2024/02/23

O José Afonso, da nossa memória

Na madrugada de 23 de fevereiro de 1987, fui acordado, em Amsterdão, por um telefonema de Lisboa. Era o Carlos Neves, um ex-camarada do exílio. Atendi, ainda estremunhado, e perguntei-lhe se aquilo eram horas de acordar uma pessoa...

"O Zeca morreu", foi a sua lacónica resposta. 

Depois de uma curta conversa, para saber pormenores do sucedido, passei a informar alguns músicos que, por coincidência, estavam alojados em minha casa. Na véspera, tínhamos organizado um concerto na sala "Paradiso" de Amsterdão, com o guitarrista Pedro Caldeira Cabral, a Brigada Victor Jara e a "Rusga da Serra D'Arga" (integrados no projecto "Portugal: Roots and Time") e uma parte dos intervenientes estava alojada em casas particulares.  

Lembro-me bem do efeito da notícia, que muitos de nós receava poder acontecer a qualquer momento, dado o estado de saúde do cantor, já conhecido de todos.

Seguiram-se as mais diversas histórias, contadas por quem de perto conviveu, no palco e na vida, com o Zeca. Das memórias, então evocadas, recordo um traço comum: a influência do seu exemplo e do seu legado, em todos nós.

Essa, é, de resto, a melhor homenagem que lhe podemos prestar: continuar, hoje, a divulgar a obra e o homem, em todas as suas vertentes - musical, poética e cívica.

No ano de todas as comemorações, José Afonso é, hoje, consensual e um nome incontornável. Sempre foi. Agora, mais do que nunca. Por isso, não o esquecemos.