2012/02/03

O frio humano

Vem aí uma vaga de frio, diz-se, e surgiram de imediato notícias que dão conta de acções de apoio aos sem-abrigo. Os sem-abrigo, sabem, aqueles que "vivem" debaixo de pontes, em pequenas reentrâncias de edifícios, em vãos de escada ou em edifícios abandonados, quando têm sorte. Embrulhados em jornais ou caixas de cartão desmanchadas, uma observação atenta revela-nos seres humanos, vivos, com braços, pernas, troncos e cabeças, tal e qual como todos os outros seres humanos, vivos.
A Protecção Civil distribui cobertores, alguns deles recusam. Uma Misericórdia não sei aonde vai "recolher" estes sem-abrigo e colocá-los num qualquer espaço mais abrigado onde possam melhor sobreviver ao frio.
Quando o frio acabar irão certamente voltar ao "domicílio" anterior. Não se sabe quando, mas, é mais que certo, mal o tempo aqueça um pouco, voltam para "casa". Não vai durar muito o direito à "protecção" e à "misercórdia".
Mal o Sol desponte transitarão da sua condição de com-abrigo em precária, de novo para a condição de sem-abrigo em solitária.
E nós vamos continuar a assobiar para o lado quando tropeçarmos num destes corpos embrulhados numa caixa de cartão no meio da rua e haverá sempre uma alma misericordiosa que, quando o mercúrio dos termómetros baixar para níveis considerados de alarme, os vai proteger civilmente para evitar o seu congelamento.

2012/02/02

E a Grécia aqui tão perto...(2)

Theo Angelopoulos, recentemente falecido (1935-2012), foi certamente o mais importante cineasta grego do século passado. Dele, poucos filmes foram distribuidos em Portugal e não consta que a Cinemateca Portuguesa lhe tenha dedicado algum ciclo em vida. Tal lacuna será, este fim-de-semana, parcialmente colmatada pela Medeia Filmes em Lisboa.
Associando-se às inúmeras homenagens que, um pouco por todo o Mundo, começam a surgir, o cinema Nimas programou para os dias 3, 4 e 5 de Fevereiro, um curto ciclo das obras mais recentes do realizador. Todos os filmes foram distribuidos em Portugal e poderão ser vistos cronologicamente: "O passo suspenso da cegonha" (1991); "O olhar de Ulisses" (1995); "A eternidade e um dia"(1998) e "A poeira do tempo" (2009).
Para quem não viu os filmes (ou deseja revê-los) eis uma excelente oportunidade de conhecer este cineasta de excepção, cuja obra ancora na tradição da grande cultura clássica europeia. Um "must".