2014/11/12

Esperteza Saloia



Lisboa está, definitivamente, na moda.
Não passa uma semana, sem que sejamos confrontados com artigos e reportagens elogiosas sobre a capital portuguesa em tudo o que é publicação estrangeira. Isto, para não falar nos prémios que anualmente são autorgados à excelência turística de Lisboa: pela localização, pela hospitalidade, pelos bairros históricos, pelo Fado, pelo eléctrico 28, pela gastronomia, por Pessoa e pelo pastel de nata. Ainda bem.
Depois dos anos cinzentos do antigo regime, onde tudo era proibido, incluindo pisar a relva dos jardins e beijar turistas no Rossio, os lisboetas libertaram-se e fizeram da sua cidade - certamente uma das mais bonitas do planeta - um lugar bastante mais aprazível para viver.
Pesem as dificuldades inerentes a uma cidade antiga de séculos, da estrutural falta de meios financeiros e da arquitectura "pato bravo", que por aí ainda pulula, a verdade é que a Lisboa de hoje é completamente diferente da Lisboa de há 40 anos. Para melhor.
Não é pois, de admirar, que, após um longo período de relativo "esquecimento" - quando Portugal não fazia parte das rotas turísticas, nem existiam voos e hotéis "low-cost" - o nosso país comece, agora, a ser "descoberto" por uma nova geração de viajantes os quais, para além da praia, também desejam conhecer outras culturas. Óptimo.
Acresce que, numa altura em que a crise social e económica se instalou definitivamente, depois de uma intervenção externa que nos vai custar décadas de recuperação, o país passou também a ser conhecido por outras razões, nomeadamente a de ser um país pobre, logo atractivo para especuladores e visitantes, por ser barato. É natural. 
É por isso que o actual governo criou o "golden card", um visto de residência para estrangeiros que invistam meio-milhão de euros no país (na compra de uma casa, por exemplo); e, agora, o famigerado "euro", com que o presidente da CML se propõe taxar todos os turistas que desembarquem na Portela e todos aqueles que em Lisboa queiram dormir...Para quem ficar mais de uma noite, há descontos a partir dos 7 euros (!?). A argumentação usada para tal despaupério, é que essas receitas extras vão permitir a recuperação de edifícios degradados da cidade, já que o governo faz o mesmo, no OE, através da apelidade "taxa verde", com o imposto sobre os combustíveis. Brilhante.
A imaginação desta gente, não tem, realmente limites...
Conheço dezenas de cidades capitais da Europa e não sei de nenhuma onde exista tal taxa. Dizem-me que em Itália (where else?) há cidades como Veneza, Florença e Roma, onde é cobrada uma taxa suplementar aos turistas estrangeiros (!?). É possível. Logo por azar, a Itália, um país que não prima propriamente pela transparência das suas práticas institucionais, como se depreende de uma rápida consulta ao índice sobre a corrupção publicado anualmente pelo PNUD.
Agora que Lisboa está, finalmente, na rota dos principais operadores turísiticos e cruzeiros internacionais, a Câmara Muncipal de Lisboa quer criar um imposto para os viajantes de avião e para quem queira pernoitar uma, ou mais noites, na cidade. E os portugueses, que vêm de fora? Ou os portugueses que têm de utilizar a Portela, mas depois viajam para Fornos de Algodres? E porque é que os estrangeiros devem pagar um preço diferente dos cidadãos nacionais? Só porque são estrangeiros?
Esta gente não se enxerga. O edil Costa deu mais um tiro no pé e ainda não percebeu que, desta forma, não atrai mais turistas para Lisboa, mas, simplesmente, dá uma má imagem da capital no estrangeiro. A polémica já começou e não é caso para menos. Uma desgraça, estes gestores da coisa pública. Imagine-se, quando chegarem ao governo...