2010/06/05

Os "mercados"

"Estranha modernidade esta que avança às arrecuas", escrevia o Subcomandante Marcos, há mais de 15 anos, num artigo chamado "A quarta guerra mundial já começou".
Ontem as bolsas cairam depois de se saber que, entre outros problemas, o emprego nos E. U. A. não cresceu o que se esperava. Estranha reacção esta: os investidores não investem, o desemprego mantém-se e esses investidores, que têm o poder de criar empregos, castigam as bolsas porque… o emprego não cresce!
Os estados que continuem com a tarefa de sustentar o desemprego, originado por uma crise criada, por sua vez, pela actuação dos investidores! Os estados que continuem a aumentar a sua "dívida soberana" para sustentar a "crise", diminuindo com isso as classificações das agências de "rating".
Agências de rating, essas instituições pardas que ninguém elegeu, mas que exercem um controlo fatal e total sobre os eleitos das democracias representativas, condicionando a vida dos eleitores. Agências de rating que estão fora do sistema democrático, incontroláveis e inimputáveis, cujos desaires, porém, os eleitores têm de pagar para não haver agitação sistémica...
Neste momento os "mercados" encontraram um negócio muito melhor do que investir para criar novos negócios que dêem origem a novos empregos: vender dinheiro mais caro aos estados para estes controlarem o défice provocado pelas desmandos…  dos "mercados". Um desenvolvimento que seguramente ilustra na perfeição o comentário do Subcomandante Marcos.
Está na hora de abandonar a fase do patriotismo primário e de explicar aos cidadãos o verdadeiro significado de expressões como "estado soberano" e "democracia". Não é questão de somenos nestes tempos de globalizações.

2010/05/31

Da semântica "socialista"

Contrariando a opinião de parte significativa dos seus militantes, a comissão política do PS acabou por anunciar Manuel Alegre como o candidato do partido às próximas eleições presidenciais. Nada que não se esperasse.
Que a escolha nunca foi consensual ficou logo bem patente nas reacções de alguns intervenientes na sessão do largo do Rato.
Desde logo, o maçónico Ramalho, que saíu mesmo antes da votação ter sido efectuada, certamente para mostrar o desagrado da facção soarista que nunca escondeu a afronta de 2006. Depois, a deputada Marta Rebelo (quem?) uma jovem aquisição da bancada "socialista", que foi mesmo mais longe ao declarar que nunca apoiaria Alegre por este "ter-se aproximado perigosamente da esquerda" (!?). E, finalmente, o próprio Sócrates que, mostrando um sorriso amarelo, lá foi dizendo que apoiava Alegre por este ser "progressista". Progressista?
Este é o estado de um partido onde, após cinco anos de despolitização continuada (foi para isso que serviu a tão proclamada "terceira" via) já nem os responsáveis ousam utilizar a palavra "esquerda". Saberá este geração de dirigentes que o Partido Socialista é, supostamente, de esquerda? Duvidamos. A lavagem ao cérebro, durante o reinado do grande líder, deve ter sido tão grande, que nem eles próprios se apercebem da vacuidade do discurso que utilizam.
Com "amigos" destes, Alegre não necessita de inimigos. Vai, muito provavelmente, perder estas eleições como, de resto, já tinha perdido há cinco anos atrás.

2010/05/30

Eleições já!

Há muito, confesso, que não ia a uma manifestação. Mas, ontem lá desci a Avenida com todo o gosto, juntamente com o RM e estive ao lado de quem eu mais gosto de estar. Não sei se foram 300 000 se foram apenas 150 000, pouco importa.
Para mim estão claríssimas três coisas na actual conjuntura, como sói dizer-se. Primeiramente, este governo está a mais. Por mais voltas e retórica que tentem despejar por cima da evidência, é claro que este governo já devia ter ido à vida há tempo demais porque não serve para resolver o problema que temos, antes o complica. Por trapalhadas bem menos graves, por incompetência bem menos óbvia já outros governos foram para o caixote de lixo da história. Cada minuto que passa com este primeiro ministro à frente deste governo é um minuto a mais de agravamento de uma pena que os portugueses não merecem.
Em seguida --o corolário afinal deste argumento-- este Presidente da República é a causa de uma série de padecimentos pelos quais os portugueses estão a ser obrigados a passar. O PR tem todas a prerrogativas para agir. Não o fazendo tornou-se parte do problema. Uma minoria, um governo minoritário, um presidente é uma fórmula que, temos de convir, não serve o país e agrava o nosso problema. Nem quero imaginar que a ausência de acção por parte do PR se fique a dever a uma agenda pessoal escondida. Ao menos que esta inacção presidencial se fique a dever à inépcia política que todos lhe reconhecemos.
É para mim também, finalmente, claro que nenhum dos protagonistas explícitos ou implícitos desta jornada --PR, PM e o seu governo, AR,  centrais sindicais (a presente e a ausente) e restantes parceiros sociais -- que o futuro do país é neste momento uma questão que não parece suscitar preocupação por aí além. Ora, ou o eixo da acção de todos passa a ser claramente o desenvolvimento e a alteração do actual paradigma social e económico em que o país vive, ou Portugal vai ter de ceder a sua concessão a existir e, tal como o concebemos, vai desaparecer a prazo.
Que se lixe a "crise", que a pague quem a provocou. Do que nós precisamos é de mudar, senhoras e cavalheiros.
Precisamos de mudar...! Comecemos por mudar os governantes.
Comecemos por eleições