2016/03/16

Quem condena quem?

A corrupção, que é endémica na sociedade brasileira (o país ocupa a 78ª posição no índice "transparency" da ONU), sempre existiu antes e durante o consulado do PT.
Lula, ao aceitar a nomeação para um cargo de super-ministro (mesmo que inocente das acusações que lhe são feitas), só fará aumentar as suspeitas existentes e não se libertará do cerco.
E isto é mau para a democracia.
O Brasil, como os restantes "BRICs", depois de uma década de crescimento económico sem paralelo na história, entrou numa crise profunda: social, económica, na inflação, no desemprego e, como sempre, na corrupção, que é hoje transversal a toda a sociedade.
Se Dilma for afastada por "impeachment", quem a vai substituir? O vice-presidente acusado, ele também, de corrupção? O presidente da Assembleia, o "maior" corrupto? E quem a vai julgar? Tribunais e juízes, provavelmente tão corruptos como os demais? Ou a polícia, conivente com o crime organizado, como é do conhecimento público?
Quem tem moral para condenar quem?
Este é, provavelmente, o maior dilema da sociedade brasileira, que deixou de acreditar em soluções democráticas. Ora, quando se deixa de acreditar nas instituições, abre-se caminho para outras "pulsações".
Estamos a assistir a uma situação, onde tudo se conjuga para a chamada "tempestade perfeita". Em tempo de crise moral e social, os apelos a soluções autoritárias, aumentam. É da história e já assistimos a este filme no passado.
Também eu quero acreditar, que o tempo dos "generais" já passou, mas o "populismo" (outra das características da América Latina) está ainda bem presente (ver países vizinhos onde a "democracia musculada" vai fazendo o seu caminho...)
As reacções da apelidada "classe média branca", vistas da Europa, parecem típicas de um grupo social descaracterizado e sem grande consciência social. Com medo do presente e sem alternativa política. Não se manifestavam há dois anos atrás, mas, agora, parecem ter todos "descoberto" a corrupção (!?). Uma fuga em frente?
Provavelmente, não sofrem tanto com a corrupção, como fazem crer (também eles beneficiam dos privilégios advindos das desigualdades, do racismo e da estratificação social existente naquele país).
Não tenho certezas. Temo o pior, mas quero acreditar que a democracia acabará por vencer.
Com eleições democráticas, claro.