2022/05/25

Da Guerra (das guerras...)

Passaram três meses sobre o início da guerra na Ucrânia e não se vê fim à vista. Pior, muitos analistas e estrategas destas coisas, pensam, inclusive, que o conflito pode durar semanas, meses ou até anos... Uma catástrofe de dimensões incalculáveis. Independentemente do resultado final ("vitória" de um dos lados, impasse no avanço das tropas no terreno ou um acordo tácito, para evitar perdas maiores e salvar, de alguma forma, a "face") todas as opções estão, neste momento, em aberto. 

Ainda que soubéssemos que, numa guerra (qualquer guerra!), "a primeira vítima é sempre a verdade", não podemos deixar de criticar a forma acéfala, como a maioria da Comunicação Social em Portugal (há excepções, claro) acompanha o conflito. Desde logo, na falta de imagens da guerra real (não há "acompanhamento" da maior parte das acções militares, por parte de jornalistas, como nas guerras do Golfo, por exemplo...) e, depois, pela impossibilidade de verificar os dados apresentados por Moscovo e por Kiev. Uns, não fornecem dados (quantos mortos, quantas perdas de material, etc...); e outros, dão dados sobre as perdas do inimigo o que, não sendo uma originalidade, é sempre difícil de confirmar. A acreditar em organismos de estratégia militar no Ocidente (UK, EUA), haverá hoje cerca de 300 000 soldados a combater (mais ou menos, 150 000 de cada lado). Desse total, já teriam perecido cerca de 10% dos combatentes. Ou seja, a acreditar nesta estimativa, terão perecido cerca de 30 000 soldados russos e ucranianos, até este momento (por comparação, 3 vezes mais do que soldados portugueses na guerra colonial, que durou 13 anos!). Não estão aqui contabilizados os civis de ambos os lados (dezenas de milhar?), as perdas materiais (tanques, canhões, carros de combate, aviões, helicópteros...) e, claro está, o património destruído (cidades inteiras), avaliado em milhares de milhões de euros! Finda a guerra, a "reconstrução" exigirá um novo "Plano Marshall" (palavras dos dirigentes da UE) que ninguém saberá ainda quanto custará e quem irá pagar. Os "empreiteiros" do costume, já estão na fila, para os chorudos contratos.

Para o bem e para o mal, a Ucrânia e a Rússia, vão continuar no mesmo sítio e a ter de partilhar fronteiras. Obviamente que só negociações poderão conduzir a um "status-quo" aceite pelas partes beligerantes, com concessões de ambos os lados. A não acontecer isso, todos sairemos pior no fim desta tragédia: desde logo o povo ucraniano (a principal vítima); a Rússia (metida num beco sem saída, que conduzirá ao seu isolamento internacional); e, finalmente, a Europa (leia-se UE) que, sem exército próprio e no meio de uma crise económica (inflação) e energética (dependência da Rússia), sairá sempre prejudicada e mais dependente deste conflito. A única grande potência ganhadora é, neste momento, os EUA (que vende armas, petróleo, gás e cereais à Europa) sem dar um tiro, ou sacrificar homens no terreno. Grande negócio. Tudo, em nome da "democracia", claro está. Ou seja, três "blocos" políticos em crise, que lutam entre si por um lugar entre as grandes potências, nesta guerra pelo controlo geoestratégico das riquezas do planeta. Enquanto isso, a China, a única potência verdadeiramente emergente, parece não tomar posição, num silêncio ensurdecedor, que vale mais do que mil palavras. 

Resta Portugal, um país periférico, sem política externa, sempre a reboque das decisões tomadas em Bruxelas e Washington, sejam estas boas para o país ou não. Neste quadro e na tentativa de mostrar "serviço", a visita de Costa a Kiev - para mais com promessas de ajuda de 250 milhões de euros (empréstimo, doação?) à Ucrânia, quando em Portugal não há médicos de família para 1 milhão de portugueses, onde 2 milhões de cidadãos vivem com 540 euros por mês e não existe habitação condigna para dezenas de milhares de habitantes - foi lamentável. Por outro lado, o ministro Cravinho (outra desilusão) veio confirmar a intenção de Portugal aumentar para 2%, a sua contribuição para a NATO: qualquer coisa como 4000 milhões de euros do PIB. Isto para não falar sobre a sua declaração de se opor à venda do clube Chelsea (do Chelsea?), como parte das sanções aos oligarcas russos (!?). É pena haver sempre dinheiro para a guerra (armamento) e "nunca haver dinheiro" para a saúde, a educação ou a habitação em Portugal. Uns tristes, estes políticos que nos governam. 

Sim, a guerra, continua a ser um bom negócio. Principalmente para quem decide, mas não combate, ao contrário dos que combatem, mas não podem decidir.