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foto Valter Abrucez |
Não, o que me intrigou foi ouvir aquele "meus caros portugueses" (ora leia aqui), com que pontuou a sua homilia de ontem. Quando o ouvi dizer aquilo pensei: "meu?" Eu sou "dele"? "Caro?" Como poderei ser "dele," como poderei eu ser-lhe "caro" e, ao mesmo tempo, como pode ele fazer-me, fazer-nos, uma desfeita destas? Aquilo soava-me estranho.
Depois percebi. Momentos antes, em tom de "tem que ser, sou eu que mando" o doutor Coelho tinha feito uma dessas pontuações com um formal, autoritário e assertivo "Portugueses." Momentos mais tarde, muda o registo, hesita e parece tentar amenizar o discurso, introduzindo nele um tom mais tu-cá-tu-lá. Caros, meus!?
Uma interpretação possível é a do português Coelho se comportar como um qualquer dignitário estrangeiro, de visita, a tentar defender os seus interesses. O premier chinês ou o presidente angolano, de visita a Portugal para inspeccionar a colónia, usariam porventura a fórmula "meus caros portugueses"... Do PM português perceberia "meus caros concidadãos," admito o institucional "Portugueses," mas, "meus caros portugueses"? Por que se permite este safardana tais familiaridades?
Seja como for, nem quando pretende soar assertivo e institucional nem quando pretende fazer o número do buddy-buddy, Coelho convence. O que me intriga em tudo isto é ouvir, como ouvimos ontem, no meio de muita gente irada, é certo, gente que ainda defende esta política e culpa o anterior governo pela situação actual.
Esta gente esquece que o primeiro ministro disse, ele próprio, que não se iria escudar nesses argumentos. Esquece que o problema a resolver é a situação do país, não as culpas do actual anterior governo. Esquece que a situação do país está pior do que estava antes.
São eles o sustentáculo destes miseráveis, é a esses vermes, que cada vez mais me incomodam, que devemos, nesta altura, pedir contas.