2007/12/31

Para o ano há mais...

E pronto, terminou o ano. Ou quase. Dos objectivos traçados, poucos ou nenhuns foram (pelo governo) cumpridos. Salve-se o controlo do "déficit", conseguido à custa do aumento do IVA e dos impostos pagos pelos portugueses. Nas restantes áreas, os resultados são desanimadores: temos a terceira maior percentagem de desempregados da UE (8,2%); continuamos a crescer abaixo da média europeia (1,8%); o nosso rendimento per capita é o 19º da Europa a 27 (tendo já sido ultrapassados pelos novos membros, a Eslovénia, a República Checa e Malta); o nosso salário mínimo é o 11º dos 20 países onde este foi instituido; temos a maior disparidade de leques salariais (1 para 7); fomos o único país que desceu no "ranking" do PNUD e encontramo-nos agora em 29º lugar entre os 30 países mais desenvolvidos.
O analfabetismo estrutural é de 8% (a maior taxa da Europa) enquanto o analfabetismo funcional ultrapassa os 40%. Dos nossos empresários, só 25% têm mais do que o 9º ano. De acordo com o sistema de avaliação PISA, temos os piores resultados a matemática e ciências exactas em geral. A emigração voltou a aumentar (sinal de maior pobreza) e muitos dos imigrantes recém-chegados, partiram para Espanha ou regressaram aos seus países, por falta de trabalho em Portugal.
Nas grandes áreas, onde supostamente devia haver reformas, como a educação, a saúde, a justiça e a administração, reina a confusão deliberada e a incompetência. A ano e meio de eleições, não se prevêm grandes modificações e muito menos reformas estruturais, pelo que as perspectivas só poderão ser sombrias.
Como chegámos aqui? Dizem-nos que o mal é da (fraca) produtividade e que esta é determinada pela (in)capacidade em gerir valor acrescentado. Somos pouco competitivos e por isso a riqueza que gerimos não dá para distribuir melhor. Por isso é que o nosso salário mínimo é de 426 euros, enquanto no Luxemburgo é de 1570... Cá me queria parecer, isto está é mal distribuido. Calculem só: enquanto 10% dos portugueses detém 80% da riqueza nacional, dois milhões (20%) vivem no limiar da pobreza (com menos de 500 euros por mês) e mais de 200.000 abaixo desse limiar (os que são ajudados pelo Banco Alimentar). Uma chatisse, esta coisa das estatísticas...
Só resta desejar que 2008 seja melhor do que aquele que finda. Boas entradas!

2007/12/28

Clientelas Transmontanas

Anda toda a gente muito preocupada a falar e a escrever sobre a "OPA" do PS ao BCP-Millennium, como se isso fosse alguma novidade nos tempos que correm. Se a memória não falha, desde há trinta anos que os partidos do chamado "centro" alternam no poder e, consequentemente, nos lugares que ocupam no aparelho de estado. É verdade que, desta vez, não estamos perante uma instituição pública, mas perante uma instituição privada, no caso um banco. "So what"?
O nosso capitalismo nunca primou pela ética (como o seu congénere protestante) mas pelo clientelismo mediterrâneo, mais ao jeito da Camorra. Por isso, público ou privado, o vício é o mesmo. A única nota dissonante parece ser um tal Vara, que muita gente não percebe como ali chegou. Que raio, o homem começou a sua carreira como "caixa" em Vinhais e tem um grau académico obtido na Universidade Independente. Será preciso mais alguma coisa?

2007/12/21

Fado Português

Nada como a época natalícia para ir às compras. Animada pela aquisição do Tiepolo, a Ministra da Cultura lá decidiu adquirir a colecção de discos de Fado, que estava na posse do inglês Bruce Bastin há trinta anos. São oito mil discos no total, dos quais cinco mil da colecção particular de Bastin. Os restantes três mil foram posteriormente adquiridos no Brasil e juntos ao "pacote". Pelo total, e após sete anos de negociações (uma verdadeira "saga"), será paga a módica quantia de 1,1 milhão de euros. Não sabemos se o valor é real, mas os "experts" dizem-nos que estas coisas não têm preço...
Enquanto não conhecermos o espólio completo é difícil avaliar do seu valor. Temos de dar o benefício de dúvida aos compradores, enquanto a equipa de técnicos (por constituir) vai inventariar e catalogar o espólio que irá para um Museu da Música (por construir). Pode ser que no fim, cheguemos todos à conclusão que metade dos discos não têm o valor que se lhes atribui. Mas que importa isso? A colecção é "nossa" e daqui não sai...
A ironia desta história toda é que Bruce Bastin tinha comprado a colecção, a preços de saldo, numa loja do Chiado quando visitou Portugal nos anos setenta. Perguntar-se-á: mas que culpa tem ele disso? Nenhuma, digo eu.

2007/12/20

Natal dos Pobres

De acordo com o mais recente "ranking", de salários mínimos praticados na Europa, Portugal ocupa o 11º lugar numa lista de vinte países onde este rendimento foi instituído:

Luxemburgo: € 1570
Irlanda: 1430
Reino Unido: 1361
Holanda: 1301
Bélgica: 1259
França: 1254
Grécia: 668
Espanha: 666
Malta: 585
Eslovénia: 522
PORTUGAL: 426
R. Checa: 288
Hungria: 258
Polónia: 246
Estónia: 230
Eslováquia: 217
Lituânia: 174
Letónia: 172
Roménia: 114
Bulgária: 92

Confrontado com esta disparidade dos mínimos europeus, o primeiro-ministro declarou ser o recente aumento o maior em termos percentuais. Eu diria mesmo mais: comparados com o Darfur, somos uns ricaços...

2007/12/16

Azar ou ASAE?

Anda para aí a correr um abaixo assinado contra a actuação da ASAE na área da comecialização de alimentos e restauração. O âmbito de actuação deste organismo, creio, estende-se muito para além disto, mas foram os "morfes" que motivaram os autores a pôr o dito abaixo assinado a circular.
Devo confessar que não assino porque não concordo com os pressupostos do texto. Como tenho pacientemente explicado a todos os estimados amigos e conhecidos que se apressaram a enviar-me o dito abaixo assinado, acho que, entre a ASAE e os contestatários, a uns lhes falta bom senso, e aos outros bom senso lhes falta... Ao leitor caberá decidir quem é quem nesta dicotomia.
Enquanto observo este intenso e arrebatador confronto vou subindo ao céu com um cozidinho da panela, preparado de forma rigorosamente tradicional como a foto ilustra (foto que foi tirada em local que por razões de bom senso não vou revelar...)
Participar num ritual destes é coisa que temos de merecer. A tradição começa nas próprias panelas que foram há muito convenientemente tratadas com toucinho. Este tratamento preliminar prepara-as para esta delicada e longa operação. Os ingredientes são, de cada vez, seleccionados pessoalmente pela cozinheira e provêm directamente do produtor. O prato é confeccionado com os ritmos, os vagares e os procedimentos que a regra tradicional dita. Usam-se brasas, nada de gás! A preparação, que dura cerca de seis horas, é levada a cabo por mãos experientes e carinhosas. A cozinheira aliás sorri serenamente --com um sorriso que nos permite perceber a razão primeira da excelência de tamanha iguaria-- quando lhe falamos nestas coisas de ASAEs, abaixo-assinados, etc e tal...
Azar dos membros da ASAE se, por fundamentalismo, nunca tiverem a oportunidade de se confrontar com um pitéu deste calibre. E azar dos "abaixo-assinantes" se alguma vez, por falta de uma ASAE por perto, lhes derem cozido com carne de gato por cozido com carne de lebre...

2007/12/14

Irene Pimentel


No país sem memória, a memória do país continua a ser escrita pela Irene Pimentel, Prémio Pessoa 2007.

2007/12/12

Realidade e ficção

Ultimamente, temos vindo a ser bombardeados com uma avalanche de notícias sobre crimes ligados aos chamados "negócios da noite". "O país", como escreve João Paulo Guerra no Diário Económico de hoje, "assiste à sucessão de crimes violentos associados aos negócios da noite como se visse um filme".
De facto, a esmagadora maioria do "país" ouve e lê as notícias (aqueles que felizmente ouvem e lêem as notícias...), olha para a realidade à sua volta e não pode deixar de ser levado a pensar que há para aqui algo de errado com esta imagem que está a ser promovida. Os crimes são reais e parece até haver, efectivamente, um novo paradigma criminal a que até agora não estávamos habituados. Parece mesmo claro que as causas dos crimes e da falta de actuação da polícia estão perfeitamente identificadas. Há novas realidades que conduziram ao presente estado de coisas, novas estruturas sociológicas que se foram instalando paulatinamente e que não foram atempadamente previstas. O Estado não sai, com efeito, bem deste retrato. Tudo isto, creio, era previsível e não teria sido difícil adoptar medidas para prevenir a situação. Alguém deveria ir para o quadro dos excedentários por não ter feito o trabalho para que é pago...
Mas, para a esmagadora, esmagadora maioria dos portugueses isto não passa de um realidade distante. E, para nós que temos liberdade de movimentos, podemos observar o que se passa à nossa volta e conseguimos pagar 1.50 € pelo Diário Económico, o fenómeno chega-nos como se tratasse, de facto, de uma má série, made in USA, sobre o "universo da noite" das cidades portuguesas.
Mas, pensemos em quem não se pode mexer, ou em quem não tem possibilidade de observar por dentro o que se passa. Para esses a realidade fica expurgada da ficção.
O que o PSD faz neste momento ao usar o tema como arma de arremesso, numa manifestação de inacreditável oportunismo político, é de uma leviandade extrema. Não sei mesmo qual será o maior crime: se os homicídios dos tais empresários da noite, se a tentativa de instalar um clima de pânico como faz o PSD pela voz de Luís Filipe Menezes.
O recém eleito responsável pelo PSD deveria, sim, meditar seriamente sobre a insensatez e irresponsabilidade desta estratégia e sobre as vantagens que para o país resultam de pintar um retrato de Portugal que está mais próximo de uma qualquer favela brasileira do que da realidade.
A quem pedir responsabilidades pelos crimes futuros?

2007/12/10

Circo Darfur (2)

Agora que a "Cimeira de Lisboa" terminou não faltam os auto-elogios. Do "espírito" da dita, à "ponte" que Lisboa parece simbolizar, os olhos dos nossos governantes querem à viva força fazer-nos acreditar que tudo foi bom e a partir daqui nada ficará como dantes. Infelizmente, a realidade não se compadece com o triunfalismo das declarações de ocasião. Os direitos humanos só raramente estiveram na agenda das reuniões e os acordos negociais não agradaram a todos os países africanos. Não fora Merkel "puxar as orelhas" a Mugabe, ninguém ouviria o nosso governo dizer o que quer que fosse sobre a presença dos ditadores em Lisboa. De acordo com as informações publicadas, estiveram em Lisboa oito líderes africanos que poderão vir a responder à justiça: Omar al-Bashir (Sudão), Meles Zenawi (Etiópia), Isaías Afewerki (Eritreia), Robert Mugabe (Zimbabwe), Jose´Eduardo dos Santos (Angola), Muammar Kadhafi (Líbia), François Bozizé (República Centro-Africa) e Paul Kagamé (Ruanda). Uma galeria de títeres.
Cá fora, e à excepção de algumas manifestações de exilados africanos contra os regimes do Zimbabwe, Angola e Líbia, pouco se deu pela contestação. As únicas notas dissonantes parecem ter sido as agressões dos "gorilas" de Kadhafi aos líbios que protestavam contra o coronel e a humilhação a que foram sujeitos os repórteres portugueses, na tenda do líder, quando os seguranças líbios confiscaram o material filmado. Isto tudo nas "barbas" das autoridades portuguesas.
Curiosamente, e lendo as notícias estrangeiras, pode perceber-se que muita coisa ficou adiada nesta cimeira e os temas comerciais foram os menos consensuais. Ao mesmo tempo, na BBC de Londres, um padre negro anglicano cortava em tiras o seu colarinho como protesto contra o regime de Mugabe e, em Paris, as manifestações contra Kadhafi eram, não só de líbios exilados, mas de socialistas franceses que se opõem à visita do Coronel.
A tenda, em Lisboa ou em Paris, será certamente a mesma, mas os circos e os intervenientes são, apesar de tudo, diferentes. Cada país tem os palhaços que merece.

2007/12/08

Karlheinz Stockhausen (1928-2007)

Acabo de saber que o compositor Karlheinz Stockhausen faleceu no passado dia 5 de Dezembro na sua casa em Kuerten-Kettenberg. Houve outros compositores deste período que tiveram grande influência no meu trabalho, mas, juntamente com Iannis Xenakis, John Cage e Luciano Berio, Stockhausen foi o compositor cuja obra mantive e mantenho sempre à cabeceira, que marcou muito o meu próprio percurso musical.
Recordo o absoluto fascínio que rodeou a descoberta da sua música.
Recordo o impacte que teve a minha primeira audição de, entre muitas outras obras suas, Gesang der Jünglinge, Momente, Kreuzspiel, Gruppen, Carré, Kontakte, Kurzwellen, Prozession, dos Klavierstücken, Mikrophonie (I e II), de Hymnen, de Stimmung ou de Trans.
A propósito destas três últimas obras, recordo outros tantos momentos recentes em que tive a oportunidade de as ouvir aqui em Lisboa. Uma magnífica versão de Stimmung foi produzida pelo Sing Circle, no âmbito do Festival Música Viva em Outubro de 2006. Hymnen, na versão banda magnética foi executada em Novembro de 2005, com a presença do próprio compositor. Algum tempo antes tínhamos tido a oportunidade de ouvir a versão com orquestra, dirigida por Pedro Amaral. Mais recentemente, Trans teve estreia em Portugal também sob a direcção de Pedro Amaral.
Controverso, arrojado, único, inovador, Stockhausen foi tudo isto. Mas como acabará ele por ser recordado pela história da música?

2007/12/07

Circo Darfur

O circo chegou à cidade. Depois do "Soleil", que voltará em Abril, foi agora a vez do "Kadhafi", que já não víamos há alguns anos. Lá mais para o Natal, e como manda a tradição, será a vez do "Grande Circo de Pequim". Lisboa está na moda e tendas não faltam. É o que se chama uma cidade cosmopolita. A "comunicação social", excitadíssima, dá grandes planos da "tenda" de S. Julião da Barra à procura da "cacha" que faz vender jornais. Na televisão, os números não são menos impressionantes: mais de 50 chefes de estado, outros tantos primeiro-ministros e ministros do estrangeiro, 22 hotéis e 5.000 refeições diárias. Custos: 10 milhões de euros, não previstos no Orçamento de Estado. Brown não vem, mas veio Mugabe, que vende muito mais jornais. Coitado do Eduardo dos Santos, cuja notoriedade como ditador é ainda inferior à do Robert. Ainda por cima vai para um hotel de cinco estrelas, bem menos exótico do que uma tenda onde servem chá de menta.
Sobre os direitos humanos, pouca gente fala. O Zé Manel de Bruxelas ainda tentou "puxar pelos galões", ao lembrar que tinha apoiado os movimentos de libertação africanos, mas a vertigem circense quer espectáculo e está-se a marimbar para os direitos humanos. A crise humanitária no Sudão não faz parte da agenda de trabalhos. Já que não há pão, ao menos haja circo. E circo vai haver. Pelo menos durante o fim-de-semana, lá para os lados do Parque das Nações. Cá fora, entre "outdoors" que lembram o Darfur, o repórter de serviço pergunta a um cidadão anónimo: "Já ouviu falar do Darfur?". O homem responde afirmativamente. "Sabe o que é?". "Sei. Não é aquele grande armazém francês, que vende roupas e coisas assim?".

2007/11/29

Daqui não sai!

De vez em quando o país cultural e o Ministério da Cultura agitam-se. Fruto desta visão e desta estratégia espasmódica que reduz a cultura à noção de uma convulsão primária que, inadiável, tem de se soltar, de vez em quando um frémito extático percorre os corredores alcatifados da cultura portuguesa. Agora o motivo do sobressalto é o Tiepolo. O quadro fica, o quadro é património português, o quadro está pré-classificado, pré-marcado, o quadro é nosso! E do país não sai!
Na falta de uma política cultural, na falta de uma vida cultural, na falta de medidas, na ausência de ideias surgem então estes episódios, generosamente alimentados por uma dose reforçada de exposição mediática. Agora é o Tiepolo, há tempos foi a colecção Berardo e outros factos político-culturais da mais alta envergadura hão-de surgir, certamente, para inflamar a plebe e dar ao mundo ar de que Portugal pertence efectivamente à elite, a cultura mexe e os propósitos mais nobres e elevados dominam as consciências.
O Tiepolo, vê-se logo, é nosso, tal como os pastéis de bacalhau e o vinho do Porto. E o hóquei em patins! Não nos esqueçamos do hóquei em patins!! E daqui não saem!
Os artistas e os cientistas portugueses, podem ter de fugir desta pátria madrasta para poder exercer a sua actividade e sobreviver, mas o Tiepolo, esse fica! Podemos estar na cauda das caudas de tudo o que seja susceptível de ser aferido por qualquer indicador válido, por mais básico que seja, mas o Tiepolo daqui não sai!


PS- Parece que sou bruxo... Já depois deste "escrito" estar publicado soube-se que o Estado Português arrematou o Tiepolo. Afinal sempre vai havendo massa! Uma milhão e quinhentos UMA! Uma milhão e quinhentos DUAS! Uma milhão e quinhentos TRÊS! Vendido à senhora dos óculos de massa!!

2007/11/28

Descordo ortográfico

O tema anda por aí. Não sou de forma alguma perito, nem me sinto capaz de juízos sobre esta matéria com a necessária autoridade. Mas, como há, por um lado, em todo este processo questões que transcendem o problema "técnico" (se é que se lhe pode chamar assim) e, por outro lado, muitos "peritos" que tenho ouvido falar sobre esta matéria que me parecem não passar, como eu, de "peritos de bancada", aqui vão os meus dez reis de argumentação, porque eu escrevo, logo existo!
O "Acordo ortográfico", para mim, é um perfeito disparate. A existir e a tentar-se a sua implementação nunca passará de uma intenção. A língua é uma coisa viva, dinâmica e não pode ser "cristalizada" por decreto. Mesmo que uma intenção dessas tivesse sucesso, a nova realidade linguística estaria sujeita ao processo "evolucionista" natural e em breve passaria a ser outra realidade. Não creio sequer que seja assunto que nos deva preocupar porque se há um elemento de liberdade e de responsabilidade, de anarquia em estado quase puro, na vida humana esse é o que a língua nos proporciona. Ninguém me pode de facto impedir, por mais que tente, de "inventar" a língua (falada ou escrita) como quiser e cabe-me a mim (e não a qualquer burocrata com tempos livres para queimar...) decidir como hei-de articular esta minha margem de invenção, com a margem de invenção dos outros. Falada ou escrita, a língua é minha!
Este o problema essencial.
Entre os que defendem a "normalização" têm aparecido argumentos que me deixam espantado. Há um, por exemplo, que tenho ouvido também por aí da boca de gente que o diz com ar sério, sobre o prejuizo que a falta de "normalização" traz aos países lusófonos, sobretudo quando falamos de organismos internancionais que usam o português como língua de trabalho.
Que eu saiba (corrijam-me, no entanto, se estiver enganado), não existe qualquer "norma" para o inglês ou para o francês. Seria interessante saber o que resultou da tentativa de "normalizar" a grafia alemã. Lembro-me de na altura isso ter gerado enorme polémica mas não acompanhei mais o assunto. Não ouço em nenhum país anglófono ou francófono este argumento bacoco de que têm de ser produzidas diferentes versões de um mesmo documento usando as diferentes grafias adoptadas e isso custa dinheiro. E esses países costumam ser mais cuidadosos com os gastos do que os portugueses...
Aqui há uns anos lembro-me de ter lido um artigo sobre o problema da escrita chinesa e dos computadores. Em síntese, o articulista dizia que ou a China conduzia um processo de reforma profunda do seu sistema ortográfico, ou arriscava-se a passar ao lado da revolução informática. Mas, por outro lado, lembrava também o articulista, o que acontecerá à Humanidade (e não só à China) se este património incalculável desaparecer por força do cilindro normalizador?
"Acordo ortográfico"? Eis as razões do meu descordo...

2007/11/25

Um bocadinho mais para a esquerda...

Agastado com o actual rumo do partido que ajudou a fundar, Mário Soares vem hoje apelar, em entrevista no DN, a um maior empenhamento das hostes socialistas junto dos mais desfavorecidos da sociedade. Para quem, na década de setenta "meteu o socialismo na gaveta" não deixa de ser uma observação curiosa. Diz ele, a determinada altura, que o governo devia fazer uma política "um bocadinho mais para a esquerda", pois as desigualdades sociais são cada vez maiores e o número de pobres não pára de aumentar.
A frase é todo um programa e faz-nos lembrar a cena inicial do filme "Aprile" de Nanni Moretti, onde a personagem principal (interpretada pelo próprio Moretti) olha desolado para a televisão que transmite um discurso do lider socialista italiano, enquanto comenta: "Por favor, diz qualquer coisa de esquerda. Uma coisa de esquerda. Ao menos, uma coisa de esquerda"!
Soares já nem uma política de esquerda quer. Apenas, um bocadinho mais para a esquerda...

2007/11/24

Uma mentira conveniente

Ramos Horta, Presidente de Timor-Leste e Prémio Nobel da Paz, vai propôr Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, para Prémio Nobel da Paz em 2008. Da Paz? Não fosse a credibilidade da notícia e julgaríamos estar em presença de uma mentira do 1 de Abril...em Novembro.
Mas, pensando bem, percebe-se porquê. Não foi Ramos Horta, o amigo americano de serviço, quem sempre apoiou a invasão do Iraque, chegando a escrever um artigo sobre o assunto largamente citado na imprensa internacional? Quem melhor do que um cúmplice da guerra, para "limpar" o Nobel da Paz?
Sabendo que Durão é, dos quatro participantes na "Cimeira dos Açores", o único que manterá as suas funções para lá de 2008, Horta joga no futuro. Dá sempre jeito ter um amigo português e presidente da Comissão, eleito em 2009. Se for Nobel melhor. Se for da Paz, então não se fala! Ele há cada uma...

2007/11/18

2007/11/16

A corrente "página 161"

Rini Luyks (colaborador do blogue "Anacruses") incluiu "A Face Oculta da Terra" numa lista de cinco blogues a quem desafia continuar uma "corrente literária" com base nos seguintes pressupostos:
1. Escolher um livro ao acaso, com mais de 161 páginas.
2. Abrir na página 161 e escolher a 5ª frase completa dessa página.
3. Transcrevê-la no blogue.
4. Descrever o seu contexto.
5. Indicar 5 blogues e desafiá-los a fazer o mesmo.

Respondendo ao desafio (sabe-se lá o que o destino me trará de bom!) aqui vai a frase encontrada:

"Nesse teu jardim - disse Noel - o que é que lá plantaste?"

(do livro: "A Vida e o Tempo de Michael K" de J.M. COETZEE, Trad. Ricardo Fernandes, Ed. D. Quixote, 2007)

O livro relata a odisseia de um jovem (Michael K) que decide levar a sua mãe, doente, para fora da área policial da península do Cabo, durante o regime "apartheid" na África do Sul. Trata-se da mais recente tradução portuguesa de J.M. Coetzee (que não o seu último livro) um dos grandes escritores da actualidade.

Aproveito, para sugerir outros cinco blogues:

"aspirina b"
"crónicas da terra"
"miniscente"
"respirar o mesmo ar"
"esculpir o tempo"

Boas leituras!

2007/11/13

OTA "jamais"?

Agora que a presidência portuguesa "europeia" vai terminando o seu mandato, regressa a polémica da OTA. O processo, interrompido em Junho para evitar danos que podiam tornar-se irreparáveis para o executivo, foi adiado por seis meses com a promessa de mais e melhores estudos sobre a localização definitiva do aeroporto de Lisboa. Uma manobra inteligente, que afastou temporariamente as atenções de um ministro desastrado e permitiu ao governo dedicar-se a questões internacionais mais importantes. Só que o tempo não pára e, aos estudos encomendados pelo governo, outras encomendas se seguiram, das quais a primeira (CIP) já é, entretanto, conhecida. Outra se seguirá (ACP) e nada prova que seja pior que as anteriores.
Temos assim, duas propostas conhecidas e uma em vésperas de tornar-se pública, para além de um instituto (LNEC) que fará a análise comparativa e a avaliação definitiva do que - espera-se! - seja a última palavra sobre esta interminável saga.
Em todo este intrincado processo algumas questões parecem óbvias. Por exemplo: como é possível que, durante os trinta anos de estudos, a opção Alcochete nunca tenha estado em cima da mesa? Se esta não era possível (dada a existência de um campo de tiro) porque é que uma simples intervenção do Presidente da República alterou definitivamente as limitações da escolha? Mais, como é possível que o estudo da CIP, em apenas meia-dúzia de meses, tivesse chegado a conclusões notoriamente mais favoráveis do que todos os estudos precendentes encomendados pelo governo?
Estas são, naturalmente, perguntas do senso-comum que qualquer cidadão interessado fará. Não se percebe, por isso, a reacção do ministro Lino, ao desvalorizar as conclusões que dão preferência a Alcochete e declarar, inclusive, que não tem tempo para ler todos os relatórios que lhe chegam às mãos. Pior, ao que parece encomendou um terceiro estudo (RAVE) que contraria as conclusões do estudo da CIP. Ou seja, mesmo que não seja essa a intenção do ministro, dificilmente ele conseguirá fazer passar a ideia de que tudo está a ser feito para construir o aeroporto no melhor sítio e ao melhor preço possível. Se não é assim, porquê estas reticências?
A menos que haja razões que a razão desconhece, este comportamento relembra-nos um passado não muito distante em que a margem Sul não passava de uma miragem. Confesso que já tinha algumas saudades da "stand-up comedy" nacional.

Leituras cruzadas

O meu amigo, o encenador Fernando Mora Ramos, publicou no Público do passado dia 10 de Novembro um artigo intitulado "Um em cada cem". O artigo aborda a questão das verbas destinadas pelo OE à cultura e a este propósito lembra a posição do governo: que não haja "ilusões, o Governo tem de definir prioridades."
FMR afirma "Como a história ensina não há transformação sem uma base cultural forte. E a mudança actual é para trás, não ao contrário. Não tenhamos ilusões."
Mas, então e os propósitos anunciados pelo governo quanto ao desenvolvimento? E a aposta no incremento do conhecimento e na qualificação dos Portugueses? E a ciência? A ciência não é cultura?
Quis o acaso que andasse a ler um livrinho intitulado "Scientific Curiosity", de Cyril Aydon, onde a páginas tantas deparo com o seguinte parágrafo (traduzo livremente):
"A ciência, tal como hoje a concebemos, aconteceu apenas duas vezes na história do mundo. E entre o crepúsculo do mundo Grego e o amanhecer da moderna era científica tivemos um hiato de 1500 anos, durante o qual pouco ou nada foi acrescentado ao nosso património de conhecimento científico. Porquê? Poderia ser genético. Os Gregos não eram mais espertos que os Romanos ou os Chineses, nem os habitantes da Europa mais espertos que os Aztecas, ou o povo do Zimbabwe. Talvez a explicação esteja na economia: a ciência só pode prosperar em sociedades suficientemente ricas para permitir que uma série de gente se sente para pensar e conversar. Mas, a riqueza e o tempo livre não podem ser a explicação senão a antiga Roma e a China Clássica teriam sido fábricas de ciência. A explicação deve ser de índole cultural, para além de econonómica. Algumas sociedades estão organizadas de forma --e desenvolvem hábitos de pensamento-- que torna a ciência viável. Outras, igualmente prósperas, tem formas de organização, códigos de crenças e formas de pensamento que fazem definhar a ciência. As sociedades com um respeito exagerado pelo passado não podem gerar a atitude de desafio às ideias feitas que produz novas formas de compreensão. As sociedades em que os sacerdotes têm poder tendem a aprisionar ou suprimir aqueles que ameaçam o seu monopólio na explicação das coisas. Quando o discurso e o pensamento livres são constrangidos, a mente e o corpo apodrecem agrilhoados."
Não há sequer mudança em Portugal. Nem para trás, nem para a frente.

2007/11/07

Duelo ao Sol

A "discussão" sobre o Orçamento de Estado que, por estes dias, vai decorrendo no Parlamento é bem um exemplo da estagnação ideológica instalada na sociedade portuguesa.
O que devia constituir um momento de excepção para avaliar da estratégia económica e financeira do governo para o próximo ano, transformou-se num espectáculo mediático antecipado em grandes parangonas pelos mais respeitáveis orgãos de comunicação social do país. Mais do que procurar interpretar as medidas governamentais que irão influenciar a vida dos portugueses, os nossos colunistas de opinião (há excepções) concentraram a sua atenção num imaginário duelo entre o chefe do governo e o lider da bancada da oposição, como a grande novidade deste debate.
Não nos lembramos, em recentes anos, de tal empolamento jornalístico em redor do que devia constituir o normal e regular trabalho da Assembleia elegida para controlar e julgar o trabalho do governo. Contrariamente ao que possa pensar-se, a atenção não se fixou em saber se as despesas vão ser contidas ou se haverá outras receitas para além daquelas extraídas do aumento da carga fiscal. Não, a atenção concentrou-se no debate entre "dois velhos conhecidos" que, de há muito, personificam a ideologia velha que nos governa de há vinte anos a esta parte. Como era de esperar, numa situação em que o governo dispõe de maioria absoluta e não necessita de apoios ou compromissos para impôr outra política que não de direita, a direita, propriamente dita, ficou sem espaço para poder oferecer uma alternativa credível ao país. Chegámos assim a uma situação de impasse ideológico total, agora que um partido - o do governo - "secou" o centro político e pode agir politicamente a seu belo prazer sem risco de ver contestadas as medidas que toma.
Para já, os índices de popularidade, dão-lhe (aparente) razão. Os portugueses, apesar de penalizados, não vêem alternativa concreta e basta o primeiro-ministro acenar com o passado recente para assustar os mais incautos. Quem quer ver de volta o "menino guerreiro"?
Foi isso que, ontem, se passou no hemiciclo. O "pistoleiro" enviado pela oposição para disparar mais rápido do que o "justiceiro" de serviço, mal conseguiu sacar do revolver e já estava crivado de balas. Na pradaria portuguesa, o "lonely ranger" continua a assobiar para o lado. Como nos filmes do Sergio Leone...

2007/10/29

Womex sevilhana

No Outono, Sevilha parece ter mais encanto. Esta é, claro, a opinião de alguém que conhece melhor a cidade através da (sua) música e, de há dois anos a esta parte, através das músicas do resto do Mundo que por lá passam.
Acontece que a WOMEX (World Music Exhibition), a mostra mais importante do género musical, se deslocou com armas e bagagens para a capital andaluza, com quem tem um protocolo de três anos. Uma oportunidade única de provar as tendências musicais da actualidade e passar quatro noites numa cidade que dorme pouco.
Sobre a feira, muito haveria a dizer, desde os negócios entre produtores e distribuidores, às conferências sobre a indústria discográfia, a crise e as soluções para sair dela, passando pelo "networking" sempre presente nestas ocasiões.
Porque a feira é musical, era nos "showcases" que residia a nossa principal curiosidade, até por sermos parte interessada. Não saímos defraudados. Entre os mais de 40 concertos programados podíamos eleger uma boa dúzia de grandes momentos. Queremos, no entanto, destacar os "Gaiteiros de Lisboa" (únicos representantes portugueses) que deram um concertão de 45 minutos, ao nível dos melhores a que deles temos assistido; o concerto conjunto de Faiz Ali Faiz (Paquistão) e Duquende, Chicuelo e grupo (Espanha) que teve honras de abertura da feira; o extraordinário guitarista Yamandu Costa (Brasil); o virtuoso "Taksim Trio" (Turquia); o refinado duo "Tara Fuki" (República Checa); os nova-iorquinos "Balkan Beat Box"; os aclamados "Tango Bajofondo Club" (Argentina); o projecto mediterrânico "Aman, Aman" (Espanha/Grécia), os occitanos " Le Côr de La Plana" (França); o "tanguero" Melingo (Argentina) e a "Fanfara Tirana" (Albânia) a lembrar os filmes de Kosturica, sem esquecer o projecto de "Mamani Keita e & Nicolas Repac" (Mali/França) ou essa fabulosa cantora Tanya Tagaq (Canada), para citar alguns exemplos. Agora, só resta ouvir a música e esperar pelo próximo ano. Em Outubro, no Outono.

2007/10/20

Tamanho conta...

As declarações do cientista James Watson tiveram ampla cobertura mediática. Recordo que este cientista, vencedor do Nobel da Medicina, fez declarações de índole racista dizendo qualquer coisa como o tamanho da inteligência dos pretos não é igual ao dos brancos. Se fosse só a inteligência...
Mas a polémica não é de hoje. Os factos demonstram que este galardoado com o Nobel já há muito revela não estar na posse total das suas faculdades. São conhecidas as suas posições relativamente ao problema das bases de dados genéticas, e são igualmente conhecidas as suas gabarolices mariálvicas.
Na altura em que estes factos foram conhecidos ninguém pareceu chocado com as posições e revelações de Watson. Daí que pareça agora estranho o facto de o delírio de Watson ter passado subitamente a ser considerado chocante...
Escolha feliz, sem dúvida, a deste cavalheiro para presidente do conselho científico da Fundação Champalimaud...

2007/10/18

Do Referendo

Estatísticas: Desde a adesão de Portugal à Comunidade Europeia, em 1985, nunca os portugueses puderam pronunciar-se sobre qualquer das grandes decisões da União: nem em 1986 (Lisboa), nem em 1992 (Maastricht), nem em 1997 (Amsterdão), nem em 1998 (Adesão ao Euro), nem em 2005 (Nice), nem em 2007 (Lisboa). O denominado "Tratado Reformador" é, na opinião do primeiro-ministro português, um dos momentos mais importantes deste percurso europeu. Se é assim tão importante, porque é que o Tratado não pode ser referendado?

2007/10/17

Da Pobreza

Estatísticas: Cerca de 2,1 milhões de portugueses (20% da população) são pobres e, deste total, 740 mil subsistem com seis euros por dia.

2007/10/15

Nova Linguagem

A "temporada política" foi este fim-de-semana inaugurada com a consagração do novo líder da oposição. A avaliar pelo seu discurso de posse (ainda longe das oito horas de Chávez...) é já notória a intenção de criar uma linguagem alternativa ao actual governo. O líder propõe "a criação de um programa de parcerias puvlico-pribadas para reformar o parque escolar e a separação definitiba da medicina pribada da medicina púvlica", acrescentando que a única coisa que existe é "um superabit de rebolta, de indignação de mandar emvora o PS e dar uma oportunidade ao PSD". O líder disse ainda que "achaba inaceitábel que um beto do Presidente da Repúvlica, relatibamente à justiça, possa ser ultrapassado por uma maioria parlamentar", para finalizar, dizendo que "o PSD bai começar a preparar um projecto de uma noba constituição, não uma rebisão". Os sulistas, elitistas e liverais que se cuidem...

2007/09/27

Os "Fados" do Carlos

Carlos Saura é um autor espanhol de reconhecidos méritos. A atestá-lo estão filmes como "Ana e os Lobos", "Cria Corvos", "Elisa, vida minha", "Depressa, Depressa" ou "Taxi" e "Ay, Carmela!", a maior parte deles realizados durante a ditadura franquista. A partir da década de oitenta, nota-se uma inflexão na sua obra, agora mais centrada em temas musicais de influência flamenca - "Bodas de Sangue", "Carmen", "O Amor Bruxo" - onde já é reconhecível o seu gosto estético ligado à dança. É na década de noventa, no entanto, que Saura se afirma como documentarista de musicais, realizando algumas das suas obras mais populares: "Sevilhanas", "Flamenco" e "Tangos".
Com um currículo destes não é, pois, de admirar, que alguns "iluminados" tenham pensado nele como a pessoa indicada para fazer um filme sobre o Fado. Subjacente a este pensamento peregrino, estava uma candidatura do Fado a "património cultural intangível da humanidade", a apresentar à Unesco em futuro próximo; e a ideia (ainda mais peregrina) de que Saura estava a pensar fazer uma trilogia sobre músicas urbanas (Flamenco, Tango e Fado) pelo que esta era a oportunidade ideal...
Independentemente da Unesco vir, ou não, a considerar o fado "património cultural intangível" (não considerou o Tango, por exemplo) não consta que Saura, alguma vez, tenha posto a hipótese de fazer um filme sobre o Fado. Percebe-se porquê: não é a sua cultura, o fado é uma canção de texto (pouco apelativo em termos estéticos), não tem muitos nomes conhecidos internacionalmente e, dificilmente, é um tema que apaixone os patrocinadores. Resta, ainda, a questão do Flamenco ser uma música urbana, tema sobre o qual os especialistas se dividem.
Os nossos "experts" não se atemorizaram e vai de convidar o homem. Para o convencer, trouxeram-no a Lisboa, puseram-no a ouvir fado nas baiucas de Alfama e da Mouraria, ofereceram-lhe discos e livros, fizeram-lhe uma "lista" de "fadistas incontornáveis" e trataram de arranjar o dinheiro para a "encomenda", que estas coisas não se fazem de graça, não é verdade? Nas palavras de um responsável, "deram-lhe mesmo um verdadeiro curso intensivo". Quem poderia resistir a tal "charme"?
Desde logo foram anunciados os nomes "sonantes": Carlos do Carmo, Mariza e Camané (os cantores), Ruy Vieira Nery (consultor científico), Carlos do Carmo (consultor musical), Eduardo Serra (director de fotografia) e o próprio Saura, apoiado por Ivan Dias (produtor) no "guião". A Câmara Municipal de Lisboa, o Turismo de Lisboa e a TVI, apoiaram a iniciativa com 1 milhão de euros e o restante (2 milhões) foi conseguido através do programa Media-Europa e de Espanha (TVE, Turismo Espanhol, etc...). Aparentemente, tudo bem. Restava, fazer a "obra".
Acontece que, nestas coisas, os produtores "não brincam em serviço" e, naturalmente, exigem contrapartidas. As filmagens, previstas para Lisboa, foram transferidas para Madrid (por razões de produção); o director de fotografia (o prestigiado Serra) abandonou o projecto, depois de fazer algumas tomadas de "vista" de Lisboa; parte significativa dos nomes sugeridos, não foi utilizada e, em seu lugar, foram convidados os "sonantes fadistas": Chico Buarque, Caetano Veloso, Lura, Lilla Downs e Miguel Poveda...Como o fado não tem "dinâmica", o realizador lembrou-se de animar as cenas em que cantam os estáticos fadistas (Marceneiro, Camané, etc....) com corpos de baile espanhol, nomeadamente no "dueto" entre o flamenco Poveda e a fadista Mariza. O quadro, de resto, chama-se mesmo Fado-Flamenco (?). Desconhecia o género, mas uma pessoa está sempre a aprender...
Que mais posso dizer, que a prosa já vai larga? Bom, que como filme de "world music" é perfeito. Provavelmente, o melhor jamais feito sobre a música da "Lusofonia". E esse é o seu mérito. Por isso vai "vender" bem. Também é, esteticamente, um bom filme (mas isso já sabíamos de obras anteriores do realizador) com alguns bons momentos, precisamente aqueles em que o fado vale por si, ou seja: sem artifícios.
Um filme sobre o Fado, para divulgá-lo e apoiar a candidatura à Unesco? Parece-me risível e ninguém de bom senso vai deixar-se influenciar por tal produto comercial. Um bom musical, com muita dança à mistura e alguns nomes sonantes, não fazem um bom filme de fado. Um equívoco, pois.
Resta a dúvida, levantada por um crítico argentino na televisão portuguesa: "Será que Saura, gosta de fado?"

Santana Lopes 1- SIC Notícias 0

Soube hoje por um jornal on-line que Santana Lopes abandonou uma entrevista que estava a dar na SIC Notícias. Por uma vez Santana Lopes (personagem com quem nem sequer simpatizo) esteve bem.
Mas, atenção: eu estou melhor ainda ! Não vi o programa e não vejo televisão. Já há muito que "abandonei" as entrevistas, os entrevistadores, os entrevistados, os "canais de notícias" e os "generalistas", os "pivots" e as dentaduras deles, os jornalistas e o as técnicas de marketing... perdão de comunicação.
Não foi uma atitude inusitada, nem desproporcionada, a minha. Foi.

2007/09/21

Proef Portugal

Durante a minha recente passagem por Amsterdão aproveitei para rever amigos e lugares que são já parte integrante da minha vida. Uma das surpresas, ainda que expectável, é a dedicação que certos holandeses continuam a nutrir por Portugal. Uma paixão de décadas que parece aumentar à medida que os anos passam. Penso ser esta uma das melhores definições do amor que conheço: a fidelidade.
No passado domingo, tive o privilégio de assistir a uma dessas manifestações que, só por si, justificam todo o apoio que os organismos nacionais portugueses queiram prestar-lhe.
Pelas instalações da antiga KNSM (Companhia Real Holandesa de Vapores), um edifício situado na zona portuária da cidade, passaram mais de trezentos holandeses a "provar Portugal". Uma iniciativa particular de amigos do nosso país que, de há anos a esta parte, teimam em pôr "Portugal no mapa". Dos "stands" turísticos aos gastronómicos, passando pelo Fado e Folclore ao vivo, até à divulgação da língua e literatura portuguesas, de tudo houve naquela tarde de confraternização e promoção da cultura portuguesa no sentido lato da palavra. Lá estavam as representações da transportadora área nacional, os restaurantes mais emblemáticos da cidade, os principais importadores de vinho e artesanato, mas também o Instituto Latino na promoção da língua e o Fernando Venâncio na divulgação da nossa literatura. O representante local do ICEP (noblesse oblige) aplaudiu e fez o discurso inaugural. Os meus agradecimentos vão, no entanto, para Sabina Sorber, amiga de longa data e principal responsável pela organização do evento. Só posso desejar-lhe que este "Proef Portugal" seja o início de uma bela iniciativa.

2007/09/18

MacRepair.nl

Nada como distanciarmo-nos do país, para vermos a "terrinha" em perspectiva.
De visita à Holanda, aproveitei a viagem para levar o meu portátil, a necessitar de reparação urgente. Na pior das hipóteses teria de comprar um novo...
A sugestão foi de amigos (do) MAC que me sugeriram visitar uma oficina em Amsterdão onde, para além de repararem computadores daquela marca, ainda vendem peças usadas em perfeito estado de uso e conservação. Lá fui e a primeira surpresa tive-a com as dimensões e o aspecto da loja: um rés-de-chão de 50m2, onde através de vidros decorados com a famosa "maçã", podíamos ver 4 funcionários a trabalhar em frente a carcaças de MAC´s desmantelados. Um verdadeiro estaleiro. Explicámos ao que íamos (recuperação de ficheiros perdidos e um novo écran) tendo sido informados de que o primeiro problema seria difícil, dependendo do estado do disco rígido; e que o segundo, era simples de resolver. Orçamento: 37 euros pelo teste do disco (diagnóstico) e 350 euros pelo écran (display). Com IVA a 19%, um total de 450 euros. Tempo de entrega: 48 horas. Por comparação: em Portugal levam 80 euros pelo diagnóstico, 700 euros pelo écran e 21% de IVA. Tempo de entrega: 10 dias.
Claro que as "nossas" instalações são melhores: escritórios luxuosos, vidros esfumados impeditivos de ver os interiores, recepcionistas "produzidas" que não percebem minimamente do que estamos a falar e uns "técnicos" sempre ocupados que saem de armazéns fechados a quatro chaves, onde se pode ler "proibida a entrada a estranhos" (não vá alguém descobrir o segredo de arranjos tão caros, quando os nossos trabalhadores ganham tão pouco...).
Dois dias mais tarde, telefonaram-me para casa: podia levantar o computador. Lamentavam não ter podido recuperar os ficheiros, mas tinham colocado um novo écran.
Chegado à loja, a última surpresa: fizeram-me um desconto de 75euros (só teria de pagar 371), pois o écran não era completamente novo e ainda me ofereceram uma protecção almofadada com a insignía da loja: MacRepair.nl.
Chama-se a isto transparência.

2007/09/16

Uma nova orquestra


Foi nesta quinta feira que a nova Orquestra de Câmara Portuguesa fez a sua primeira apresentação pública. Um projecto concebido e dirigido por Pedro Carneiro, destinado a dar um enquadramento ao mais alto nível, institucional e artístico, aos inúmeros jovens talentos formados nas escolas de música portuguesas.
A OCP é o fruto do talento sem limites, da inesgotável capacidade de trabalho e da tenaz preserverança de Pedro Carneiro que juntamente com a sua equipa ergueu este projecto. É também o resultado do inultrapassável amor pela música que o Pedro Carneiro e os seus colaboradores demonstram. A OCP é uma obra de amor e o seu exemplo serve para mostrar, antes de tudo o mais, que em matéria de música, como em tudo o resto, é preciso amar para começar a fazer obra. Quantas pessoas amam verdadeiramente aquilo em cujo envolvimento se mostram empenhadas?
À OCP eu desejo todas as venturas do mundo.

2007/09/07

Do Portugal profundo (3)

A acreditar na imprensa em geral - mais rápida a inglesa, mais sensacionalista a portuguesa - a "saga da pequena Maddie" parece ter atingido um "turning point" na investigação em curso. De "rapto" a "morte", passando por "negligência por homícidio", temos ouvido de tudo nestes últimos quatro meses.
As imagens desta manhã, em directo de Portimão, mostraram - pela primeira vez - uma multidão hostil e ululante manifestando-se contra a mãe da desaparecida menina. Bastou um interrogatório de 11 horas para que a opinião da opinião pública (que a publicada já tinha avançado com o julgamento) tenha mudado de posição e Kate McCann tenha passado de heroína a homicida.
Independentemente do veredicto final, ninguém poderá julgar Kate antes desta ser julgada. Este é o princípio de inocência que um estado de direito deve começar por respeitar.
Sabemos que a polícia sabe mais do que nós e não deixará impressionar-se por meia centena de "cidadãos indignados" que gostariam de crucificar, desde já, todos os suspeitos. O habitual. Provavelmente, só essa condenação os expiará da mórbida condição de "voyeurs", da qual nunca conseguiram libertar-se. Uma tradição inquisitorial, perpetuada pelo obscurantismo de séculos, em que continuamos a viver. Portugal medieval no seu estado mais bruto. Lamentável.

2007/09/06

Do Portugal profundo (2)

Ode ao "Óscar" (*)

Lá p'rós lados de Lanhelas
Vive o "Óscar do funil"
Toma conta dos carneiros
leva vida de baril...

Sentado no seu castelo
No meio da mata plantado
Dizem que é eremita
Mas é homem avisado...

Foi criado p'la Maria
Pintora de Amsterdão
Que ajudada pelo Meira
Concebeu a instalação

Agora no Alto-Minho
Volta a reza com fervor
Nasceu um novo "santinho"
Que não precisa de andor

Cuidem-se os santos zelotes
Que o "Óscar" está para durar!
Ainda vai passar à história
Com o IPPAR a ajudar...

Agosto de 2007

(*) Quadras soltas, escritas por ocasião da inauguração de uma instalação de
Maria Mendes, na aldeia de Lanhelas, em Caminha.

2007/09/02

Do Portugal profundo

Sem computador para trabalhar (ver "post" anterior) resolvi passar uma semana a "banhos". A convite de uma amiga, com casa em Caminha, optei pelo Alto-Minho. Adoro Caminha, por variadas razões: a localização privilegiada, a harmonia do centro histórico da vila, os amigos que fiz ao longo dos anos, as praias, a mata do Camarido, alguns restaurantes e a sensação de estar ao lado da Galiza, ali mesmo à mão de semear...
Por me parecer mais prático e rápido, viajei de autocarro: Não teria de fazer transbordos e havia uma paragem, em Pombal, para estender as pernas. Um total de seis horas, de acordo com o horário. Pelo sim, pelo não, tentei confirmar com a funcionária da empresa de camionagem a que horas chegava. Disse-me que, em princípio, devia ser à meia-noite e meia. Em princípio, porque na vida não há certezas. Elucidativo.
Acontece que a A1 está em obras (construção da terceira faixa) e estivemos parados uma hora e meia, algures na região de Santarém, enquanto as máquinas trabalhavam cinco quilómetros à frente da fila que, entretanto, se formou. A planeada paragem de 20 minutos transformou-se em meia-hora (para os condutores poderem jantar) e, em vez da meia noite, chegámos cerca das duas da madrugada. Jurei a mim mesmo não voltar a usar o autocarro na viagem de volta.
No regresso, optei pelo combóio. Tentei comprar bilhete de véspera, mas a bilheteira estava fechada. No dia da viagem, continuava fechada. O "chefe" de estação, de bandeira vermelha enrolada debaixo do braço, informou-me que podia adquirir o bilhete no combóio, mas foi avisando que teria de mudar em Viana. Em Viana? Sim, a ponte estava em obras, pelo que teria de passar para uma camioneta que me levaria à outra margem do Lima. Aí, retomávamos o combóio...
Com a mala às costas e no meio de um grupo de suecas (de mal a menos) que não percebiam nada do que se passava, lá atravessei a ponte de autocarro e apanhei o combóio seguinte, com meia-hora de atraso...
Obviamente, perdi a ligação com o Intercidades e tive de esperar, em Campanhã, pelo Alfa, que era mais caro e partia uma hora mais tarde. Em Santa Apolónia, ao apanhar um táxi, o taxista informa-me que não pode ir pela "baixa" porque a Praça do Comércio estava fechada ao trânsito. A primeira "grande medida" de António Costa...
Tempo total da viagem, após três combóios, um autocarro e um táxi: 7 horas, uma hora menos do que a viagem de ida em autocarro, para um percurso de cerca de 400km...
Recordei a primeira vez que estive em Caminha, em meados da década de oitenta, já lá vão 22 anos. Fui de autocarro e vim de combóio. Como agora. Demorei exactamente o mesmo tempo. A tradição ainda é o que era...

2007/09/01

Aquela MACuina!

Durante quinze anos fui um utilizador de PC's. Lembro-me do primeiro "desktop", de marca "Tandon", que custou uma fortuna em 1990 e que permanece arrumado, mas operacional, na minha casa de Amsterdão. Também recordo o primeiro "laptop" (um genérico de nome "Magicbook") comprado em 1993, que ainda hoje funciona. Finalmente, o "Toshiba" (satellit) que me foi oferecido em 2003 e que, como os restantes, é regularmente utilizado.
Todos eles me deram horas de alegria, mas o tempo não perdoa. A pouca capacidade dos discos rígidos e a reduzida velocidade dos processadores, exigiam uma resposta mais adequada. Decidi-me a comprar um computador novo e fiz uma prospecção de mercado. Os vendedores mais conscienciosos e os testes da DECO indicavam o MAC como a melhor opção preço/qualidade (mais fáceis de utilizar, melhores "perfomances" técnicas, melhores placas gráficas, praticamente imunes a "virus" e um "design" imbatível). Para além disso, a incompatibilidade de programas tinha praticamente deixado de existir. Falei com amigos informáticos e todos aconselhavam a não comprar um MAC: era mais caro, maior dificuldade na reparação e, porque existem menos utilizadores, mais difícil de conseguir programas...
Uma escolha difícil, com argumentos pertinentes de ambos os lados. Porque sou um utilizador básico (tipo "nabo") optei por arriscar. A utilização "intuitiva" (friendly use), a compatibilidade de programas, agora mais imunes a vírus, tudo embrulhado num imaculado branco, convenceram-me: optei por um Macintosh.
Durante dois anos, a MACuina correspondeu às melhores expectativas. Até há dois meses.
Os primeiros problemas começaram com um estranho "arrastar" de programas, agora cada vez mais lentos. Quando "abria" mais do que um aplicativo em simultâneo, o sistema "bloqueava". O primeiro aviso "sério" chegou com um ponto de exclamação amarelo e a frase: "o volume do seu disco rígido está cheio! Apague alguns aplicativos para libertar a memória!". Fui verificar o disco e verifiquei que tinha dois terços da "memória" livre (!?). A determinado momento, já nem conseguia fazer o "login". Desesperado, consultei o representante da marca, que me aconselhou a comprar um "disco externo", "passar" para este toda a informação e tentar uma nova instalação do programa. Podia ser que resultasse...
Assim fiz, mas não resultou, pela simples razão de que não conseguia sequer aceder aos programas. Voltei à loja e fizeram-me o diagnóstico: o disco rígido estava irrecuperável. Necessitava de um novo. Não garantiam poder recuperar toda a informação. Deixei lá o computador e parti de férias. Paguei duas intervenções técnicas (diagnóstico e instalação) e um disco novo: Total €433,-
Esta semana fui buscá-lo. Metade da informação não foi recuperada (dezenas de documentos e mais de 9000 "mails", entre recebidos e enviados). Vai ser difícil reencontrar alguns documentos importantes. Aos "mails" não responderei. De mal, a menos...
Ontem, durante a reinstalação dos aplicativos, caíu-me o disco externo em cima do computador aberto...o écran parece, agora, um espelho rachado em quatro. Temo o pior. Provavelmente, vou ter de mandar instalar um novo. Mais duas intervenções técnicas e um novo écran.
Tento convencer-me que a maldição dos MAC é uma lenda. Toda a gente sabe que os discos rígidos dos PC's têm problemas e qualquer pessoa pode danificar o écran do seu computador. Adormeço com este pensamento positivo.

2007/08/20

Uma singela homenagem


Morreu há quatro dias um dos grandes bateristas da história do jazz. Max Roach era um dos últimos sobreviventes da era do bebop, companheiro, por exemplo, do mítico Charlie Parker. Embora tenha sido um dos mais influentes membros de um dos mais importantes movimentos musicais do século XX, o jazz, e tenha marcado profundamente um dos seus períodos mais determinantes, o bebop, Roach foi sempre um experimentador e um músico corajoso até ao fim. Este homem que tocou com Parker no princípio da década de 40, não se coibia de colaborar com artistas da área do video, ou com músicos de estilos musicais como o hip-hop.
Não costumo contribuir para este género de obituários, mas para tudo há excepções. Não é possível esquecer o seu estilo preciso, virtuoso e elegante.

2007/08/12

Sinal e ruído

A discussão que o post Sinais gerou suscita-me mais esta pequena achega.
Ontem os jornais noticiavam que Luís Filipe Menezes se declarou indignado com
os insultos de que tem sido alvo ao longo da campanha para as eleições no PSD. Não faltam exemplos deste tipo de práticas. É difícil esquecer a imagem do que nesta matéria se passou não tão há tanto tempo assim, em congressos partidários. É difícil esquecer comentários e declarações instituicionais de responsáveis políticos e do Estado. É difícil esquecer o que se passa por aí, na prática de tantas autarquias, na AR e noutras instituições públicas e privadas, nas ilhas e no continente. Para os portugueses o confronto natural de ideias e de interesses passa com frequência inadmissível pelo insulto e pela pesporrência.
As instituições, que são constituídas por pessoas, limitam-se a espelhar tudo isto. Não é este governo, não são estes dirigentes de organismos públicos, nem são estes partidos os culpados. São os portugueses que fazem gala em exibir um comportamento troglodita e isso reflete-se depois nos seus comportamentos intitucionais e pessoais, públicos ou privados.
Neste capítulo, não há sinais. Há ruído!
Por isso, em meu entender, temos de apreciar determinados acontecimentos com cautela e distância. Não devia ser grande motivo de admiração o facto de alguém reagir ao insulto, à pesporrência ou, em geral, à falta de educação. Mas, curiosamente é.
Ontem, dizia eu, ouvimos Menezes a manifestar a sua tristeza com os insultos de que tem sido alvo. Hoje ficamos a saber que um romeno que ia a pé pela A8 foi sucessivamente atrolepado por vários automobilistas, que não pararam. O alerta foi, finalmente, dado por uma condutora que embateu no corpo já sem vida e parou. De troglodita a assassino vai um pequeno passo.
Por mim, assisto a tudo o que se vai passando à minha volta com grande desconfiança, estabelecendo nexos de causalidade, quiçá abusivos, admito-o. Tenho porém crescente dificuldade em separar o sinal do ruído...

2007/08/09

O nariz do salmão

Desde muito novo que tenho uma admiração especial pelo salmão. Não sei quando começou este meu fascinío, mas provavelmente foi nalgum filme sobre a natureza em que é pródiga a televisão. O ciclo de vida dos salmões e o seu regresso ao lugar de nascimento, onde chegam (já vermelhos) para acasalar e desovar, é uma das lutas mais titânicas do reino animal a que tenho assistido. Nela está condensada a metáfora da nossa sobrevivência.
Mais tarde, já adulto, tive o prazer de saboreá-los pela primeira vez quando ainda era possível comer salmão pescado em rios noruegueses. Uma experiência gastronómica inesquecível. Ainda hoje os holandeses usam a expressão "het neus van de zalm" (o nariz do salmão) como superlativo da qualidade absoluta. Por alguma razão, os gulosos ursos pardos só comem a cabeça e as ovas do peixe, apanhado à pata nos "rápidos" canadianos.
Vem esta história toda a propósito de uma notícia publicada nos principais diários portugueses. Os mais famosos "english springer" da praia da Luz, responsáveis pela descoberta de odores a cadáver no apartamento e nas vizinhanças do complexo turístico algarvio, são alimentados a salmão. E nós que nunca tinhamos pensado nisto!
Longe de mim duvidar dos métodos policiais portugueses. Mas, se apenas em dois dias (e após três meses de buscas infrutíferas) foram obtidos tais resultados, não será de considerar mudar os hábitos alimentares dos nossos pisteiros? Já temos polícias, já temos cães e, agora, até salmões em viveiros. Porque não experimentar?
Além do mais, deixávamos de necessitar de pedir os cães emprestados aos ingleses que gozam com os nossos métodos primitivos de obter confissões, como mostram as fotos da cara da mãe da Joana, também ela acusada de ter dado desaparecimento à filha.
Os cães nunca se enganam. Cá para mim, o segredo está no peixe. Dêem-lhes salmão e vão ver os resultados...

2007/08/07

A força da Lei

Aqui há tempos, não sei se se recordam, o Papa surpreendeu o mundo ao decretar o fim do limbo. Assim, por decreto, a Humanidade ficou, repentinamente, privada de um instituição milenar tão importante e estimável como era o limbo.
Ora, para que não possamos dizer que já nada nos surpreende, lemos hoje que o governo chinês proibiu o Dalai Lama de reencarnar. Sem apelo, nem agravo.
As razões que terão conduzido a esta fúria legislativa sobre matéria desta natureza escapam-me, mas se a moda continua poderemos, quiçá, esperar para breve que os anjos sejam forçados a preencher a declaração anual de IRS ou que a Santíssima Trindade seja reduzida por motivo de contenção de despesas, a uma única pessoa.
Eu sugiro ao Papa e ao governo chinês ou a quem mais se sinta tentado a legislar sobre o domínio do sagrado e do intangível, que levem tudo isto muito mais a sério e actuem de modo mais profissional. Escolham, por exemplo, a stand-up comedy! As televisões iam adorar. Teriam certamente mais público, conseguiam dar um ar mais profissional à coisa e, se calhar, ainda faziam uma coroas. Assim, isto tem ar amador e a gente ri sem pagar...

2007/08/03

Burka informativa

Ausente do país, na semana em que o programa foi transmitido, perdi um dos muitos momentos "zen" da nossa televisão estatal. Só ontem, num blogue concorrente, fui confrontado com as fotos: a jornalista Márcia Rodrigues (RTP2) tinha entrevistado o embaixador do Irão, em Lisboa, coberta dos pés à cabeça por um longo vestido negro, de lenço e luvas pretas (!?). Pensei, ainda, tratar-se de um novo filme do Borat, mas a cara da Márcia não enganava. Só podia ser ela, qual viúva penitente, subjugada às leis do grande profeta. Não sei se hei-de rir, se hei-de chorar. Também sei que o ridículo mata. Logo, alguma penitência deve ser cobrada. Que dizer deste quadro, digno de uma televisão terceiro mundista? Com "amigas" destas, as mulheres oprimidas pelos regimes islâmicos, podem estar descansadas: a "burka" está bem entregue.

2007/08/01

Sinais

Bem podem os "arautos da democracia" e das "liberdades adquiridas" apregoar a isenção do governo, relativamente ao direito de opinião e às perseguições políticas do PS. Hoje mesmo, a directora do Museu de Arte Antiga, Dalila Rodrigues, foi demitida por críticas à gestão orçamental dos museus portugueses. Se isto não é intolerância, o que será?

2007/07/30

Ingmar Bergman

Descobri-o nos anos sessenta, numa sessão do ABC Cine-Clube, em Lisboa. O filme era "O Sétimo Selo". Uma revelação que permaneceria na memória por largos meses. A partir de então, não perdi nenhum dos seus filmes, estreados em Portugal: "Morangos Silvestres", "A Fonte da Virgem", "Sorrisos de uma noite de Verão", "Monica e o Desejo", quase todos eles "mutilados" pela censura. Anos mais tarde, já no estrangeiro, revi toda a sua obra na Cinemateca de Amsterdão. A confirmação de um cineasta de excepção. Curiosamente, sempre que dele falava aos seus conterrâneos, diziam-me que só filmava problemas suecos...
Por diversas vezes anunciou abandonar o cinema para dedicar-se ao teatro (a sua outra grande paixão) mas regressava sempre com filmes, se possível, melhores do que os anteriores: "Cenas da Vida Conjugal", "Fanny & Alexander", "Depois do Ensaio" e esse extraordinário "Saraband", derradeiro testamento de uma obra ímpar.
Na última entrevista que dele li, falava com carinho das suas mulheres-artistas e do clã de amigos de que se rodeava na ilha de Farô, onde possuia uma casa. Sobre a morte, dizia que tinha um "pacto" com o amigo e artista fétiche Erland Josephson: "Quando um de nós estiver senil, o outro deve ajudá-lo a morrer".
Não sei como morreu. A notícia chegou hoje, neutral e fria como um Verão escandinavo. Bergman pode ter partido, mas os filmes permanecerão sempre como prova maior da sua genialidade.

2007/07/27

A Ética


O meu amigo Guardarios escreve hoje sobre isso... Está aqui para quem quiser ler. Lembra-nos, a propósito, o burro de Heráclito.
Ao contrário do Orçamento, não creio que haja vida para além da Ética.

2007/07/26

Socratismos

A grande entrevista do primeiro-ministro a um "canal da concorrência" foi, a vários níveis, elucidativa. De um lado, dois entrevistadores apostados em mostrar as contradições do governo; do outro, um político que fez a sua carreira televisiva no "canal do regime" e domina a técnica do debate. Aos temas "quentes" da agenda nacional (função pública, serviço nacional de saúde, educação, localização do novo aeroporto, redução do "déficit", tratado europeu ou a "deriva autoritária" do regime), Sócrates respondeu invariavelmente ao "lado", algumas vezes irritado e, sempre, contrariando as insinuações negativas com projecções optimistas. Ficámos assim a saber que: apesar do governo ter anunciado uma redução de 6.000 funcionários públicos, só tinham sido dispensados, até agora, cerca de 900; que apesar do encerramento das unidades de saúde, o sistema está melhor do que no tempo de Leonor Beleza (!?); que, apesar do descalabro na matemática e no ensino em geral, há cada vez mais computadores nas escolas; que apesar de trinta anos de estudos, sem ter sido considerada, a hipótese Alcochete pode bem vir a ser a localização do novo aeroporto; que apesar da redução do "déficit", não ser uma obsessão, continua a ser o objectivo do governo; que o Referendo sobre o Tratado Europeu, não tendo sido rejeitado, poderá ser dispensado, por não se tratar de um novo Tratado; que o Manuel Alegre, tendo sempre dito que existia medo na sociedade portuguesa, não podia ser verdade. É difícil argumentar contra tantas certezas. Como pode um "lider" destes, enganar-se?
Revejo o programa, na sua repetição matinal, e fico com uma dúvida: ou os entrevistadores prepararam mal a entrevista, ou Sócrates vive noutro país, que não Portugal. Em tempos não muito recuados, um outro primeiro-ministro (agora presidente), também não lia jornais, nunca errava e raramente se enganava. Para o actual primeiro-ministro, apesar dos jornais, parece haver um só caminho: presume-se que seja longo, difícil e escuro, como um túnel, com uma luz ao fundo. Espero bem que não seja a luz do comboio em sentido contrário.
Como dizia, por estes dias, um famoso escriba da blogosfera: "isto ainda vai acabar mal"...

2007/07/24

Uma semana noutra cidade

Nada como saír do país por uns dias, mesmo que o pretexto não sejam as férias, como era o caso.
Visto à distância, Portugal (os portugueses) tem sempre mais encanto. Lembramo-nos do Sol, vagamente existente nas paragens por onde andámos; o peixinho fresco, a que alguns teimam em chamar "dieta mediterrânica" por não constar das refeições nórdicas e até os nossos "compatriotas" parecem, de longe, mais simpáticos. Por outro lado, deixamos por uns dias de ser bombardeados com os canais televisivos nacionais e as suas omnipresentes figuras que, de tanto vistas e ouvidas, se tornaram inaudíveis. Um alívio...
Findo o interlúdio, e enquanto nos preparamos para regressar à "terrinha", munimo-nos da respectiva literatura que ocupará as três horas que dura a viagem. Alguns jornais, no caso holandeses e espanhóis que eram os únicos fornecidos a bordo e um livro para o que desse e viesse...
E aqui surge a primeira surpresa. Ao folhear o "Volkskrant" (diário holandês de Amsterdão), um título chama a nossa atenção: "Chinezen blazen Portugal nieuw leven in" (Chineses insuflam nova vida em Portugal). O artigo, da autoria de um tal Hans Moleman, descreve o crescente interesse dos chineses pelo nosso país. Exemplos não faltam: desde a proliferação de lojas chinesas por todo o lado, até ao recente anúncio da compra do clube Benfica por 80 milhões de euros (uma pechincha, de acordo com o jornalista). De regresso à Costa da Caparica, onde já não vinha há alguns anos, Moleman confirma a decadência da estância balnear do "proletariado da Margem Sul", agora repleta de lojas chinesas. Só na Rua dos Pescadores, existem quatro! É lá que o cronista toma o seu galão todas as manhãs e faz compras. Hans evita as lojas chinesas, sempre cheias, para desespero dos últimos comerciantes da zona. Na procura de uma faca para fruta, prefere um sólido exemplar de cozinha da Industria de Cutelarias da Estremadura. Custo, 4 euros e 52 cêntimos. Cinco vezes mais cara do que na loja chinesa, mas com dez anos de garantia e tão afiada que ele cortou um dedo logo na primeira vez que a usou...
Ainda mal refeito da surpresa, folheio o "El País" para descobrir mais duas notícias sobre portugueses: uma, relacionada com a reportagem "Iberia, capital Lisboa" que teve o maior número de visitas "on line" da semana (27.000 consultas!) após a polémica entrevista de Saramago; outra, sobre a primeira actuação de Teresa Salgueiro a "solo", no Festival Pirineos Sur, onde cantou temas do seu album "brasileiro". Depois de lamentar a escolha de reportório da cantora, para o qual lhe falta "algo de soltura", o articulista acaba por elogiar a coragem da intérprete portuguesa em arriscar novas sonoridades. A mesma opinião, relativamente ao grupo "The Gift" que "pratica pop-rock electrónico elaborado con mimo" e que "tiene en la voz masculina de Sonia Tavares su principal haber". Que mais podemos desejar...
Vinha eu a cogitar nestas pequenas, mas positivas, notícias sobre o nosso país, quando desembarco no campo de aviação chamado Portela: meia-hora de espera por uma simples mala, desorganização completa nos serviços de táxi, que obriga à intervenção policial para decidir qual a ordem de atendimento dos utentes, um chauffeur enfadado que me obriga a repetir por três vezes vezes a localidade pretendida e, já dentro do carro, num último olhar aos painéis publicitários que cobrem a sala de espera do aeroporto, a frase eloquente: "visit the real Allgarve!". Não havia dúvidas: tinha regressado ao pais pimba.
Como diria Chatwin, no seu famoso livro, que faço eu aqui?

2007/07/23

Procura-se a mulher de César

A notícia do dia é a prisão de "El Solitário", o inimigo público número um em Espanha. Numa reportagem da SIC Notícias o correspondente naquele país refere que o homem morava a 30 km de Madrid e que os vizinhos o descrevem como pessoa conflituosa. O jornal "El Pais" diz que o homem teria mesmo feito ameaças de morte a alguns deles.
Mais à frente na reportagem, uma mulher que foi testemunha da operação que levou à prisão deste criminoso é entrevistada. Diz que estava junto ao banco quando o viu passar. Achou estranha a barba do homem. Procurava, justamente, alertar a polícia quando, de repente, começou a operação de captura de "El Solitário." Chegaram uns carros com uns homens que levavam "armas de cano grosso," descrevia a mulher, e caíram em cima do barbudo. Ela ficou com medo porque pensava que se trataria de um assalto e que estes homens é que seriam os assaltantes.
Estranhos tempos estes. À mulher de César, reza o rifão, não basta ser séria. Tem de parecer séria. Ou... será ao contrário?

2007/07/21

Filhos de um deus omisso

A notícia, discreta, dá conta da criação de um novo "reality show" nos EUA (where else...?) feito por crianças. Chama-se "Kid Nation" e é produzido pela CBS. O objectivo deste programa é o de deixar as crianças por conta própria, resolvendo, sem a intervenção dos adultos, os problemas práticos do dia a dia que resultam desta situação forçada. As câmaras atentas registam as acções desta espécie de micro sociedade em estado quase puro, à qual foi dada esta espécie de autonomia de que as crianças habitualmente não disfrutam. O "Kid Nation" serve para observar, segundo os seus promotores, 40 crianças durante 40 dias enquanto elas tentam construir um mundo novo de raiz...
As câmaras do "Kid Nation" registam objectivos que à superfície até parecem interessantes. Interessantes o suficiente, pelo menos, para investir na produção de um dispendioso programa de televisão. Uma quase experiência científica com tonalidades de exercício pedagógico, a pretender provar que as crianças podem, apesar da sua aparente fragilidade, lidar ou aprender a lidar, individual e colectivamente, com um quotidiano exigente e criar uma nova realidade.
Claro que tudo isto não passa de uma enorme mentira. Estamos perante um caso sério de exploração do trabalho infantil. As crianças eram, segundo relatos dos produtores, acordadas às sete da manhã e filmavam muitas vezes até depois da meia noite. Somas consideráveis de dinheiro foram atribuídas aos "concorrentes" que se iam distinguindo, para ir mantendo a "experiência" no ponto.
A exploração infantil não ocorre apenas naqueles países do costume que as boas consciências, sobretudo a imprensa cobarde, tratam de apontar quando a agenda recomenda. Este tipo de exploração, disfarçado com mais ou menos holofotes e make-up, não é menos brutal. A diferença entre o menino que produz as bolas para o Mundial e o menino do reality show está apenas nos holofotes e no maior ou menor cinismo com que o assunto é analisado.
Já agora, pergunto-me onde andará a Igreja Católica (em particular a americana) nestas alturas... Tão lesta que ela é a meter o bedelho nas escolhas individuais e conscientes de cada um e tão omissa quando se trata de denunciar o que acontece a estes filhos de Deus, em particular! Talvez não tenha oportunidade, é certo, com o tempo que lhe resta depois de andar a resolver as suas escandaleiras internas.
Aguardemos a versão portuguesa do "Kid Nation"...

2007/07/15

Ibéria

O Prémio Nobel português afirma hoje em entrevista ao DN que Portugal será, mais tarde ou mais cedo, integrado em Espanha. Acredito que não existirão janelas suficientes para defenestrar todos os portugueses que concordam com a ideia, fartos do putedo que por aí vai há tanto tempo e da continuada falta de soluções para os repisados problemas com que nos debatemos.
É um assunto complexo que merece um debate desapaixonado.
Claro que a ideia não seria facilmente implementável. Para começar, a promoção desse debate sobre a intergração dos dois países requer uma maturidade política que os espanhóis, provavelmente, não têm e que os portugueses não têm com toda a certeza. É pena.
Retenho contudo uma afirmação de Saramago, em particular. Diz ele que "Quanto à queixa que tantas vezes ouço sobre a economia espanhola estar a ocupar Portugal, não me lembro de alguma vez termos reclamado de outras economias como as dos Estados Unidos ou Inglaterra que também ocuparam o país."
Creio que podemos esperar um ascendente crescente da economia espanhola sobre a portuguesa. E creio também que talvez não tenhamos mesmo alternativa: se um dia quisermos influenciar ou condicionar o modo de funcionamento da economia espanhola em solo português é bem possível que tenha de ser por dentro. A Ibéria talvez seja mesmo a única solução.
Agora desculpem-me, mas vou ali trancar as janelas...

2007/07/08

Maravilhas

Os concursos valem o que valem e o de ontem, num estádio de futebol em Lisboa, não foi excepção. Sete "novas" maravilhas do Mundo foram escolhidas através da internet por 100 milhões de cibernautas. Um "record", dizem os livros. A Unesco desacreditou o referendo e, pessoalmente, estou de acordo com o organismo internacional. Comparar o Cristo do Corcovado à Acrópole é, no mínimo, uma blasfémia cultural. Mas esta é a cultura global que temos e o apelo do presidente Lula, para os brasileiros votarem em massa num dos maiores símbolos de promoção turística da cidade maravilhosa, resultou em pleno. Quem ganhou de certeza com a "festa" foi a Jennifer Lopez, essa "oitava maravilha" do planeta, que arrecadou 1.5 milhões de euros por 2 (duas) canções em menos de dez minutos no relvado. O Cristiano Ronaldo deve ter ficado ruído de inveja. Resta Portugal: o que ganhou o nosso país com a promoção? Não sabemos. Esperemos que muito. Talvez o ICEP devesse pensar em promover mais concursos destes por ano, pois a "cultura" sempre é capaz de vender bem melhor do que o "Allgarve"...

2007/07/07

Live Earth

Hoje decorre, como se sabe, o Live Earth. Alguém se terá, certamente, esquecido de fazer as contas ao gasto de energia desta mega operação...
Estas coisas gigantescas, à escala planetária, geradoras de movimentos de multidões que marcham a toque de caixa, deixam-me sempre de pé atrás. Quando falamos de consciência ecológica, só consigo recordar-me daqueles povos que vivem, discretamente, em íntima comunhão com o ambiente que os rodeia. Nunca se viu grande alarido à volta disso. Estes povos praticam a consciência ecológica no seu dia a dia e revelam nisso uma eficácia bem maior que este Live Earth. Praticam-na porque precisam. E acabou.
Os grandes interesses políticos e económicos que se adivinham por trás de tudo isto são perfeitamente explícitos, mas o facto não parece demover os promotores... Estes interesses --afinal os principais responsáveis por este estado de coisas-- lá estão, predadores miseráveis, a apoiar, directa ou indirectamente, o "big event".
E, no entanto...
Há qualquer coisa particularmente interessante nesta iniciativa. Adivinha-se uma grande generosidade em todos estes participantes, uma enorme boa vontade em todas as propostas elaboradas em nome desta causa e uma enorme fome de mudança. São raros os pretextos capazes de hoje unir tanta gente. Mas, sabemos quanto esta união é necessária! O problema ecológico é simplesmente (mais) um problema humano. Que podemos somar a tantos outros que os seres humanos estão constantemente a criar, reveladores, de uma forma ou de outra na sua génese e no seu tratamento, do nosso lado mais escuro...
Neste sentido, este Live Earth pode ser útil. Mostra, a quem quiser perceber, que são os seres humanos os únicos actores desta peça medíocre. Mostra que há afinal motivos de união. Mostra também que esses motivos de união são bem mais empolgantes que os motivos de desunião. Mostra ainda que o formato se poderia alargar, quem sabe, a outros espaços problemáticos da nossa vida colectiva, com menos danos colaterais. Mostra, finalmente, que é possível promover um debate sério sem "cimeiras", sem passadeiras vermelhas, sem altos dignitários, feito de e por gente comum.
E mostra, finalmente, que a música é aquilo que os seres humanos usam quando querem dar consistência às questões mais sérias que os afligem.

2007/07/03

Peixeiradas

Aos pescadores de Matosinhos, que protestavam contra as quotas impostas por Bruxelas, respondeu Jaime, o ministro do peixe: "se não estão satisfeitos, peçam para sair da Europa". Mas como, se ninguém os consultou para entrar?

2007/07/02

Túnel do Marquês NÃO dá razão a Santana Lopes

Titula o Expresso desta semana, com chamada à primeira página: «Túnel do Marquês dá razão a Santana Lopes».
Baseia-se a matéria em que «os que entram e saem da capital têm a vida facilitada». E juntam-se as opiniões de dois automobilistas que moram nos arredores (Estoril e Linda-a-Velha) e que dizem poupar imenso tempo em relação ao que gastavam antes de haver o túnel e o depoimento de um residente na Av. Joaquim António de Aguiar que diz que o túnel melhorou a qualidade de vida dele. A ver se o Expresso foi entrevistar quem vinha (e continua a vir) de transportes públicos para a capital. Ou se perguntou alguma coisa a quem vive na Fontes Pereira de Melo.
Bom, mas há ainda o argumento, que para alguns parecerá definitivo, do motorista de táxi que diz que dantes se recusava a levar clientes Rua Castilho acima e que agora vai sem problema, o que o fez mudar de opinião acerca do túnel: era contra e agora é a favor. Se um profissional fala assim... De facto, ele também terá a sua sensibilidade empírica ao aumento de tráfego causado pelo débito de mais cerca de 15.000 veículos por dia dentro de Lisboa. O problema é que o taxista faz o seu cálculo de benefícios/custos só com estes dois parâmetros. E não tem em conta minudências como as dificuldades adicionais que esses milhares de veículos a mais acarretam ao estacionamento em geral, também à circulação dos transportes colectivos, para não falar no acréscimo de poluição.
O que os articulistas parecem não ter percebido é que o que eles louvam é que é o problema: ao empreender o túnel, o que Santana fez foi tomar a decisão política de privilegiar a parcela de utilizadores que entra na cidade de popó.
Mas o que interessa saber de uma decisão de um presidente da Câmara é se esta foi a melhor do ponto de vista da cidade e dos seus utilizadores (os que cá trabalham e por isso passam grande parte do dia na cidade, mas, por maioria de razão, os que cá moram), e não apenas para uma parte deles. Não sei se algum oponente do túnel terá alguma vez duvidado de que este iria facilitar a vida a quem entra e sai da cidade em transporte individual. Eu cá sempre soube que isso iria acontecer; estava na cara. Para mim, Santana e o seu túnel sempre significaram um acréscimo do número de automóveis a circular na cidade. E sempre achei que seria preferível uma despesa equivalente com a melhoria dos transportes colectivos e o seu trânsito na cidade.
Mas, voltando ao artigo, cabe a pergunta: será que o Expresso pôs um título daqueles porque os jornalistas não perceberam que a razão de Santana se limita a um sector dos utentes de Lisboa, a maior parte dos quais nem sequer cá vive? A parte seguinte do artigo é esclarecedora: «Mais complexa é a realidade dentro da Lisboa. O túnel atrai trânsito e vias próximas do Marquês de Pombal têm trânsito como nunca tiveram». Vem-se depois a reconhecer que os cerca de 15.000 veículos que entram a mais todos os dias na cidade vieram complicar o trânsito no troço superior da Av. da Liberdade, no sentido descendente da Fontes Pereira de Melo e no Conde de Redondo.
O título do artigo é, pois, desmentido pelo conteúdo. O Expresso sabe muito bem que o problema de trânsito se agravou com o túnel, e escreve-o.
Dá para desconfiar das motivações de quem escreve um título que é uma descarada mentira.

2007/06/30

Bufaria

A recente "deriva totalitária", que parece ter atacado os governantes deste país, pode não passar de um momento de histeria individual de alguns dos seus ministros, mas começa a incomodar. Desde logo, os processados, principais vítimas desta política de "bons costumes", suspensos a torto e a direito segundo o famigerado princípio da alegada "falta de confiança". Depois, os restantes cidadãos que, à esquerda e a direita, ainda têm alguma memória de um regime que não querem ver de volta. Neste quadro, as críticas do principal partido da oposição (ainda que justas) carecem de moralidade, pois o seu curriculum não será muito diferente das práticas da actual maioria.
Há no entanto algo de mais profundo e preocupante em todas estas histórias de punição de funcionários que nos deve alertar: trinta e três anos depois da queda de um regime que alicerçava muito do seu poder numa vasta "rede de informadores", existe uma nova geração de "bufos", disposta a retomar a famigerada tradição. Por não acreditar que estamos em presença de uma herança genética, temo que estes maus hábitos tenham mais a ver com o clima de intimidação reinante, do que com cidadãos portugueses normais. Olhando para trás, observamos que os "picos" de intolerância sempre se verificaram em épocas de maioria absoluta. Foi assim no Cavaquismo, que durou dez anos e teve a sua "deriva totalitária" no segundo mandato; e parece acontecer agora, durante a primeira maioria socialista. Já sabíamos que quem se metia com o PS "levava" (Jorge Coelho "dixit"); mas começar a "dar" ao fim de dois anos e meio de legislatura, é obra! Ele há vícios difíceis de extirpar. A intolerância e o autoritarismo são alguns deles e não têm, como já se percebeu, a ver com ideologias. Muito menos partidárias. Wilhem Reich, num notável ensaio intitulado "A psicologia de massas do fascismo" (1933) já explicava porquê. Esquecer a história (não ter memória) pode ser fatal. Os governantes do PS deviam ler mais livros.

2007/06/27

Anuários

Foram dados a conhecer recentemente dois anuários que analisam duas importantes instituições portuguesas: o futebol profissional e as câmaras municipais.
O Anuário das Finanças do Futebol Profissional 2005-2006, de autoria da Deloitte, diz preto no branco que o futebol é um actividade deficitária, em crescente queda, com um nível de endividamento excessivo, falta de capitais próprios e uma diminuição de receitas. Estas são as conclusões a que a Deloitte chega relativamente ao futebol. Endividamento excessivo, défice subavaliado, incapacidade de cumprimento das obrigações perante os fornecedores e dependência excessiva do estado central são algumas das conclusões a que chega o último Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, referente a 2005.
E, no entanto, o futebol é uma actividade com um invulgar peso económico relativo, quando é tida em conta a população e o PIB. No caso das câmaras municipais sabemos que a dívida não ultrapassa 25% do activo. O que quer dizer que as câmaras são viáveis. Em Lisboa, por exemplo, temos ouvido com frequência este mesmo argumento para justificar a possibilidade de governar a CML apesar do défice absolutamente obsceno.
O futebol é viável mas é deficitário, as câmaras são viáveis, mas deficitárias são. Ambas as instituição são altamente deficitárias e muitas estão falidas.
Já há muito que diversas figuras vêm chamando a atenção para as ligações perigosas entre o futebol e as autarquias. Ora aqui está matéria adicional que parece dar ainda mais força a esta opinião. Tanto as autarquias como o futebol são universos fechados, expostos directamente ao escrutínio dos seus "súbditos", sem grandes mediações, nem controlo externo significativo. Ambas são pasto fácil para o mais desbragado populismo e oportunismo. E ambas são encaradas como ferramenta para os maiores desmandos, onde vale literalmente tudo. Aí poderá residir mesmo a essência da perigosidade desta ligação entre as autarquias e o futebol. Só falta conhecer o anuário da indústria de construção civil...
Défice e falência são as palavras dominantes dos anuários referidos. Mas, nada disto deixará, estou certo, envergonhados os responsáveis pelos clubes ou pelas autarquias (alguns até acumulam...) que deixaram chegar a situação das instituições que dirigiram ou dirigem a este estado. E também não parece deixar-nos, a nós todos, à generalidade dos cidadãos, envergonhados. Os deuses do futebol continuam a ser venerados e os sacerdotes do santo município continuam a receber o dízimo.
Ou é o contrário?

2007/06/26

Ventriloquismo

Olhamos para as sucessivas histórias, historinhas e historietas em que o senhor Berardo tem estado envolvido nestes tempos mais recentes, ouvimos a sua linguagem, a substância de todos esses episódios e assalta-nos a dúvida se não estamos perante o número do ventríloquo.
Será difícil a qualquer português ter uma opinião positiva sobre Alberto João Jardim. O seu comportamento pessoal e político é conhecido. Ele faz tudo para mostrar que não passa de um mau comediante. Creio que ninguém porá isso em dúvida e que o desiderato do senhor Jardim foi plenamente atingido. Aqui há anos o senhor Jardim imaginou com arrojo que poderia colocar termo à sua carreira insular e atacar o continente. Ouvimo-lo ameaçar com uma candidatura a um lugar político de expressão nacional, mas o senhor Jardim deve ter compreendido rapidamente que o melhor era ficar-se pela ameaça. A ideia deve, contudo, ter ficado a germinar na sua cabeça...
Somos agora brindados com a presença persistente deste conterrâneo de Jardim. Mostra em muitos aspectos do seu comportamento a sua raíz e, nesse seu comportamento, uma estranha similitude com o responsável máximo da Madeira.
O que fará então correr assim o senhor Berardo? Será delegação de competências?
Uma coisa é certa: esta flor saída do jardim do senhor Jardim não é, tal como ele, flor que se cheire.

2007/06/25

Arte "Pop"

"Foi um mau negócio. Não é preciso ser universitário para perceber que o valor da colecção é maior daqui a dois anos. Estou nisto pela cultura".

Joe Berardo, comendador

2007/06/24

"Entre Cila e Caríbdis"

Uma crónica de hoje de António Barreto no Público suscita-me algumas reflexões. Devo, desde logo, confessar que concordo, em traços gerais, com a sua substância. Quatro quintos da sua crónica dedica-os Barreto a zurzir no governo por causa da sua alegada "tentativa visível e crescente de tomar conta, orientar e vigiar." Governo que, acrescenta Barreto, "quer saber tudo sobre todos. Quer controlar."
Na origem de tudo isto está uma mal disfarçada necessidade de afirmação de autoridade que se exerce recorrendo a métodos criticáveis.
Numa rápida enumeração destes métodos Barreto cita a lei das chefias da administração pública, o bilhete de identidade "quase único", a criação de um órgão de coordenação das polícias, debaixo do controlo directo do primeiro-ministro, a revisão e reforma do estatuto do jornalista e da Entidade Reguladora para a Comunicação, a lista pública dos nomes de parte dos incumpridores fiscais, o apelo à delação de funcionários, a criação de um ficheiro dos funcionários públicos "com cruzamento de todas as informações relativas a esses cidadãos, incluindo pormenores da vida privada dos próprios e dos seus filhos," e, finalmente, o processo movido por Sócrates contra um bloguista que, há anos, levantou a questão dos "diplomas" universitários do primeiro-ministro. Acrescentaria eu a esta lista a famosa base de dados de ADN, que ainda vai dar que falar...
No quinto final da sua crónica Barreto chama, justamente, a atenção para o facto de praticamente toda a imprensa ter dado enorme destaque à acusação, feita ao "professor de Sócrates," de corrupção e branqueamento de capitais, no caso da construção de uma estação de tratamento de lixo na Cova da Beira. Barreto faz muito justamente notar que "quando as redacções dos jornais não resistem à demagogia velhaca e sensacionalista, quase dão razão a quem pretende colocá-las sob tutela..."
O que nesta crónica, quase sem mácula, se poderia criticar é a proporção na distribuição dos alvos. Sejamos justos: os jornais merecem, pelo menos, tanta crítica quanto o governo. As malfeitorias e os malefícios da actividade de uns e de outros equivalem-se.
Terão passado despercebidas as palavras recentes de Noronha da Costa. Disse o Presidente do STJ que "na verdade, o mercado do lucro colocou a comunicação social entre Cila e Caríbdis, o que nos reconduz à ideia de que a ética bem pouco importa, quando importa garantir a sobrevivência que só o lucro concede."
Quem controla o quê, para quê e em nome de quem, afinal?

2007/06/23

A raiz quadrada da Polónia

As declarações do PM da Polónia Jaroslaw Kaczynski, no âmbito da recente cimeira da UE, não podem deixar de chocar. Disse o senhor Kaczynski que "se a Polónia não tivesse tido que viver a época de 1939-45, teríamos hoje um país com uma população de 66 milhões." Não contente com isto, remata ainda perante os anfitriões alemães, que foram estes "que inflingiram golpes inimagináveis e causaram uma terrível dor à Polónia."
Chocam estas declarações, desde logo, pela sua total arbitrariedade, pelo tom revanchista e pela extemporaneidade.
Chocam também pela falta de rigor científico e pela falta de rigor político. Vinda do responsável político de um país que se pretende civilizado, esta falta de rigor assusta.
Alguém deveria ter explicado ao senhor Kaczynski que os tempos são outros, que ninguém obrigou a Polónia a entrar para a UE e que quem ouve uma declaração destas não pode deixar de se sentir intranquilo. Por temer que a população da Polónia atinja os 66 milhões e que com a ajuda da tal raiz quadrada fique alguma vez em posição de, democraticamente, ter qualquer influência decisiva numa votação.
De quem é que este Kaczynski será afinal gémeo?

TV Cabo

Corre por aí, já há tempo, um anúncio da TV Cabo sobre equipamentos considerados ilegais. O tom do anúncio é sinistro, a conversa ameaçadora, a metáfora patética. Por mim, nunca utilizaria um serviço ilegal, nem defenderia em nenhuma circunstância essa utilização. Mas, tenho consciência de que, como cidadãos, e face aos abusos de que somos frequentemente vítimas, não dispomos das mesmas armas dissuasoras, nem da mesma força ameaçadora.
Estou em crer que George Orwell tinha em mente um efeito qualquer deste tipo quando imaginou o seu 1984 e concebeu o seu Big Brother.
O paleio utilizado neste triste "anúncio" deixa-me profundamente incomodado. Como sou cliente, sou eu quem paga, como não gosto de ameaças, nem gosto de ser vigiado, mesmo que seja de forma metafórica, vou mudar de fornecedor.

2007/06/21

Estudos, precisam-se!

Dado que já há dois estudos (OTA e Alcochete) e vem aí um terceiro (Portela+1), tudo indica que a opção para a localização do aeroporto está, de novo, em aberto.
Sugiro mesmo, abrir concurso para recolher o máximo de estudos, criar um observatório especializado para estudar os estudos e esquecermos, por agora, o aeroporto. Tudo isto, de acordo com o lema: "enquanto houver locais por estudar, o aeroporto, pode esperar!".

Ainda os orfãos do Iraque

Há tempos falei de uma reportagem sobre os orfãos do Iraque. Está aqui se a quiserem reler. O assunto volta agora à baila. Soldados americanos terão descoberto crianças num orfanato em Bagdad, atadas às camas, em estado de subnutrição e praticamente inanimadas.
Digo que os soldados terão descoberto estas crianças porque, nestes tempos de animação digital, a gente nunca sabe se estas coisas são ou não verdadeiras... Mas, enfim, pelo que nos é dado ver, as imagens parecem totalmente chocantes.
Os soldados americanos, quais anjos libertadores, iam convenientemente acompanhados por operadores de câmara e apresssaram-se a vender as imagens captadas às televisões para alimentar os telejornais.
No meio de tudo isto já ninguém se lembra de apontar quem são afinal os responsáveis pela existência destes orfãos do Iraque. Atadas assim às suas camas, subnutridas, praticamente mortas, ou a cantar para animar os companheiros de infortúnio, como se via na outra reportagem, estas crianças parecem dar um jeitão.
Não deveria ser necessário passar este tipo de reportagens duas vezes...

2007/06/19

Estudo revela existência de alternativa a novo aeroporto

O Face Oculta revela em exclusivo um novo estudo levado a cabo pela Associação Portuguesa de Condutores que Guiam Sob o Efeito do Álcool e Profissionais da Hotelaria de Curta Duração e Similares das Ilhas (APCGSEAPHCDSI). "Uma nova luz sobre o tema do novo aeroporto," eis como alguém, bem colocado, mas que não quer compreensivelmente revelar a sua identidade, o classificou.
O estudo, levado a cabo por "entidades de reconhecida competência, que usam máscara de Zorro enquanto mastigam pastilha elástica", os chamados ERCUMZEMPEs, como nos adiantou ainda a nossa fonte anónima, foi realizado durante um fim de semana recente. Inteiro! Começam os seus imperscrutáveis autores por recordar a chamada alternativa X+P log(2017)2=0. Sobre isto a opinião dos especialistas é unânime: esta alternativa é dificilmente exequível. No entender dos ERCUMZEMPEs deve então prevalecer a chamada alternativa uHeCT-CP (Um helicóptero no terraço de cada português). Esta alternativa, que alguns membros do APCGSEAPHCDSI vinham defendendo, se bem que outros a viessem atacando, constitui segundo os seus proponentes a que melhor serve os interesses do País e o seu posicionamento estratégico. Ou não...
Interrogado pelo Face Oculta sobre a vitória da alternativa X+P log(2017)2=0 o engenheiro Simões, disse que não sabia que o País tinha interesses e um posicionamento estratégico porque tem andado a conduzir muito ultimamente, mas que admite que sim, e por isso votou a favor. Ou contra, já não se lembrava bem... Já o doutor Nelson, também ele membro da APCGSEAPHCDSI, director executivo da secção de Hotelaria da referida Associação, disse não ter acordado a tempo de assistir à discussão sobre as diversas opções em apreciação, mas que confiava plenamente nos seus colegas, que ia marchar sobre Lisboa se fosse necessário e que eu o desculpasse, mas tinha de ir ali ao Hotel.
Entidades do "Lóbi" já estão na AR a tentar promover um novo modelo de uma conhecida marca de helicópteros, o Joe B. Neste modelo os hélices não têm pás, aliás, o helicóptero nem tem hélices, nem aquilo é bem um helicóptero.