2010/03/25

O crime compensa

Lê-se e não se acredita.
Ricardo Sá Fernandes (advogado) foi condenado a pagar 13.000 euros a Domingos Névoa (empresário) por ter chamado corruptor ao presidente da Bragaparques.
Névoa, que tentou corromper o irmão de Sá Fernandes, a troco de dezenas de milhares de euros (está gravado), teve de pagar pelo seu crime 5.000 euros. Grande negócio.
Digam lá se isto não dá vontade de rir?

2010/03/24

Sabem o que eu desejo às agências de rating?

O Rui Tavares chama a atenção hoje no Público sobre a nova emigração para o Brasil. É verdade, conheço alguns casos como os que ele descreve. Mais perturbante é a sua afirmação de que esta emigração vai ter novas tonalidades. Mais portugueses vão descobrir o Brasil. Serão mais e, sobretudo, mais cérebros e mais gente de iniciativa. Mais mulheres também, pelo que indicam outros dados disponíveis.
Uma dessas associações de indigentes a que chamam pomposamente "agência de rating" emitiu hoje um qualquer parecer sobre a economia portuguesa, baixando a nossa classificação. Os termos desse parecer são um insulto a todos os portugueses! A todos nós que trabalhamos e vivemos neste país, a todos nós que sentimos esta impotência que nos impede de fazer o que tem de ser feito, a todos nós que nos sentimos de mãos e pés atados para ultrapassar as nossas dificuldades, mas que teimamos em resolver os nossos próprios problemas, a todos nós que lutamos contra um sem número de dificuldades ridículas e espíritos tacanhos, a todos nós, em especial, os jovens, cujas esperanças são, tão depressa, levianamente levantadas, como, logo de seguida, levianamente destruídas, a todos nós, incluindo aqueles novos emigrantes que voltam a ter de colocar a mochila às costas e a calcorrear caminhos que julgávamos definitivamente intransitáveis.
Ouço e leio as "sentenças" dessas agências e não posso reprimir um sentimento de enorme revolta.
O governo toma, perante o nosso olhar quase (ou já?) complacente, medidas consideradas indispensáveis, com aquele ar de depois-de-mim-o-dilúvio --medidas que exigem o nosso sacrifício brutal, sem contrapartidas nenhumas--, para logo a seguir vermos o rating descer porque essas medidas são consideradas insuficientes. O PEC, dizem eles, não se debruça suficientemente sobre o crescimento da economia. Um PEC sem pica, dir-se-ia...
Aqui há dias, alguém cujo nome não consigo recordar, dizia, com razão, que mesmo que conseguíssemos cumprir todas as metas de correcção dos défices e reordenamento das contas públicas, era preciso que a nossa economia crescesse, porque há o "depois". Se, depois de tudo estar corrigido e saneado, continuarmos sem crescimento, voltamos ao mesmo. E para haver crescimento tem de haver trabalho, inovação, empenhamento e mobilização de todos.
No meio de tudo isto, olho à minha volta e vejo a esmagadora maioria dos meus concidadãos a derreter por aqui, inutilmente, a sua energia, à espera de um qualquer sinal, de um qualquer pretexto mobilizador para dar sentido a essa energia. "Just say the word" parecem dizer os portugueses...
Em contrapartida, constato que conseguimos o pleno: um governo surdo, capitulante e totalmente incapaz, uma oposição sem dimensão, entretida consigo própria e o olhar das agências de rating que preparam o terreno para sermos comidos vivos, ainda com mais voracidade. É este o preço irónico da condição de economia periférica: abrimos o apetite das economias centrais...
E metidos nesta embrulhada toda, estamos nós, os portugueses, vulgares, entalados entre uma indesejada delegação de competências e o garrote do usurário.
O PEC que os pariu a todos!

2010/03/22

Dignidades e recursos

Verdadeiramente insólito é o facto do Primeiro Ministro não ir à comissão de inquérito parlamentar sobre o negócio da compra da TVI, invocando, segundo o Público, a "defesa da dignidade do cargo" e fazendo acusações de tentativa de transformação do "Parlamento numa instância de recurso."
O senhor primeiro ministro está perante um duplo desafio, um desafio sério, perfeitamente à sua altura. Em primeiro lugar, ao recusar-se a falar perante um orgão de soberania no pleno exercício das suas competências, vai ter de desfazer perante os portugueses uma contradição: como é que concilia, ao exigir respeito pelo seu cargo, o respeito que é devido à AR, outro orgão de soberania. Em segundo lugar, como é que contraria a sensação, que todos nós passamos a ter, de que desta forma parece querer transformar-se, ele próprio, numa instância de recurso em relação à matéria que aquela comissão pretende legitimamente apreciar.