2009/12/16

Poupadinhos

Certamente preocupada com a grave situação do país - quem não está? - a confederação dos patrões, com o inenarrável Van Zeller à cabeça, veio propôr um aumento de 10 euros para o salário mínimo nacional, em vez dos 25 euros anunciados pelo governo. A argumentação é a de que a maioria das pequenas e médias empresas - que constituem 80% do tecido empresarial português - não estariam em condições de pagar tal aumento.
Os sindicatos fizeram as contas e chegaram à conclusão que o aumento proposto pelo governo não atingia sequer 1% dos lucros globais gerados o que, traduzido em euros, daria qualquer coisa como 8 euros por cada 10.000 euros produzidos. Ou seja, "peanuts" em linguagem de hipermercado.
Resta, obviamente, uma questão: se os grandes hipermercados e distribuidores podem pagar os 25 euros propostos, o mesmo não será possível para a maioria das nano-micro-pequenas e médio-empresas deste país. Muito bem. Nesse caso, obrigue-se os bancos, muitos deles culpados da recente crise que a todos afecta e a quem o governo deu milhões de euros para "salvar" da bancarrota, a abrir linhas de crédito favoráveis à sustentabilidade das pequenas empresas. Para que, deste modo, estas não só garantam os postos de trabalho, como possam pagar o salário mínimo nacional proposto (475 euros) o que permitirá aos trabalhadores gastarem mais nas lojas do Belmiro de Azevedo. Desta forma, ganhavam todos, incluindo o poupadinho Van Zeller...

Irresponsabilidades

Se passassem a trabalhar 60 horas por semana, onde iriam os trabalhadores das grandes superfícies comerciais detidas por Belmiro Azevedo e Cia., arranjar tempo para gastar as fortunas monumentais que passariam a ganhar? Ou a ideia seria a de passarem a fazer as suas compras pessoais todas nessas superfícies, quiçá mesmo passar a dormir lá...?

2009/12/14

COP15 tem sucesso assegurado


A questão climatérica, que constitui o eixo da discussão que neste momento decorre em Copenhaga, sempre me suscitou muitas dúvidas. Aqui mesmo no Face exprimi há tempos umas ideias (de leigo!) sobre o assunto.
No geral, continuo a fazer parte do grupo dos cépticos, no que estou aliás estou bem acompanhado... Desde que escrevi aquele post não vejo razões para mudar radicalmente o meu pensamento sobre esta matéria. Concedo, apesar de tudo, que a acção humana pode ter alguma influência sobre estes fenómenos, sobretudo quando pensamos nas zonas de grande concentração urbana e de intensa actividade industrial, que certamente têm um impacto significativo no ambiente. Mas, olhando para a história das grandes "convulsões" ambientais do passado, no geral, continuo a pensar que, apesar de tudo e por simples exercício de lógica, que está por provar que a acção humana, por muita importância que tenha, tem dimensão suficiente para produzir as alterações pretendidas.
São opiniões de total leigo, mas mantenho-as.
Se, por um lado, não posso pois esperar grande coisa de Copenhaga, creio também, contudo, que esta reunião tem um mérito indesmentível.
Para aqueles de nós que crescemos empunhando a bandeira da ecologia, a indiferença foi um dos nossos piores inimigos. O outro inimigo, que nós próprios criámos, resultou do erro brutal de termos deixado que esta questão se tranformasse numa espécie de derby futebolístico, com "claques" de um lado e de outro.
O mérito e a vitória (já assegurada!) da COP15 reside no impulso decisivo que é dado ao problema ecológico, colocando-o no centro das nossas atenções ("Prestar atenção é, em si mesmo, ampliar" - Galileo's Dream, K. S. Robinson) e provando que ele é transversal, estruturante e que, de facto, nos diz respeito a todos. E mais! Longe de ser um problema fracturante, a questão ambiental é uma das poucas que, definitivamente, nos obriga a entendimentos e a uma acção concertada sobre o modelo de desenvolvimento humano que queremos para o futuro.
Não é questão de pouca monta...