2021/07/18

A "comunicação social"


Noam Chomsky, é, seguramente,  um dos intelectuais vivos mais importantes. Chomsky criou esta lista de 10 estratégias de manipulação que a seguir reproduzirei, um série de estratégias levadas a cabo, permanentemente, através da chamada "comunicação social". Vale a pena reflectir seriamente sobre elas. 

O negacionismo e o "virar o bico ao prego" são formas de manipulação usadas pelo poder. Vemos isso constantemente em áreas tão diversas como o ambiente, a saúde, a educação ou a segurança. E, claro, vêmo-lo de forma particularmente insidiosa na economia, onde o chorrilho de escândalos se sucede, com grande alarido, sem que, no entanto, se antevejam quaisquer mudanças de fundo ou, sequer, vontade de as promover.
A "comunicação social" é um dos eixos principais e uma ferramenta chave desta manipulação.
Reparem como é raro ter hoje uma conversa com alguém sobre temas importantes da sociedade, sem que, mais cedo ou mais tarde, lá venha uma alusão a um qualquer programa de tv, sem que ouçamos uma citação de um "comentador" ou uma alusão a uma qualquer "notícia" vinda a público no dia. As pessoas "sabem" o que as mandam "saber."
Veja-se o exemplo actual de Cuba. De repente, uma data de "peritos" de bancada, que provavelmente nem sabem onde fica a ilha, surgiram a emitir "opiniões" e a largar postas de pescada sobre o tema. A revolução cubana iniciou-se em 1953 e consumou-se em 1958, Nunca, ao longo destes anos todos e das várias fases pelas quais a revolução passou, os ouvimos a falar sobre um tema tão complexo como este. Mas, de repente, até aqui no Somos, por um golpe de magia, surgem uns iluminados que sabem tudo sobre Cuba e insistem em nos presentear com as suas “opiniões.” De onde terá surgido e com que propósito, o súbito interesse desta gente pelo país? Cuba virou tema (sabe-se lá a mando de quem e com que propósito) e toca de mostrar empenho político relativamente a um assunto sobre o qual, na verdade, estes "comentadores" de ocasião revelam, na melhor das hipóteses, não mais que uma enorme ignorância. A verdade é que morderam todos o isco. O discurso que papagueiam, mesmo com ademanes de esquerda, é um discurso reacionário.
Parte deste frenesim participativo é instigado e fica-se a dever à acção da CS, cuja acção se exerce de diversas formas e se insinua, muitas vezes, de forma subtil, afectando mesmo quem pensa que está atento.
A capacidade de manipulação da CS é imensa. Só existe, aliás, uma estratégia para lhe pôr fim: cortar-lhe o pio. A maioria das pessoas fica horrorizada com o pensamento, como se, a simples consideração dessa hipótese, a ou o colocasse perante a iminência da mais desgraçada orfandade. Mas, neste capítulo, é mesmo a única estratégia possível. Experimente.
Entretanto, leia a análise de Chomsky sobre tudo isto...
“1-A estratégia de distração
O elemento primordial do controlo social é a estratégia de distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas e mudanças importantes decididas pelas elites políticas e económicas, através da técnica do dilúvio ou inundação, com contínuas distrações e informações irrelevantes. A estratégia de distração também é fundamental para evitar que o público se interesse por conhecimentos essenciais, na área da ciência, economia, psicologia, neurobiologia e cibernética. Manter a atenção do público desviada de problemas sociais reais, aprisionados por questões sem real importância. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem tempo para pensar, voltando para a quinta como os outros animais (cf. “Armas silenciosas para guerras silenciosas.”)
2- Crie problemas e depois ofereça soluções
Este método também é denominado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” que se espera que provoque uma certa reação do público, com o objetivo de que este seja o instigador das medidas que já deseja aceitar. Por exemplo: deixar a violência urbana espalhar-se ou aumentar; organizar ataques sangrentos, com o objetivo de fazer crer que é o público quem exige leis e políticas de segurança em detrimento da liberdade. Ou ainda: criar uma crise económica para obrigar a que o corte dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos sejam aceites como um mal necessário.
3- A estratégia da gradualidade
Para que uma medida inaceitável seja aceite, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Foi assim que condições sócio-económicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatização, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que não mais garantiam rendimentos dignos, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas imediatamente.
4- A estratégia de adiamento
Outra forma de fazer com que uma decisão impopular seja aceite é apresentá-la como "dolorosa e necessária", ganhando aceitação pública, no momento, para futura aplicação. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que imediato. Em primeiro lugar, porque o esforço não é aquele empregado imediatamente. Em segundo lugar, porque o público, a massa, sempre tem a tendência para esperar ingenuamente que "amanhã tudo vai ser melhor" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isso dá ao público mais tempo para se habituar à ideia de mudança e para aceitá-la com resignação quando chegar a hora.
5- Dirigir-se ao público como a crianças
Grande parte da publicidade dirigida ao grande público utiliza discursos, argumentos, personagens e um tom particularmente infantil, muitas vezes próximo da fraqueza, como se o espectador fosse uma criatura de poucos anos ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar o espectador, maior é a tendência para usar um tom infantil. Porquê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos ou menos, maior será o seu poder de sugestão e, ela tenderá, com toda a probabilidade, a ter uma resposta ou reação mesmo sem sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos "(cf. "Armas silenciosas para guerras pacíficas.”)
6- Usar o aspecto emocional, muito mais do que reflexão
Explorar a emoção é uma técnica clássica para provocar um curto-circuito na análise racional e, em última instância, no sentido crítico do indivíduo. Além disso, o uso do registo emocional abre uma porta para o inconsciente, que permite implantar ou injectar ideias, desejos, medos e medos, compulsões ou induzir comportamentos.
7- Manter o público na ignorância e na mediocridade
Tornar o público incapaz de compreender as tecnologias e métodos usados ​​para o seu controlo e escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais mais baixas deve ser tão pobre e medíocre quanto possível, para que o fosso da ignorância pretendido para as classes mais baixas e mais altas seja e continue a ser impossível de preencher pelas classes mais baixas.”
8- Incentivar o público a ser complacente com a mediocridade.
Para fazer o público é preciso fazer acreditar que está na moda ser burro, vulgar e ignorante...
9- Promover a autoculpa
Fazer com que o indivíduo acredite que só ele é o culpado do seu infortúnio, seja pela sua pouca inteligência, pela sua falta de talento ou de capacidade de esforço. Assim, em vez de se revoltar contra o sistema económico que o condiciona, o indivíduo desvaloriza-se e culpa-se a si próprio, o que, por sua vez, cria um estado depressivo, um dos efeitos do qual é a inibição da ação. E sem ação não há revolução!
10- Conhece melhor os indivíduos do que a si próprio
Nos últimos 50 anos, os rápidos avanços na ciência geraram uma lacuna crescente entre o conhecimento do público e aquele que pertence e é usado pelas elites governantes. Graças à biologia, neurobiologia e psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto no plano físico como mental. O sistema conseguiu conhecer melhor o indivíduo comum do que se conhece a si próprio. Isso significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um maior controlo e um grande poder sobre os indivíduos, um controlo maior do que aquele que o indivíduo exerce sobre si mesmo.”