2010/12/04

Do caciquismo em todo o seu esplendor

A César o que é de "César", deve ter pensado o presidente da região autónoma dos Açores que, num gesto filantrópico, resolveu isentar os funcionários públicos açoreanos da redução de vencimento a que todos os funcionários públicos deste país estão sujeitos. Já tinhamos o Jardim madeirense, a Felgueiras da vila homónima, o Ferreira do Marco, o Isaltino de Oeiras, só nos faltava mesmo um "César"...mas, esta gente não tem vergonha? E não há ninguém no governo que ponha ordem nesta bagunça em que o país se tornou?

2010/12/03

Da coerência do veto

Depois de ter vetado uma proposta para taxar os dividendos dos accionistas da PT no ano fiscal corrente, a bancada do PS prepara-se para vetar a proposta de aumento do salário mínimo para 500 euros. Não se pode dizer que esta bancada não seja coerente em vetar, tudo e o seu contrário...

2010/12/02

As presidenciais

Uma ideia que tem sido subtilmente repetida sobre a Presidência da República é a de que se trata de uma instituição com poderes precisos: um presidente não governa, promulga diplomas, corta umas fitas e tem uma vaga capacidade de intervenção. Em suma, serve para pouco. Podemos chamar-lhe a "teoria da rainha de Inglaterra".
Esta teoria tem um número que me parece crescente de seguidores e dá um jeitão aos proponentes da candidatura de Cavaco Silva. O candidato é fraquíssimo e ao apequenar as funções deste orgão de soberania, as capacidades do actual PR parecem, de repente, adequadas, isto é, se é para isto, o dr. Cavaco Silva, chega perfeitamente. Para fazer "nada" Cavaco Silva serve. Na verdade, como ele é "doutor" tem até qualificações de sobra... Podemos chama-lhe a "teoria do p'ra quem é..."
Há quem diga até que para cumprir estas funções, o PR poderia passar a ser eleito por colégio eleitoral e assim se poupavam uns milhares largos de euros em dispendiosos processos eleitorais. 
Desvalorizar o papel do Presidente da República é uma estratégia para tirar importância à importantíssima eleição que aí vem e fazer assim batota política. A desvergonha é tanta que os proponentes da tese da desvalorização não hesitam em queimar o actual PR nesta estratégia (levando o argumento até ao fim, pode-se dizer que o PR não vale nada e portanto Cavaco Silva está bem para a função...).
Por parte de Cavaco, a ambiçãozinha palonça de ser "presidente" fá-lo esquecer que, desta forma, vai sair de todo este processo com o pouco prestígio de que desfruta feito num molho de bróculos. 
Que os sectores mais retrógrados da sociedade portuguesa, partidários da teoria do "p'ra quem é", finjam  contentamento com tudo isto parece normal.
E, contudo, o medo das presidenciais é tanto que já ouvi apelos abertos à abstenção por parte dos defensores de Cavaco, mas pelos vistos fui só eu...
Que os sectores mais progressistas e esclarecidos embarquem, pareçam ignorar esta manobra e cheguem às mesmas conclusões que os reaccionários quanto ao interesse desta eleição, que não encontrem uma qualquer forma de convergência e se preparem para entregar de bandeja o cargo de PR a Cavaco Silva, já é coisa que me deixa profundamente incrédulo e triste. 

2010/12/01

Mais depressa se apanha um acariciado...

"Mais depressa se apanha um acariciado que um coxo", disse hoje à comunicação social a eurodeputada Ana Gomes, a propósito das revelações da Wikileaks que confirmam a utilização da base das Lajes por aviões com prisioneiros para Guantánamo. O "acariciado" em questão é o actual ministro dos negócios estrangeiros Luís Amado, que, durante a Comissão de Inquérito sobre os referidos voos, jurou a pés juntos que se demitiria caso se provassse que Portugal tinha autorizado a passagem de aviões da CIA com prisioneiros. Nessa altura, estávamos em 2006, a embaixada americana aconselhava o governo americano a "acariciar" o ministro, pois este estava sobre pressão da oposição e era necessário convencê-lo a dar autorização aos voos em questão. A história tem destas coisas...

2010/11/30

Cisma

 Independentemente de toda a retórica e teorias dos pitonizos e pitonizas da economia e da política cá do burgo, a realidade é esta: a emigração aumentou para níveis de há décadas, que julgávamos inatingíveis em democracia, voltámos à "sopa do Sidónio" com um vigor que julgávamos impossível de acontecer em democracia, o desemprego está a um nível que imaginaríamos impossível de atingir em democracia e os empregados, com empregos mais ou menos confortáveis, contribuintes do sistema de segurança social de há décadas, fazem hoje contas de cabeça para antecipar o mais rapidamente possível as suas reformas, como forma de minorar a irreversível perda da massa que andaram a descontar.
Esta é a realidade em toda a sua singeleza e crueza. Isto é o Portugal de hoje, o Portugal pós-25 de Abril, o Portugal da democracia. Como se não bastasse, sentimos de todos os lados a ameaça de que as coisas vão ainda piorar mais. A nossa paciência é para os donos do mundo um dado adquirido.
A isto chegámos por via da acção de gente que tem toda nome e cara (já se têm vergonha na dita é outra história) que continua a apresentar-se perante os portugueses como salvadora da Pátria. Sem eles, segundo nos querem fazer crer, seria o dilúvio.
Há quem insista em os considerar heróis, há quem os defenda acaloradamente contra toda a evidência, há quem lhes tenha dado o voto no passado e quem se prepare para lhes dar o voto no futuro.
Contra esta corrente, eu acho que aquela gente devia ser toda responsabilizada, que devia pagar pelo que fez. E acho que é tempo de profunda ruptura com o status quo e de um radicalmente novo desígnio. O que estamos a viver não presta.
Mais cedo ou mais tarde o cisma que se desenha vai ter de se materializar em actos. Se a democracia não conseguir dar resposta a isto, paciência... Não podemos é sustentar este estado de coisas mais tempo.

2010/11/29

Talvez o Wikileaks queira denunciar...

Se o Wikileaks quisesse publicar qualquer coisa sobre estas manobras de "diplomacia económica" que a Comissão Europeia anda a levar a cabo, estou certo que iria encontrar grande soma de material interessantíssimo.
Imagino o que se discute nos dias e os telegramas que correm nas chancelarias e gabinetes por essa Europa fora, a propósito do OE português... Imagino a quem isso causaria um "embaraço diplomático"...