O desemprego continua a aumentar e as contas públicas continuam a derrapar. Apesar deste duplo massacre a que os portugueses têm estado a ser sujeitos (verem a precariedade do emprego a aumentar em nome da resolução de um problema de défice que, contudo, se agrava) não se perspectiva qualquer solução para o País no horizonte.
Esta política está errada, baseia-se em contradições insanáveis e nunca poderia resultar. Só os estúpidos acreditam ainda nela.
Este é, seguramente, o governo mais incompetente desde o 25A. Incompetente na escolha das políticas e incompetente na sua execução. E dizer que este governo é o mais incompetente de todos é obra, porque já tivemos ao longo dos anos a nossa farta dose de governos incompetentes.
Este é também o governo que procura transformar a incompetência em fé. A ministra do vodoo, certamente depois da executar a dança apropriada, aceditava que a chuva acabaria por cair. Agora o secretário de estado do emprego acredita que o desemprego vai estabilizar. O primeiro ministro, recorde-se, acredita que a retoma está para breve.
O problema é que também há portugueses que acreditam. A fé, sabêmo-lo todos, move montanhas, mesmo contra a evidência dos resultados, mesmo que a montanha permaneça de facto imóvel há quem acredite que está a mover-se. Muitos portugueses acreditam que esta é a via certa. Passando ao lado de toda a experiência passada, apoiam este tipo de políticas. Contrariando as mais elementares normas de prudência e bom senso, que exigem no entanto dos outros, continuam a dar o seu precioso aval a este governo.
Está na hora de pedir contas a estes portugueses.
2012/08/31
2012/08/30
O pretor
Quando me lembro das intervenções de António Borges só me ocorrem palavrões. Não é nada de pessoal, claro, é tudo uma questão política. Nem conheço o cavalheiro. Será certamente produto da nossa melhor sociedade. Mas, considero que tudo o que se lhe chamar peca por defeito.
Eu não o conheço, nem ele a mim. Mas eu tenho (nós temos) de o gramar. Porquê?
Borges é uma espécie de pretor romano, mas ao contrário. Um pretor peregrino, daqueles que corre o império a impôr a ordem. Mas, em vez de subordinado ao cônsul, parece que o cônsul lhe está subordinado a ele. Aliás, pelos vistos, todos os cônsules parecem estar-lhe subordinados, já que não há limite para a amplitude da sua intervenção.
Borges corrige, decreta, sugere, anuncia, preconiza; não há dia que não apareça, não há ocasião que não aproveite para falar. Houve aquela dos salários, lembram-se? Caiu logo mal. Na verdade, o se pode esperar de uma criatura que aufere centenas de milhar de euros por mês e preconiza cortes nos salários dos outros?! Aqui há dias foi o célebre episódio da RTP. Hoje decretou que o programa da troika está a correr bem. Momentos antes o presidente da CIP tinha dito que estava a correr mal e que tinha de ser revisto. Borges acha que não, "está a correr bem, diga-se o que se disser:" Mais tarde veio assegurar que a retoma há-de vir, não se sabe é quando. Corrigiu o entusiasmo juvenil de Coelho no Pontal. Para ele, a retoma pode vir em 2012, 2013 ou 2014, nunca se sabe... O tempo, como sabemos depois de Einstein, é relativo.
Há um imenso rol de interrogações que a actuação de Borges suscita. Uma postura institucional e uma abrangência de actuação que não jogam com o cargo que desempenha. Um discurso que não casa com o "gancho" que arranjou.
Borges invoca a legitimidade democrática do governo para levar a cabo o seu programa de genocídio dos portugueses e venda a retalho do país. Não lhe ocorre referir que o programa eleitoral, com o qual o PSD se submeteu ao veredito do eleitorado, não coincide, nem sequer vagamente, com estes propósitos. Diz que a população "quer" esta mudança! Quer? E diz que há "interesses" que se levantam contra a acção do governo, que há gritaria (o PM chama-lhe histerismo). Há sempre interesses, há sempre contestação. Que interesses? Quem grita? Quem contesta? A CIP? A CGTP? Fala em legitimidade democrática, esta criatura que interfere na vida política portuguesa sem ter sido legitimado por ninguém.
Fala em verdade. Mas, a verdade é que ninguém sabe o que faz António Borges, dando ordens à porta da nossa casa; a verdade é que por mais que se procure a justificação para fazer o que faz, ou dizer sequer o que diz, não se encontra.
Pergunta um cidadão angustiado e desconhecedor dos bastidores da política, mas que exige transparência onde existem legítimas e fundadas suspeitas de que ela falta: quem raio é este cavalheiro e que interesses defende? Quem manda nele e em quem é que ele manda?
Eu não o conheço, nem ele a mim. Mas eu tenho (nós temos) de o gramar. Porquê?
Borges é uma espécie de pretor romano, mas ao contrário. Um pretor peregrino, daqueles que corre o império a impôr a ordem. Mas, em vez de subordinado ao cônsul, parece que o cônsul lhe está subordinado a ele. Aliás, pelos vistos, todos os cônsules parecem estar-lhe subordinados, já que não há limite para a amplitude da sua intervenção.
Borges corrige, decreta, sugere, anuncia, preconiza; não há dia que não apareça, não há ocasião que não aproveite para falar. Houve aquela dos salários, lembram-se? Caiu logo mal. Na verdade, o se pode esperar de uma criatura que aufere centenas de milhar de euros por mês e preconiza cortes nos salários dos outros?! Aqui há dias foi o célebre episódio da RTP. Hoje decretou que o programa da troika está a correr bem. Momentos antes o presidente da CIP tinha dito que estava a correr mal e que tinha de ser revisto. Borges acha que não, "está a correr bem, diga-se o que se disser:" Mais tarde veio assegurar que a retoma há-de vir, não se sabe é quando. Corrigiu o entusiasmo juvenil de Coelho no Pontal. Para ele, a retoma pode vir em 2012, 2013 ou 2014, nunca se sabe... O tempo, como sabemos depois de Einstein, é relativo.
Há um imenso rol de interrogações que a actuação de Borges suscita. Uma postura institucional e uma abrangência de actuação que não jogam com o cargo que desempenha. Um discurso que não casa com o "gancho" que arranjou.
Borges invoca a legitimidade democrática do governo para levar a cabo o seu programa de genocídio dos portugueses e venda a retalho do país. Não lhe ocorre referir que o programa eleitoral, com o qual o PSD se submeteu ao veredito do eleitorado, não coincide, nem sequer vagamente, com estes propósitos. Diz que a população "quer" esta mudança! Quer? E diz que há "interesses" que se levantam contra a acção do governo, que há gritaria (o PM chama-lhe histerismo). Há sempre interesses, há sempre contestação. Que interesses? Quem grita? Quem contesta? A CIP? A CGTP? Fala em legitimidade democrática, esta criatura que interfere na vida política portuguesa sem ter sido legitimado por ninguém.
Fala em verdade. Mas, a verdade é que ninguém sabe o que faz António Borges, dando ordens à porta da nossa casa; a verdade é que por mais que se procure a justificação para fazer o que faz, ou dizer sequer o que diz, não se encontra.
Pergunta um cidadão angustiado e desconhecedor dos bastidores da política, mas que exige transparência onde existem legítimas e fundadas suspeitas de que ela falta: quem raio é este cavalheiro e que interesses defende? Quem manda nele e em quem é que ele manda?
2012/08/28
Ladrão que rouba a ladrão...
De acordo com a imprensa, Albert Jaeger, cidadão austríaco e representante do FMI em Portugal, foi roubado no eléctrico 28, quando acompanhava um grupo de turistas ao Castelo de S. Jorge. Certamente, por desconhecerem a identidade do assaltado, os ladrões ousaram tal crime. Onde já se viu isto?
Uma angústia me assalta: despojado dos seus bens, como poderá sobreviver o senhor Jaeger?
2012/08/26
Ecce Homo
O polémico anúncio da privatização da RTP, a que António Borges chamou eufemisticamente "concessão", não é propriamente surpreendente pela intenção (o governo sempre o anunciou muito claramente desde que tomou posse), mas pelo modelo escolhido. Ao contrário de uma privatização, esta "concessão" pretende vender a RTP em "leasing", oferecendo 200 milhões ao potencial comprador, sem qualquer contrapartida.
As contas são fáceis de fazer: o estado garante ao comprador 150 milhões de taxa de utilizador (cobrados através da factura da EDP) mais 50 milhões de publicidade, para cobrir gastos calculados em 180 milhões. Ou seja, o privado que "comprar" a RTP, não só não paga nada pela televisão estatal, como ganha 20 milhões de bónus anualmente, por um período nunca inferior a 20 anos!
Dado que o inenarrável Relvas há muito perdeu qualquer réstia de respeitabilidade, Passos mandou o "respeitável" Borges dar a notícia; ou melhor, lançar o "balão de ensaio", sempre conveniente nestas decisões polémicas.
António Borges (não confundir com o cavaleiro olímpico do mesmo nome) é também proprietário de uma herdade em Alter do Cháo (a terra do cavalo lusitano), onde acumula com o lugar de presidente da assembleia municipal.
Mas, há mais: António Mendo de Castelo-Branco de Amaral Osório Borges (o nome é todo um programa) nasceu em 1949, tendo-se licenciado em Economia em 1972. Mudou-se para os Estados Unidos, em 1976, para fazer o mestrado e, posteriormente, o doutoramento em Stanford (1980). A partir daí, foi sempre a "subir": mudou-se, no mesmo ano, para França, como administrador do INSEAD e regressou a Lisboa para ser vice-governador do Banco de Portugal, entre 1990 e 1993. Novo regresso a França, desta vez como director do INSEAD, em 2000. Mais tarde, tornou-se vice-presidente do conselho administrativo da Goldman & Sachs International, em Londres, onde se manteve até 2008.
Passou ainda pelo Citybank, BNP Paribas, Petrogal, Sonae, Jerónimo Martins, Cimpor e Vista Alegre. Foi consultor do Departamento do Tesouro da EUA, da US Electric Power na OCDE e foi colaborador na criação da União Monetária Europeia.
Em 2010 foi nomeado director do Departamento Europeu do FMI, onde se manteria até à chegada da senhora Lagarde que, dizem as más-línguas, o teria despedido por não se enquadrar na filosofia da instituição...
Em 2011, foi nomeado por Passos Coelho para dirigir a equipa encarregada do dossier das privatizações junto da "troika". Nessa função, têm-se excedido no zelo profissional, não se coibindo em dar opiniões de um verdadeiro governante. Há até que lhe chame o 12º ministro. Em 2011, Borges ganhou 225.000 euros livres de impostos.
Ficou célebre pela frase: "Defendo que reduzir salários é uma urgência nacional".
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