivo no porta-aviões, mas a tarefa parece impossível de realizar apenas com pólvora seca, como tem sido norma até agora.
A crise, como a luta, continua.