2009/09/24

Um marco histórico

De acordo com as últimas notícias, o Ministério da Justiça anunciou já não existirem em Portugal reclusos alojados em celas com balde higiénico, vulgo "balde de merda". Certamente um argumento de monta para a campanha eleitoral do partido do "choque tecnológico". Ou, como diria o outro: "Um pequeno passo na história da humanidade, um grande passo na história de Portugal"...

2009/09/22

Parelhas cómicas

A parelha cómica é um clássico da comédia. Trata-se de uma fórmula que terá talvez origem na tradição da parelha de palhaços do circo. Parelhas famosas foram Bucha (Hardy) e Estica (Laurel), Abbott e Costello, Martin e Lewis, French e Saunders.
Há parelhas cómicas feitas de actores de carne e osso ou de figuras de desenho animado, compostas de homens ou de mulheres, por vezes com mais um ou dois personagens para baralhar o esquema. E não nos esqueçamos do ventríloquo, uma variação a solo da parelha cómica em que um mesmo actor actua a duas vozes.
E qual é a "fórmula" da parelha cómica para nos fazer rir? Uma relação desigual entre os dois personagens, com comportamentos e personalidades deliberadamente contrastantes. Um (o palhaço rico), o sisudo e ajuizado, vestido de lantejolas, provoca o outro (o palhaço pobre), o pateta, vestido de modo mais trapalhão, aquele a quem sucedem os episódios ridículos, que tropeça e se estatela, enquanto o sisudo remata, grave, um qualquer disparate a fingir que é sério.
Ao longo da história do espetáculo têm surgido inúmeras parelhas cómicas e variações destas que têm um único objectivo: criar uma tensão artificial com o objectivo de nos fazer rir.
A parelha cómica, não o esqueçamos, é apenas um artifício. Na realidade, embora até possa existir rivalidade real entre os personagens, a parelha cómica não passa de um expediente técnico usado para criar uma tensão fingida.
O problema das escutas em Belém e a "crise" que suscitou faz-me lembrar esta coisa das parelhas cómicas. Os actores são sem dúvida maus, estamos longe de perceber quem é o palhaço rico e o palhaço pobre, mas o artifício da parelha cómica está lá.
Quase certamente que estamos perante um caso de papéis intermutáveis conforme as circunstâncias e as necessidades. De fora está, definitivamente, a líder do PSD, partenaire de uma outra dupla com o ventríloquo Cavaco, parelha que está agora defintivamente posta em causa.
Certamente vexados pelo êxito da SIC com o programa dos "Gato Fedorento", o senhor Presidente da República e o senhor Pimeiro Ministro decidiram lançar um produto para competir com esta fórmula de (aparente) sucesso, sublinhando a tendência destas eleições de levar o "debate" político para o terreno da comédia...

Garganta Profunda

A demissão de Fernando Lima poderá ter resolvido um problema a Cavaco Silva, mas não explica os verdadeiros motivos da conversa do seu principal assessor com um jornalista do "Público". Foi, ou não, Lima mandatário de outrém e, se foi, quem tinha interesse em fazer circular a notícia das "escutas" em Belém? Alguém de Belém (outro assessor) ou alguém do exterior, para dessa forma tentar culpabilizar o Governo? Cavaco prometeu falar depois da campanha. Entretanto, o presidente, mandou "matar" o mensageiro, o que não contribui para o esclarecimento do caso. Se não estamos perante um "mal-entendido", como querem fazer crer alguns comentadores da nossa praça, poderemos estar perante um caso muito mais grave que indicia a degeneração do próprio sistema político e dos seus principais actores. Sabemos, de outras paragens, que a cultura de "omertá" esteve na origem da república dos juízes. Já estivemos mais longe.