O que está a acontecer na China, a exemplo do que tinha acontecido em Atenas, devia fazer corar de vergonha alguns dos nossos atletas do desporto-rei, pagos a peso de ouro, além de outros para quem a "caminha" é o lugar possível.
Dos jornais de futebol, a que muita gente insiste em chamar desportivos, não vale a pena falar. Apesar da evidência, continuam a dedicar as suas capas a uma selecção de "ouro" que nunca ganhou nada.
Estamos a falar dos atletas portugueses para-olímpicos, de quem vamos sabendo que já ganharam 5 medalhas em Pequim. Eles são os verdadeiros heróis, neste país de vilões onde a Federação Portuguesa de Futebol exige 1500 euros a um jovem alemão para poder jogar no nosso campeonato amador. Haja vergonha!
2008/09/12
2008/09/10
Buraco Negro
No mesmo dia em que, na Suiça, centenas de cientistas portugueses integram a equipa internacional responsável por uma das mais espectaculares experiências da física contemporânea - a recriação, num túnel acelerador de partículas, dos primeiros momentos da humanidade - outras notícias (bem menos optimistas) sobre o nível de formação dos portugueses, passaram despercebidas nos meios de comunicação nacional.
Assim, e de acordo com o último relatório publicado pela OCDE, Portugal continua a ocupar um dos lugares mais baixos no "ranking" europeu de qualificações escolares:
Mais de 60% da mão-de-obra portuguesa não tem qualquer formação específica (atrás de nós, só a Turquia com 63%).
Apenas 13% da população portuguesa é licenciada (atrás de nós, só a Turquia com 10%).
Somente 28% da mão-de-obra portuguesa é qualificada (também aqui, só a Turquia tem menos: 25%).
Ou seja, em três dos indicadores mais importantes, ocupamos sistematicamente o penúltimo lugar entre mais de trinta países europeus escrutinados.
Se juntarmos a esta notícia, a do INE, que nos diz que 9% da população (cerca de 1 milhão de portugueses!) continua estruturalmente analfabeta e 48% é analfabeta funcional, isto após mais três décadas de democracia e mais de duas décadas de quadros comunitários de apoio, é caso para perguntar: como é isto possível?
Bem pode o governo do "engenheiro" continuar a oferecer computadores "magalhães" e simplificar os exames para melhorar as estatísticas. Perante esta dramática realidade, não há acelerador que resista ao negro do nosso túnel. Um verdadeiro buraco!
Assim, e de acordo com o último relatório publicado pela OCDE, Portugal continua a ocupar um dos lugares mais baixos no "ranking" europeu de qualificações escolares:
Mais de 60% da mão-de-obra portuguesa não tem qualquer formação específica (atrás de nós, só a Turquia com 63%).
Apenas 13% da população portuguesa é licenciada (atrás de nós, só a Turquia com 10%).
Somente 28% da mão-de-obra portuguesa é qualificada (também aqui, só a Turquia tem menos: 25%).
Ou seja, em três dos indicadores mais importantes, ocupamos sistematicamente o penúltimo lugar entre mais de trinta países europeus escrutinados.
Se juntarmos a esta notícia, a do INE, que nos diz que 9% da população (cerca de 1 milhão de portugueses!) continua estruturalmente analfabeta e 48% é analfabeta funcional, isto após mais três décadas de democracia e mais de duas décadas de quadros comunitários de apoio, é caso para perguntar: como é isto possível?
Bem pode o governo do "engenheiro" continuar a oferecer computadores "magalhães" e simplificar os exames para melhorar as estatísticas. Perante esta dramática realidade, não há acelerador que resista ao negro do nosso túnel. Um verdadeiro buraco!
2008/09/09
Protões à solta daqui a pouco na Suiça!
É desta que o Large Hadron Collider (LHC) , o super acelerador de partículas, vai começar a funcionar. Daqui a pouco, pelas 3.30h (suponho que hora da Europa Central), os primeiros protões vão ser lançados no túnel do acelerador a velocidades muito próximas das da luz. Por agora vão apenas circular para aquecer. Mais tarde dar-se-á a colisão. Das duas uma: ou acaba o mundo, engolido por um qualquer fenómeno provocado pela zanga dos deuses que não suportam que se brinque com as suas prerrogativas, ou então, como diz o director-geral do CERN, Robert Aymar "qualquer sugestão de que possa constituir um risco é pura ficção." A hipótese de se gerar um buraco negro ou outra coisa ainda mais medonha não passará portanto de especulação...
Eu sei que "protões" lançaria de bom grado, a velocidades próximas da da luz, por estes túneis do Hadron, até à colisão fatal. Mas, não digo!
Por agora fiquemos com os factos...
O LHC foi concebido para acelerar protões que irão gerar uma energia da ordem dos 7.000.000.000.000 electrões-volt. Estamos perante um projecto que dura há vinte anos e custou a módica quantia de 8 mil milhões de dólares. Nele trabalharam mais de 7.000 físicos de 80 nações. O túnel do LHC --com tamanho suficiente para nele poder passar um comboio-- tem 27 quilómetros de perímetro e está a 175 metros da superfície. As temperaturas geradas serão um milhão (um milhão!) de vezes mais altas que o núcleo do Sol. Os ímanes supercondutores que balizam o percurso das partículas lançadas a velocidades próximas da velocidade da luz são arrefecidos a temperaturas mais baixas que as que se verificam no espaço (-193.2º C).
Eu sei que "protões" lançaria de bom grado, a velocidades próximas da da luz, por estes túneis do Hadron, até à colisão fatal. Mas, não digo!
Por agora fiquemos com os factos...
O LHC foi concebido para acelerar protões que irão gerar uma energia da ordem dos 7.000.000.000.000 electrões-volt. Estamos perante um projecto que dura há vinte anos e custou a módica quantia de 8 mil milhões de dólares. Nele trabalharam mais de 7.000 físicos de 80 nações. O túnel do LHC --com tamanho suficiente para nele poder passar um comboio-- tem 27 quilómetros de perímetro e está a 175 metros da superfície. As temperaturas geradas serão um milhão (um milhão!) de vezes mais altas que o núcleo do Sol. Os ímanes supercondutores que balizam o percurso das partículas lançadas a velocidades próximas da velocidade da luz são arrefecidos a temperaturas mais baixas que as que se verificam no espaço (-193.2º C).
O "espetáculo" poderá ser visto em http://webcast.cern.ch/ para quem gostar de emoções fortes. Será, seguramente, bem mais excitante que o discurso de encerramento da "universidade de verão do PSD" pela dra. Manuela Ferreira Leite...
(a imagem é do CERN)
2008/09/07
O tigre de papel
A América está a mudar? Vai mudar? Já mudou? Ou nunca mudou? Em véspera de eleições americanas, numa altura em que se ouvem cidadãos de outros países, que não têm direito a voto na América e que, se calhar, nem votam nos seus próprios países, proclamarem a sua preferência por este ou por aquele candidato, ou zurzirem no candidato que, no seu entender, não corresponde às suas simpatias ideológicas, surgem sinais de que as coisas na América já não são o que foram. Talvez nunca mais voltem a ser o que foram. Talvez mesmo nunca tenham sido aquilo que a gente pensa que foram....!
Entre as notícias sobre vices com mais ou menos viço, surgiram recentemente outras dando conta da preocupação de diversos analistas sobre o declínio da capacidade de inovação da sociedade americana. Embora alguns sectores ponham em causa a legimtimidade destas preocupações, o certo é que há diversos factos objectivos que demonstram que os E.U. estão hoje longe de ser o país onde reside a força que faz mover as rodas do progresso. As vozes que proclamam a sua preocupação sobre o que chamam de "défice de inovação" na América multiplicam-se.
Interessante nesta matéria um recente artigo do NYT sobre um livro há pouco publicado de autoria de Judy Estrin, uma dessas vozes críticas, chamado "Closing the Innovation Gap". É desse artigo que retirei a maior parte dos dados que cito aqui. Os cépticos dizem que não, que os E.U. mantêm uma liderança inquestionável em matéria de ciência e inovação. 40% do total dispendido no mundo na área da ciência provém da América. 70% dos prémios Nobel são americanos. A América tem 75% das 40 melhores universidades do mundo. Mas, a história pode não ser bem assim. A liderança dos E.U. em matéria de ciência e inovação é conseguida à custa de conhecimentos e tecnologias desenvolvidos há décadas. O que acontecerá quando o efeito se esgotar? A verdade é que, como diz um relatório encomendado pelo Congresso norte-americano, o financiamento em áreas como a física, por exemplo, era 40% inferior em 2004 ao que se verificava em 1976 e que 93% dos alunos entre o 5º e o 8º ano aprendiam ciência de professores sem as necessárias qualificações.
A actual liderança parece, pois, estar baseada numa estrutura montada há décadas, cujos efeitos se fazem agora sentir. Essa estrutura afigura-se não estar a ser sustentada e assim os americanos parecem começar a sentir uma mudança nos eixos do progresso científico, que agora parecem inclinar-se mais para os lados da China e da Índia. 30 a 40% dos graduados das universidades chinesas e indianas têm títulos na área das engenharias, contra os 5% dos graduados americanos. Mais: 60% dos títulos das universidades americanas são atribuídos a estudantes de outros países que não ficam na América a trabalhar, uma vez que a dinâmica económica americana não se compara com a desses países.
"Neste momento o país parece estar num lento declínio -nas suas infraestructuras, na investigação básica, na educação- lento suficientemente para nos levar a pensar que temos todo o tempo do mundo para andar a brincar em Tbilisi, Georgia, mais do que em Atlanta, Georgia," escreve Thomas L. Friedman, também nas páginas do NYT, a propósito do investimento americano de mil milhões de dólares para reconstruir a Georgia depois do conflito com a Rússia.
A internet é um exemplo interessante e talvez paradigmático. Trata-se de uma criação americana dos anos 70. O tráfego de dados na internet passou durante estas três primeiras décadas de existência pelos E.U.. Até o tráfego nacional de dados, num qualquer país com a sua própria rede, passava pelos servidores americanos. A falta de investimento em infraestruturas modernas e problemas de segurança têm levado grandes regiões económicas como o Canadá, a Europa e o Japão a criar as suas próprias redes e a curto-circuitarem as redes americanas. Os E.U. assistem hoje a uma mudança nos fluxos do tráfego de dados, com claros efeitos na sua economia e até na sua segurança. Cito de um outro artigo do NYT de que me socorro para alinhavar estas notas, Yochai Benkler, director adjunto do Berkman Center for Internet and Society at Harvard, que diz, relativamente ao esforço que neste domínio tem sido feito por países como a China e a Índia, o seguinte: “nós, por comparação, estamos militarmente mais fracos, economicamente mais pobres e tecnologicamente menos inovadores do que éramos. Ainda somos um parceiro maior, mas já não somos nós a controlar."
Mas, será que alguma vez os E.U. estiveram, verdadeiramente, a controlar? Será que se pode falar, verdadeiramente, de inovação no caso dos Estados Unidos? Ou será que outros factores entraram em jogo para conferir a este país a sua hegemonia tecnológica? Não serão antes o bloqueio mental e o preconceito europeus os factores decisivos que contribuíram para dar aos E.U. essa sua vantagem? A inovação americana começou por assentar basicamente em conhecimentos desenvolvidos e em massa crítica existente noutras paragens. Onde estaria ela, a inovação americana, sem os Von Braun e os Von Neumman made in Europe? E teria, por seu turno, Turing tido o fim que acabou por ter se não fosse o preconceito e a estreiteza de horizontes dos ingleses?
Esgotado que está o efeito desse período inovador, não podendo continuar a atrair e a manter os actuais e futuros Von Braun e os Von Neumman, se calhar não é só o domínio do tráfego da internet que os E. U. vão perder. O que constitui uma boa nova para o mundo.
Já agora, uma pergunta: enquanto os E.U. andam entretidos a resolver o problema das hipotecas nacionalizando o Fannie Mae e o Freddie Mac, alguém quer aproveitar esta "nova oportunidade", ou vamos já começar a prestar vassalagem ao novo líder antes de o ser?
Entre as notícias sobre vices com mais ou menos viço, surgiram recentemente outras dando conta da preocupação de diversos analistas sobre o declínio da capacidade de inovação da sociedade americana. Embora alguns sectores ponham em causa a legimtimidade destas preocupações, o certo é que há diversos factos objectivos que demonstram que os E.U. estão hoje longe de ser o país onde reside a força que faz mover as rodas do progresso. As vozes que proclamam a sua preocupação sobre o que chamam de "défice de inovação" na América multiplicam-se.
Interessante nesta matéria um recente artigo do NYT sobre um livro há pouco publicado de autoria de Judy Estrin, uma dessas vozes críticas, chamado "Closing the Innovation Gap". É desse artigo que retirei a maior parte dos dados que cito aqui. Os cépticos dizem que não, que os E.U. mantêm uma liderança inquestionável em matéria de ciência e inovação. 40% do total dispendido no mundo na área da ciência provém da América. 70% dos prémios Nobel são americanos. A América tem 75% das 40 melhores universidades do mundo. Mas, a história pode não ser bem assim. A liderança dos E.U. em matéria de ciência e inovação é conseguida à custa de conhecimentos e tecnologias desenvolvidos há décadas. O que acontecerá quando o efeito se esgotar? A verdade é que, como diz um relatório encomendado pelo Congresso norte-americano, o financiamento em áreas como a física, por exemplo, era 40% inferior em 2004 ao que se verificava em 1976 e que 93% dos alunos entre o 5º e o 8º ano aprendiam ciência de professores sem as necessárias qualificações.
A actual liderança parece, pois, estar baseada numa estrutura montada há décadas, cujos efeitos se fazem agora sentir. Essa estrutura afigura-se não estar a ser sustentada e assim os americanos parecem começar a sentir uma mudança nos eixos do progresso científico, que agora parecem inclinar-se mais para os lados da China e da Índia. 30 a 40% dos graduados das universidades chinesas e indianas têm títulos na área das engenharias, contra os 5% dos graduados americanos. Mais: 60% dos títulos das universidades americanas são atribuídos a estudantes de outros países que não ficam na América a trabalhar, uma vez que a dinâmica económica americana não se compara com a desses países.
"Neste momento o país parece estar num lento declínio -nas suas infraestructuras, na investigação básica, na educação- lento suficientemente para nos levar a pensar que temos todo o tempo do mundo para andar a brincar em Tbilisi, Georgia, mais do que em Atlanta, Georgia," escreve Thomas L. Friedman, também nas páginas do NYT, a propósito do investimento americano de mil milhões de dólares para reconstruir a Georgia depois do conflito com a Rússia.
A internet é um exemplo interessante e talvez paradigmático. Trata-se de uma criação americana dos anos 70. O tráfego de dados na internet passou durante estas três primeiras décadas de existência pelos E.U.. Até o tráfego nacional de dados, num qualquer país com a sua própria rede, passava pelos servidores americanos. A falta de investimento em infraestruturas modernas e problemas de segurança têm levado grandes regiões económicas como o Canadá, a Europa e o Japão a criar as suas próprias redes e a curto-circuitarem as redes americanas. Os E.U. assistem hoje a uma mudança nos fluxos do tráfego de dados, com claros efeitos na sua economia e até na sua segurança. Cito de um outro artigo do NYT de que me socorro para alinhavar estas notas, Yochai Benkler, director adjunto do Berkman Center for Internet and Society at Harvard, que diz, relativamente ao esforço que neste domínio tem sido feito por países como a China e a Índia, o seguinte: “nós, por comparação, estamos militarmente mais fracos, economicamente mais pobres e tecnologicamente menos inovadores do que éramos. Ainda somos um parceiro maior, mas já não somos nós a controlar."
Mas, será que alguma vez os E.U. estiveram, verdadeiramente, a controlar? Será que se pode falar, verdadeiramente, de inovação no caso dos Estados Unidos? Ou será que outros factores entraram em jogo para conferir a este país a sua hegemonia tecnológica? Não serão antes o bloqueio mental e o preconceito europeus os factores decisivos que contribuíram para dar aos E.U. essa sua vantagem? A inovação americana começou por assentar basicamente em conhecimentos desenvolvidos e em massa crítica existente noutras paragens. Onde estaria ela, a inovação americana, sem os Von Braun e os Von Neumman made in Europe? E teria, por seu turno, Turing tido o fim que acabou por ter se não fosse o preconceito e a estreiteza de horizontes dos ingleses?
Esgotado que está o efeito desse período inovador, não podendo continuar a atrair e a manter os actuais e futuros Von Braun e os Von Neumman, se calhar não é só o domínio do tráfego da internet que os E. U. vão perder. O que constitui uma boa nova para o mundo.
Já agora, uma pergunta: enquanto os E.U. andam entretidos a resolver o problema das hipotecas nacionalizando o Fannie Mae e o Freddie Mac, alguém quer aproveitar esta "nova oportunidade", ou vamos já começar a prestar vassalagem ao novo líder antes de o ser?
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